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Em 16 anos de lei Maria da Penha, mulheres se sentem mais seguras, mas luta contra violência persiste

Legislação representa avanços, mas vítimas de agressões ainda relatam receio e discriminação para fazer denúncias

Cidades|Isabelle Amaral*, do R7

Lei Maria da Penha completa 16 anos, mas mulheres ainda têm dificuldade para denunciar
Lei Maria da Penha completa 16 anos, mas mulheres ainda têm dificuldade para denunciar Lei Maria da Penha completa 16 anos, mas mulheres ainda têm dificuldade para denunciar

A lei Maria da Penha, que completa 16 anos neste domingo (7), passou por diversos avanços e alterações nesse período. Apesar de representar um marco para a efetividade da segurança e do direito da mulher, denunciar casos de violência, para muitas, ainda é um momento de dificuldade e um motivo de discriminação.

"Pensei mil vezes antes de denunciar meu marido, não só pelos meus filhos que sofreriam com isso, mas por imaginar o que as pessoas falariam, seria o de sempre: 'denuncia e logo está com ele de volta'", diz ela. "Apesar de ter recebido apoio para ir à delegacia, de saber que tem uma lei que me protege, eu era casada, mãe, precisava acreditar na mudança, até o ponto que eu achei que ele fosse me matar", disse ao R7 uma recepcionista e moradora da Favela do Pó, na zona norte de São Paulo, que preferiu não ser identificada.

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A mulher afirma que viveu com o marido por mais de dez anos e, por pelo menos oito ele a agrediu. "Não era todos os dias, tinha vezes que eu achava que ele tinha melhorado, mas logo ele voltava a fazer de novo", relatou. A última vez, para a recepcionista, foi "a gota d'água". Segundo ela, o homem quebrou uma cadeira na cabeça dela, momento em que o filho mais velho, de nove anos, tentou intervir e também foi agredido.

Dois dias após o ocorrido e depois de refletir sobre o que havia lhe acontecido, observando as marcas deixadas pelo corpo por conta das agressões, a mulher chamou uma colega, que também havia enfrentado um episódio de violência doméstica, e decidiu ir à delegacia denunciar o ex-marido. Lá, ela conseguiu uma medida protetiva contra ele.

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Somente em junho desse ano, 3.464 ocorrências foram registradas por lesão corporal dolosa contra as mulheres em todo o estado de São Paulo. O número de boletins de ocorrência por ameaça é ainda maior, de 4.639, segundo informações da Secretaria de Segurança Pública.

De acordo com a advogada e fundadora da Escola Brasileira de Direitos das Mulheres, Mariana Tripode, as medidas protetivas são consideradas um dos principais avanços proporcionados pela lei Maria da Penha. O reconhecimento de crime de violência psicológica, bem como a assistência psicológica, social, jurídica e médica também fazem parte da conquista obtidas com a lei.

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"Os 16 anos da lei Maria da Penha são um marco que representa a liberdade que as mulheres têm hoje de poderem denunciar os agressores e saírem de relações abusivas com assistência", afirmou a advogada.

O que a lei significa para as vítimas?

"Queria que a lei Maria da Penha colocasse mais medo nesses agressores", o desejo da recepcionista, entrevistada pela reportagem, reflete o de outras vítimas que viveram experiências semelhantes às dela. Esse sentimento tem relação com o elevado número de denúncias e diversos casos noticiados constantemente sobre agressões contra mulher, seja em casa ou fora dela.

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Em junho, o caso de uma procuradora que foi brutalmente agredida por um colega de trabalho repercutiu. O homem, que também era procurador na prefeitura de Registro (SP) não se importou com a presença de outros funcionários na sala. Transtornado após saber de uma denúncia que ela havia feito sobre o compartamento dele, o agressor impediu qualquer pessoa de tentar defendê-la.

Na última semana, uma mulher foi encontrada espancada em frente ao condomínio da mãe, no Guarujá, litoral de São Paulo. Ela precisou ser internada e está em estado grave. O namorado chegou a confessar o crime para uma tia. "Eu sempre peço perdão a Deus por ter acontecido isso, mas não sou um monstro. Eu errei, mas nunca a abandonei. Estou orando muito por ela", disse o suspeito, que está foragido.

A advogada especialista em questões de gênero Marina Ruzzi explica que, apesar da lei, a luta contra a violência é constante. "Temos leis penais que servem para punir, em alguns casos até severamente as pessoas que as descumprem, como o tráfico de drogas, ou até mesmo homicídio, e a gente segue vendo casos em que são cometidos esses crimes. No caso da lei Maria da Penha é a mesma coisa", exemplificou.

Para ela, a solução, buscada cada vez mais pelos profissionais de direito, é garantir condições materiais para que as vítimas consigam romper o ciclo da violência de gênero. Mas, mais do que isso, é, também, garantir que os agressores sejam conscientizados e responsabilizados. "Temos a capacitação de serviços da rede de enfrentamento para eles terem sensibilização de gênero e temos que criar políticas para que eles discutam sua própria masculinidade e as questões da violência. A medida penalizante tem um alcance até certo ponto", concluiu a advogada.

*Estagiária sob supervisão de Fabíola Perez

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