Helicóptero é umas das 'armas' mais poderosas do crime organizado
Possibilidade de voar em alturas mais baixas para fugir da fiscalização dos radares seria seu principal atrativo
Cidades|Márcio Neves, do R7
O helicóptero está se tornando uma das principais armas do tráfico. O envolvimento de um piloto de helicóptero na morte de Gegê do Mangue chamou atenção para o uso da aeronave pelos traficantes.
Os casos de apreensão de entorpecentes em helicópteros vêm se tornando cada vez mais comuns.O próprio piloto envolvido no caso de Gegê do Mangue já havia sido preso em diversos locais do paístransportando drogas em helicópteros.
Segundo especialistas procurados pelo R7, a possibilidade de voar em alturas que impossibilitem a identificação nos radares e o preço mais acessível de alguns modelos são fatores que colaboram na opção da aeronave por traficantes.
Helicópteros como o modelo Robinson R-44, apreendido em um dos voos do piloto Felipe Ramos, suspeito de envolvimento na morte do traficante Gegê do Mangue, custa a partir de R$350 mil.
“O helicóptero, diferente de um avião, tem ainda a versatilidade de poder pousar em qualquer lugar e sem exigir uma estrutura como uma pista ou equipamentos, qualquer lugar que seja maior que o diâmetro das hélices serve”, explica Fernando Catalano, professor de Engenharia Aeronáutica da Universidade de São Carlos.
Oficiais da Força Aérea Brasileira consultados pela reportagem também afirmaram que em algumas regiões do Brasil, inclusive em áreas de fronteiras, os radares dificilmente conseguiriam identificar uma aeronave voando abaixo de 200 metros.“Como uma aeronave desta pode pousar praticamente em qualquer lugar, e é fácil de ser escondido, acaba se tornando uma ferramenta atrativa para o transporte de ilícitos”, explicou um desses militares.
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A altura mínima prevista nas “regras e procedimentos especiais de tráfego aéreo para helicópteros da Força Aérea Brasileira” é de 152 metros em relação ao obstáculo mais alto em uma distância de 600 metros. Na aviação comercial, um helicóptero pode voar a 180 metros em lugares urbanos e 100 no mar ou na mata.
O especialista Fernando Catalano lembra ainda que é preciso um piloto experiente. "Não é qualquer um que pilota um helicóptero. O planejamento do voo também precisa ser bem feito”, afirma.
Outros casos
Em 2013, a família Perrella, do senador Zezé Perrella e seu filho Gustavo, se envolveu num caso que chamou a atenção da opinião pública. Um helicóptero que pertencia a uma das empresas de Gustavo Perrella, empresário e também político, foi flagrado pela Polícia Federal, no Espírito Santo, transportando quase meia tonelada de cocaína.
Quatro pessoas foram presas na ocasião, quando também foi apreendida uma quantia de R$ 18 mil em dinheiro. O helicóptero dos Perrella era um Robinson R-66, modelo muito parecido com o que é utilizado por traficantes.
Mais um caso famoso é o de um Papai Noel que roubou um helicóptero Robinson 44. O crime aconteceu em novembro de 2015, no Campo de Marte, na capital paulista.
Nabiel da Silva Cordeiro, então com 30 anos, entrou no local vestido como o Bom Velhinho e disse que precisava de uma aeronave para participar de uma festa de final de ano em uma chácara em Mairinque, cidade próxima a São Paulo. Durante o voo, o Papai Noel anunciou o assalto ao piloto Caio Fernando Pinto.
O helicóptero pousou numa chácara alugada previamente, onde um outro piloto já aguardava. A aeronave foi abastecida e de lá voaram para o Paraguai. Nabiel foi preso em janeiro de 2016, na Bahia, na casa de sua mãe, após investigação policial.