PCC usa fintechs, criptomoedas e empresas de fachada para lavar dinheiro em 28 países
Segundo promotor, grupo utiliza outros países como base de atuação consolidada
Cidades|Victoria Lacerda, do R7, enviada especial a São Paulo*
A atuação do PCC (Primeiro Comando da Capital) ultrapassou as fronteiras brasileiras e hoje está presente em pelo menos 28 países, com estruturas que replicam a organização do grupo nos presídios do Brasil. Além disso, a facção tem usado mecanismos cada vez mais sofisticados para movimentar recursos ilícitos, incluindo empresas de fachada, fintechs, fundos de investimento e criptomoedas. A avaliação é do promotor de Justiça Lincoln Gakiya, referência no combate ao crime organizado e integrante do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) do Ministério Público de São Paulo.
“As organizações criminosas estão se sofisticando. Elas não dependem mais só de armas e drogas. Hoje elas têm contadores, advogados, TI e toda uma estrutura paralela que dá suporte às operações. O PCC está usando empresas de fachada, fintechs, criptomoedas e até FIPs para lavar dinheiro”, afirmou Gakiya em entrevista exclusiva ao R7 durante o seminário internacional “Crime Organizado e Mercados Ilícitos no Brasil e na América Latina”, realizado pela USP em São Paulo.
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Segundo ele, o grupo já não utiliza os outros países apenas como ponto de apoio logístico, mas como base de atuação consolidada. “Antes, a presença do PCC no exterior estava ligada à necessidade de transportar drogas. Agora, há núcleos organizados. Eles batizam integrantes estrangeiros, montam tribunais do crime e replicam a estrutura que têm nos presídios brasileiros”, disse.
Com cerca de 40 mil integrantes, segundo as estimativas mais recentes, a facção teria estabelecido braços em países como Estados Unidos, Portugal, Espanha, Holanda, Argentina, Bolívia e Paraguai.
“O maior perigo é que a origem do PCC está no sistema prisional. E essa disciplina, essa ideologia, se espalha muito rápido nas cadeias, inclusive fora do Brasil. Eles estão enraizados”, alertou Gakiya.
Monitoramento internacional
O mapeamento da presença internacional do PCC, segundo Gakiya, é resultado de um cruzamento de informações de inteligência, análise de dados telemáticos e trocas com autoridades estrangeiras. Ele destacou a importância da cooperação internacional no combate às redes criminosas.
“Já não estamos mais lidando com uma facção regional. O PCC é uma organização criminosa transnacional. O combate a isso precisa ser global, integrado. Precisamos estreitar laços com os países onde eles atuam e fazer inteligência de verdade”, declarou.
PEC da Segurança e legislação antimáfia
Gakiya também comentou a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Segurança Pública, elaborada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski. Na opinião dele, a medida pode ser um passo importante para o enfrentamento das facções.
“A PEC da Segurança ajuda, sim. Ela constitucionaliza o Sistema Único de Segurança Pública, que busca integrar as forças policiais sob coordenação nacional. E isso é fundamental, porque o crime está integrado. O Estado precisa responder da mesma forma, de forma unificada”, disse.
O promotor, no entanto, defendeu também a necessidade de avançar com uma legislação antimáfia no Brasil. “Precisamos de um marco legal específico para o enfrentamento dessas organizações. Uma lei antimáfia, como existe na Itália. Hoje, os instrumentos que temos não são suficientes para atingir o núcleo financeiro dessas facções”, afirmou.
*A repórter viajou a convite da Philip Morris Brasil
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