Moradores de 8 em cada 10 domicílios brasileiros não viajaram em 2023, diz IBGE
Em 62,1 milhões de residências, não houve ocorrência de viagem; número de deslocamentos cresceu 71,5% em relação a 2021
Cidades|Clarissa Lemgruber, do R7, em Brasília
Ao menos um morador de quase 20% dos lares brasileiros fez uma viagem no ano passado. Por outro lado, em 80,2% (62,1 milhões) das casas não houve ocorrência de viagem em 2023. É o que indica a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua — Turismo 2023, divulgada nesta sexta-feira (13) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em 2023, o Brasil tinha 77,4 milhões de domicílios particulares permanentes.
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O número de lares com viagem é superior ao registrado em 2020 e 2021. Segundo o levantamento, o percentual de residências em que não houve viagem ficou em 86,1% e 87,3%, respectivamente nesses anos.
Ao todo, foram feitas 21,1 milhões de viagens no ano passado. O número representa um aumento de 71,5% em relação a 2021, mostrando uma recuperação do turismo após a pandemia de Covid-19. Naquele ano, o país teve 12,3 milhões de viagens realizadas.
Em 2020, no primeiro ano da pandemia, houve 13,6 milhões de viagens no país. Na comparação entre 2023 e 2020, o aumento foi de 55,1%.
Por estado
No recorte estadual, 12 estados e o Distrito Federal apresentaram um percentual maior ou igual ao da média brasileira de domicílios em que houve ocorrência de viagem de ao menos um morador.
O ranking é liderado pelo DF, onde em 25,7% dos lares houve ocorrência de viagem. Na sequência, aparecem Rio Grande do Sul e Tocantins, com 25,5% e 24,1%, respectivamente.
Na outra ponta, o Acre ficou em último lugar da lista, com viagens realizadas em apenas 6% das residências. Logo atrás, aparecem Amapá e Roraima, com 10,3% e 10,6%, respectivamente.
O Rio de Janeiro (15,7%) foi o único estado da região Sudeste a apresentar um percentual menor que a média nacional (19,8%). O mesmo aconteceu com o Mato Grosso (16,9%), no Centro-Oeste, e Santa Catarina (18,9%), no Sul.
No Norte, destacam-se o Tocantins (24,1%) e o Pará (22,7%), enquanto os demais estados dessa região apresentam 13% ou menos de ocorrências de viagens. No Nordeste, Sergipe (21,4%) e Bahia (20,8%) foram os estados com maior percentual de domicílios com ocorrências de viagem, enquanto Alagoas (12,5%) e Pernambuco (11,9%) apresentaram os menores percentuais.
Relação entre renda per capita e ocorrência de viagens
Em 2023, dos 77,4 milhões de domicílios estimados no Brasil, 22% tinham rendimento mensal domiciliar per capita inferior à metade do salário mínimo. No entanto, entre as residências em que houve ocorrência de viagem de algum morador, 12,9% pertenciam ao grupo de rendimento mais baixo.
Já o grupo de domicílios com rendimento per capita de quatro ou mais salários mínimos, eram 7,1% do total de domicílios e 16,4% dos domicílios em que houve ocorrência de viagem. Os domicílios com rendimento de dois a menos de quatro salários mínimos eram 13,2% do total e representaram 20,7% dos domicílios em que houve viagem de algum morador.
O estudo mostra que o percentual de ocorrência de viagem foi diretamente proporcional ao rendimento domiciliar per capita.
Em 2023, o salário mínimo era de R$ 1.302. Em maio, o governo federal reajustou o valor para 1.320.
Segundo o IBGE, 46% dos domicílios com rendimento per capita de quatro ou mais salários mínimos teve ocorrência de viagem de algum morador, sendo o grupo de maior incidência.
Por outro lado, a taxa de ocorrência de viagem nos domicílios com rendimento domiciliar per capita menor que ½ salário mínimo foi de 11,6%, indicando que, apesar da melhora em relação aos outros anos da pesquisa, em quase 90% dos domicílios nesta faixa de rendimento per capita, não houve ocorrência de viagem.
Número de viagens realizadas
Em 73,7% dos 15,3 milhões de domicílios em que ocorreram viagens, houve ocorrência de uma viagem de algum morador nos últimos três meses, em 15,3% houve duas viagens e em 2% houve cinco ou mais.
Desde 2022, ano com menor número de domicílios com ocorrência de viagem, a proporção de domicílios com 2, 3 e 4 viagens aumentou, reduzindo a proporção nos grupos com uma viagem e cinco viagens ou mais.
De acordo com as informações, em 2020, 85,1% das viagens ocorreram por finalidade pessoal, em 2021 o percentual foi de 85,4%, e em 2023 esse valor foi de 85,7%, incluindo as viagens nacionais e internacionais.
Por que os brasileiros não viajam?
Em 2023, dos 62,1 milhões de domicílios em que não houve viagem, o motivo foi falta de dinheiro em 24,9 milhões (40,1%). Em 11 milhões, as pessoas alegaram falta de tempo (17,8%) e, em 11,8 milhões de lares (19,1%), os residentes não viram necessidade de haver viagem.
A pesquisa revelou também que em 62,1 milhões de domicílios não houve viagem. Se por um lado houve desinteresse, falta de necessidade ou outro motivo para os moradores de 19,4 milhões de domicílios, por outro, a demanda por viagens nos outros 42,7 milhões de domicílios foi reprimida pela falta de dinheiro, tempo, saúde ou por terem outra prioridade.