Semana da mulher é marcada por feminicídios em pontos do país
Dos 400 casos de abuso contra a mulher analisados pelo Ministério Público de São Paulo, 124 terminaram em morte no estado paulista
Cidades|Plínio Aguiar, do R7, com Stéphanie Nascimento, da Agência Record
No Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta quinta-feira (8), órgãos policiais registraram casos em que mulheres foram assassinadas pelo simples fato de serem mulheres, crime denominado de feminicídio. Nos dias anteriores, também houve registros desta tipologia.
Em Itaquaquecetuba, região metropolitana de São Paulo, uma jovem de 25 anos foi morta a facadas nesta quinta-feira. A vítima deixa uma filha de seis anos.
Segundo a delegacia do município, Natali Melo dos Santos e o suspeito Adriano Diogo de Chagas, de 26 anos, tinham retomado o relacionamento há duas semanas. Nesta quinta, discutiram dentro do apartamento do casal, no bairro Jardim Caiubi.
Após matá-la, o acusado fugiu do local, mas foi localizado logo em seguida na rodovia Alberto Hinoto, quando bateu o carro que dirigia em um poste. O suspeito foi preso. O caso foi registrado como feminicídio no Distrito Policial do município.
O feminicídio aconteceu em outras cidades do país também nesta semana. Na noite de terça-feira (6), um homem identificado como Elson da Silva, de 39 anos, teria assassinado a companheira Romilda Souza, de 41, com cinco tiros no quarto do apartamento da família, na SQS 406, em Brasília. Em seguida, cometeu suicídio.
Os filhos do casal, de três e quatro anos, estavam com a avó materna no mesmo apartamento, mas não presenciaram a cena, uma vez que os pais estavam trancados no quarto. Após ouvir os disparos, as crianças foram levadas pela avó para uma residência vizinha.
Sabe-se que Silva havia trabalhado como vigilante, no entanto, a polícia não sabe como ele adquiriu a arma. Segundo o síndico, o casal morava há três anos no local. “Eles pareciam tranquilos. Sem indícios de brigas ou desentendimentos”. Vizinhos afirmam que o casal estava em processo de separação.
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Para outra família, o Dia da Mulher também possui gosto amargo neste ano. Sandra Braga, de 37 anos, foi assassinada no último domingo (4), também em Brasília. Seu companheiro Márcio do Nascimento Braga, de 36 anos, está preso, acusado do crime. Segundo o delegado que investiga o caso, Johnson Kenedy, do 4º DP (Guará), não resta dúvidas de que o acusado tenha espancado e ateado fogo enquanto a mulher ainda estava viva.
Dos 400 casos de abuso contra a mulher analisados pelo Ministério Público de São Paulo, 124 terminaram em morte no Estado paulista. Dos crimes, 68% ocorreram de segunda a sexta-feira — não apenas nos fins de semana, como era senso comum. Os casos ocorrem à noite (35% das 18h às 24h), e não na madrugada.
De acordo com a integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre as Mulheres da Universidade de Brasília (Nepem/UnB) Lourdes Bandeira, os casos mostram que não houve diminuição dos crimes violentos contra mulheres. Para o caso de Romilda, a integrante do núcleo mostra a motivação clássica: ciúme e a não aceitação do divórcio. “A separação representa uma perda de controle. Aquela mulher não pertenceria mais a ele”, diz.
É preciso combater as estruturas sociais que levam ao machismo e até mesmo dar força para que as mulheres denunciem a violência, segundo Lourdes. Assim, a violência, quem sabe, pode dar trégua e os criminosos sejam punidos.