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Presença de facções avança na Amazônia Legal e já alcança 34% dos municípios

Entre os 260 municípios com presença de facções, 84 estão atualmente sob disputa entre diferentes grupos

Cidades|Victoria Lacerda, do R7, enviada especial a São Paulo*

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O avanço, segundo ele, está diretamente ligado à importância crescente da Amazônia nas rotas do tráfico
O avanço, segundo ele, está diretamente ligado à importância crescente da Amazônia nas rotas do tráfico Divulgação/Alex Sandro - 25/06/2025

A presença de facções criminosas na Amazônia Legal já alcança 260 dos 773 municípios da região, o que representa 34% das cidades da área que compreende parte de nove estados brasileiros: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

Os dados foram apresentados pelo economista Rodrigo Soares, professor do Insper, durante o seminário internacional “Crime Organizado e Mercados Ilícitos no Brasil e na América Latina”, realizado nesta semana em São Paulo.


A análise tem como base números do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) e revela a consolidação da Amazônia como uma rota cada vez mais estratégica para o tráfico internacional de drogas.

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Entre os 260 municípios com presença de facções, 84 estão atualmente sob disputa entre diferentes grupos pelo controle territorial.


Em outros 176 municípios, há domínio consolidado de apenas uma organização criminosa: o CV (Comando Vermelho), que lidera com atuação em 130 cidades. Depois, aparecem o PCC (Primeiro Comando da Capital), presente em 28 municípios, e outras facções menores, que operam em 18 localidades.

“É mais natural que haja um interesse maior por parte das facções nas áreas de fronteira. E de fato, é lá onde as disputas territoriais mais se concentram hoje”, afirmou Soares, durante a apresentação do mapa que ilustra a expansão do crime organizado na região.


O avanço, segundo ele, está diretamente ligado à importância crescente da amazônia nas rotas do tráfico. Até o início dos anos 2000, a floresta praticamente não aparecia nos relatórios da ONU sobre cocaína. Hoje, cerca de 50% da droga apreendida na Europa tem origem no Brasil, e uma parcela significativa é escoada pela região amazônica.

“O Brasil se tornou um player muito mais relevante nesse mercado, e a amazônia passou a ocupar um papel central. Essa rota, que antes era secundária, se consolidou”, explicou.


Dinâmicas do tráfico internacional

Esse cenário, segundo o economista, também reflete transformações nas dinâmicas do tráfico internacional. A partir de 2010, a produção de cocaína na Colômbia e no Peru bateu recordes históricos, enquanto rotas tradicionais, como a da fronteira sul do Brasil com o Paraguai, passaram por mudanças. A morte do narcotraficante Jorge Rafaat, em 2016, e o domínio do PCC na região levaram o Comando Vermelho a expandir sua atuação para outras áreas — entre elas, a amazônia.

“O crime funciona como a água: procura as frestas. Com a consolidação de rotas no Sul, os grupos buscaram alternativas, e a amazônia virou uma dessas frestas ocupadas”, disse.

Além de servir como corredor logístico para o tráfico, a presença de facções na floresta tem se ampliado para outras frentes. Rodrigo Soares alerta para indícios de que esses grupos estão atuando como “reguladores” de mercados ilegais, especialmente no garimpo e em disputas fundiárias.

“Não me surpreenderia se eles estivessem cobrando para garantir o direito informal de propriedade em uma área de garimpo, por exemplo. É como se dissessem: ‘Essa draga é sua, essa curva do rio é sua. Se tiver problema, a gente resolve’. É o enforcement que o Estado não oferece”, afirmou.

Para o pesquisador, o problema já ultrapassou o domínio territorial e passou a incluir o controle econômico de cadeias ilegais inteiras, com uma presença que vai muito além da violência armada. “Estamos falando de algo que está se tornando permanente. E o controle vai muito além das armas”, concluiu.

*A repórter viajou a convite da Philip Morris Brasil

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