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O que as vítimas da ditadura têm a dizer sobre os protestos atuais

Para especialista, aumento de renda gera cobrança por melhores serviços

Cidades|Sylvia Albuquerque, do R7

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Ernesto Carvalho e Ernesto Nascimento ainda eram crianças quando sofreram as torturas da ditadura militar
Ernesto Carvalho e Ernesto Nascimento ainda eram crianças quando sofreram as torturas da ditadura militar

Dois Ernestos e duas histórias de vida em comum além do nome que homenageia o guerrilheiro Che Guevara. Eles ainda eram crianças quando o Brasil enfrentou a ditadura militar, mas foram usados durante sessões de tortura para chantagear os seus pais e viram muita gente sofrer a repressão até a morte. Para essa geração, os protestos atuais têm muito a nos dizer assim como a violência praticada pela polícia durante os atos. Cinquenta anos após o golpe militar, vítimas e estudiosos do período analisaram, a pedido do R7, a onda de manifestações.

Ernesto Carlos Dias Nascimento foi considerado "terrorista" e "subversivo" aos dois anos de idade, nos anos 70, e obrigado a deixar o País. Nas salas do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna) em São Paulo, ele assistiu ao pai Manoel Dias do Nascimento ser torturado. Por sorte, Manuel e a mulher sobreviveram. Segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, 475 pessoas morreram ou desapareceram durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). 


Ernestinho, como ficou conhecido, morou 16 anos em Cuba e diz que retornou ao País em um período de governo democrático, mas com heranças visíveis do regime militar.

— Eu gostei muito dos movimentos populares que ocorreram em junho do ano passado, mas vimos de cara que a polícia ainda sabe ser repressora. O sumiço do Amarildo também é outra prova de que a tortura continua. A ditadura é uma herança.


Governo se prepara para conter protestos violentos na Copa

Ernesto Carvalho perdeu o pai Devanir José de Carvalho, que tinha 27 anos, e dois tios, assassinados pela polícia por serem contra o regime militar. Ele, o irmão e a mãe precisaram passar por um longo exílio no Chile, Argentina, Portugal e França, para não terem o mesmo fim.


— Qualquer manifestação é legítima, mas o governo não tem estratégia para garantir a segurança daqueles que a fazem. Hoje vemos uma população revoltada com a corrupção, com o gasto de dinheiro público naquilo que não será público. Não podemos perder o fio da meada nessa luta e confundir o descrédito dos políticos com o descrédito político. A política será a nossa única arma de mudança. Esses jovens que saem às ruas deviam fundar partidos e debater mais ideias. O caminho é esse.

Classe média e educação


Para Marcos Tarcisio Florindo, docente da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), os protestos atuais estão relacionados ao aumento da classe média. Para ele, à medida em que cresce o poder de renda das pessoas, elas se tornam mais insatisfeitas com os serviços prestados sejam públicos ou privados. Exemplo disso são as manifestações contra a Copa do Mundo que comparam um estádio a um hospital público.

— Depois do que os garis fizeram no Rio de Janeiro durante o Carnaval, podemos esperar muita coisa. O governo, bem antes da ditadura militar, usou a violência para controlar a insatisfação do povo. Se tivessem dialogado sobre as necessidades, mesmo que as mínimas, teríamos um capitalismo menos selvagem. Num País desigual, em que a população é reprimida, querem que os protestos sejam como se não violentos?

Para a socióloga Luci Praun, usar da violência durante os atos e criminalizar manifestantes, como a tentativa de proibir o uso de máscaras, é uma forma de reprimir os movimentos sociais. Para ela, eles são a única forma de "revigorar" a sociedade, o que causa medo na polícia e no governo.

— Vivemos toda a década de 90 sem um senso de coletividade e isso está mudando. Os movimentos sociais não nascem do nada, eles são formados a partir de uma demanda em comum das pessoas e coloca na pauta do dia-a-dia aquilo que está em conflito. As pessoas trabalham mais, ganham menos e veem o dinheiro que pagam ao governo investido naquilo que não muda em nada a sua realidade. Esse ressurgimento das manifestações é um ótimo sinal. É o caminho para se cobrar mudanças.

Após viver em Cuba, Ernestinho diz que sente a diferença na educação quando o assunto é ensinar sobre o passado.

— A ditadura milita precisa ser passada a limpo nas escolas. Um povo que não conhece seu passado fica vulnerável a cometer os mesmos erros. Uma geração inteira foi marcada por sofrer as consequências da ditadura e isso não pode ser perdido.

Os conflitos em manifestações é tema recorrente nas pautas do governo desde o ano passado. A presidente Dilma Rousseff, após críticas sobre a proibição do uso de máscaras, pediu que o projeto de lei que prevê medidas para conter a violência seja submetido a consulta informal e enviado a líderes de partidos, representantes de movimentos sociais e juristas, antes de ser encaminhado ao Congresso.

Segundo a proposta, os manifestantes que se recusassem a tirar as máscaras durante protestos seriam presos por desobediência. Outra proposta é aumentar a pena para danos ao patrimônio público que é de seis meses a um ano de reclusão. Na avaliação do governo, trata-se de penalidade "muito baixa", que precisa ser reforçada.

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