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'Não quisemos matar ninguém', afirma músico que tocou na Kiss

Ex-integrante da banda Gurizada Fandangueira depõe em julgamento dos réus acusados pela tragédia ocorrida na boate

Cidades|Fabiola Perez, do R7, em Porto Alegre (RS)

Márcio André de Jesus, ex-percussionista da banda Gurizada Fandangueira, que tocou na Kiss
Márcio André de Jesus, ex-percussionista da banda Gurizada Fandangueira, que tocou na Kiss Márcio André de Jesus, ex-percussionista da banda Gurizada Fandangueira, que tocou na Kiss

Márcio André de Jesus dos Santos, percussionista que tocava na banda Gurizada Fandangueira, foi o quarto a depor nesta segunda-feira (6) no julgamento dos réus acusados de serem os responsáveis pelo incêndio na boate Kiss. Irmão do réu Marcelo de Jesus dos Santos, Márcio comentou o sentimento dele e dos integrantes do grupo após a tragédia. “Nós não quisemos matar ninguém lá. Se eu disser aos pais que estão aqui que eu entendo a dor deles, estarei mentindo. Eu entendo da nossa dor”, disse.

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Ele afirma que sente os reflexos da tragédia até hoje, em seu relacionamento com o filho. "Tenho um filho de 9 anos, ele não tinha 1 ano quando aconteceu [o incêndio]. A gente nunca cantou parabéns pra ele. Se eu cantasse um parabéns pra ele, diziam: 'Olha lá os caras da banda cantando parabéns'."

No depoimento, o músico conta ainda que o gaitista Danilo Jaques costumava fazer a negociação com os interessados em contratar o grupo. "Ele assumiu essa parte com os contratantes. A gente deixou essa responsabilidade pra ele porque ele era um cara mais instruído, tinha os projetos paralelos dele de formatura, ele dizia 'não se meta'. O Danilo designava as funções de cada um, ele não era uma pessoa responsável.”

O percussionista conta que a banda “dependia” das apresentações na casa noturna. “Quem precisava da boate éramos nós. A boate tinha mil bandas. Se a gente não fizesse o que era mandado, a gente que perdia aquela exposição”, disse.

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Artefatos

O irmão de Marcelo também confirmou, durante o depoimento, que a banda já havia usado artefatos pirotécnicos em outras apresentações na casa noturna. “A banda começou no final de 1998. Sempre que era permitido, nós usávamos [artefatos pirotécnicos]. Tinha mais um monte de gente que usava, depois do fato nunca mais fui a festa. Mas era um diferencial das bandas e da Gurizada Fandangueira, que também usava”, disse.

O músico considerou o dia 27 de janeiro de 2013 como um dos mais tristes “que uma pessoa pode ter”. Quando chegaram à boate, segundo ele, outra banda se apresentava. “A abertura era sempre assim: um Sputnik de cada lado, sempre que permitido. Quando entrava a música disparavam os dois Sputnik no chão. Como era festa de agronomia, das rurais, pediram para tocar um chamamé. Começamos com a música e enquanto tocávamos o chamamé, o Luciano [Bonilha] montava a luva na mão do Marcelo. A luva era usada na música do momento.”

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O músico afirmou que ele e o baterista viram algum líquido pingar do teto. “Tentei avisar o Danilo que era quem estava na frente: ‘aconteceu uma coisa errada aqui’. Parou a música e a sensação que eu tive era de impotência. Aquela sensação de tu olhar para tudo quanto é lado.” Márcio afirmou ainda que uma pessoa a sua direita chegou a pegar um extintor e lançar para o irmão, Marcelo. “A impressão que eu tive é que o Marcelo não soube usar. Teve uma terceira pessoa que tentou usar e não funcionou.” Depois disso, segundo eles, disseram: ‘vamos sair que não tem mais o que fazer’”.

Nesse momento, as pessoas começaram a sair, segundo o músico. “Todo mudo saiu caminhando porque tinha que sair o fluxo na sua frente. Foi entrando gente na frente. O Marcelo veio para o lado contrário. Conheci ele pela camisa. Quando nós chegamos na porta, eu consegui arrastar ele até a porta, ele foi desmaiando e se levantando. Chegando na porta foi como receber uma onda. Ficamos suprimidos perto de um monte de gente. Comecei a chamar a atenção o segurança”, lembra. Márcio disse que viu seguranças e outras pessoas ajudando a liberar o trajeto para as vítimas saírem.

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Questionado pelo Ministério Público sobre o uso dos extintores, o irmão de Marcelo disse que não chegou a observar se havia mais de um equipamento. “A gente vai no restaurante e não fica perguntando onde tem uma saída ou um extintor. Eu nunca fui como cliente na Kiss”, disse. Márcio disse que no início ele e os integrantes da banda imaginavam que conseguiriam “resolver o problema”. “Acredito que com um extintor grande na mão de uma pessoa que saiba usar, daria tempo de as pessoas saírem calmamente.”

O músico explicou ainda como ocorreu o primeiro contato com Elissandro Spohr. “Tudo começou há uns dois anos no CTG (Centro de Tradições Gaúchas)”, recorda. Ele diz que Spohr afirmou que teria conseguido agendar uma apresentação da banda na boate com a condição de que a banda se apresentasse de uma forma “mais condizente” com o estilo da casa. Em relação ao sócio Márcio Hoffmann, Márcio diz que não tinha contato próximo com o réu. “O mais próximo que estou chegando dele é aqui [no júri].”

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