Kiss: 4 depoimentos devem fechar hoje fase de oitivas de testemunhas
Julgamento entra em seu oitavo dia. Expectativa é que interrogatório dos quatro réus possa começar nesta quinta-feira (9)
Cidades|Do R7
O julgamento dos quatro réus acusados da morte de 242 pessoas no incêndio da boate Kiss, em 2013, prossegue nesta quarta-feira (8) com o depoimento das últimas quatro testemunhas chamadas pelo tribunal. A expectativa é, neste oitavo dia de julgamento, que seja concluída a fase de oitiva de testemunhas para então, nesta quinta-feira (9), ter início o interrogatório dos réus.
As quatro últimas testemunhas a serem ouvidas foram arroladas pela defesa dos réus: duas por Elissandro Spohr e duas por Mauro Hoffman, ex-sócios da boate.
Vinte e quatro pessoas já foram ouvidas nos dias anteriores. Quatro delas nesta terça-feira (7). Pela manhã, o técnico de som da banda Gurizada Fandangueira, Venâncio da Silva Anschau, ficou bastante emocionado ao admitir que cortou os canais de áudio dos microfones quando o fogo teve início na boate Kiss, o que impediria um alerta da situação, embora, de fato, ninguém da banda tenha tentado avisar o público dos riscos, como demonstrou no julgamento a promotora de Justiça Lúcia Helena de Lima Callegari. Venâncio definiu o que aconteceu como "aterrorizante".
Leia também
Em seguida, Nívia da Silva Braido, arquiteta indicada pelo Ministério Público, relatou que foi consultada por um dos proprietários da boate sobre a instalação de um papel de parede na casa noturna. Nívia foi ouvida como informante, e não testemunha, atendendo a pedido de advogados de defesa, porque ela já foi namorada de um ex-advogado da associação das vítimas da tragédia. O pedido foi acatado pelo juízo.
A condição de informante significa que a pessoa pode fazer seu relato, mas não sob juramento, como as testemunhas. O peso do depoimento das testemunhas é, em tese, maior, já que podem responder por falso testemunho se mentirem.
Bombeiro
À tarde, o bombeiro Gerson Pereira, que comandava o Corpo de Bombeiros em Santa Maria na época do incêndio, chorou, disse não conseguir narrar o que viu dentro da boate e afirmou ser muito duro descrever o fato. "Não tenho condições de falar o que eu vi lá dentro", declarou Pereira ao juiz Orlando Faccini Neto, dizendo sofrer de estresse pós-traumático. Ele relatou que encontrou do lado de fora da Kiss um cenário de "total descontrole" ao chegar ao local naquela madrugada.
Pereira lembrou que o alvará da boate Kiss no Corpo de Bombeiros estava vencido, mas que isso não a proibia de continuar operando. "Na época, não impedia de continuar operando. Tinha que entrar no Corpo de Bombeiros com pedido de renovação e os bombeiros iam para fazer a vistoria para ver se o projeto com a obra construída e projetada correspondiam um com outro e treinamento de pessoal. Mas nada obstruía que continuasse com as atividades", acrescentou.
Por fim, falou o empresário Nilvo José Dornelles, testemunha do músico Marcelo dos Santos, um dos réus do processo. Ele também era empresário da noite e afirmou que sua casa noturna, concorrente da Kiss, tinha espuma semelhante à que pegou fogo na tragédia e teria contribuído para que os frequentadores morressem por asfixia. Disse ainda que retirou o material após o incêndio na Kiss, e foi bastante questionado por advogados de defesa e também pela promotoria sobre esse e outros pontos de risco de incêndio – Dornelles também contratava a banda Gurizada Fandangueira e permitia a realização de outros shows com uso de pirotecnia.