América Latina pode perder US$ 17 trilhões devido a mudanças climáticas até 2070
Estudo produzido por uma organização sem fins lucrativos também alerta para a possível perda de 18 milhões de postos de trabalho
Economia|Rafaela Soares, do R7, em Brasília
Um relatório da organização CDP (em tradução livre, Projeto de Divulgação de Carbono) — uma organização global sem fins lucrativos que administra um sistema de divulgação ambiental para empresas, cidades, estados e regiões — mostrou que a América Latina pode sofrer perdas econômicas de US$ 17 trilhões por consequência das mudanças climáticas até 2070. Além disso, o instituto alerta para a possível perda de 18 milhões de postos de trabalho nesse intervalo em vários setores, como agricultura e varejo. A pesquisa também informou que as populações mais vulneráveis são as famílias de baixa renda, idosos e mulheres.
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O relatório foi publicado em 2023 e analisou 56 estados da Argentina, Colômbia, México e Brasil. Segundo a organização, 25 das 27 unidades da Federação foram analisadas. A seca e o estresse hídrico (situação onde a demanda de água é maior que a oferta) foram os maiores problemas enfrentados nos locais estudados, respondendo por 15% e 12%, respectivamente. Os estados reportaram, aproximadamente, 200 riscos climáticos. Os mais impactantes foram:
- Secas: 15%
- Estresse Hídrico: 12%
- Calor intenso: 9,5%
- Incêndio (risco de incêndios florestais): 8,5%
- Inundações urbanas: 6,5%
De acordo com o levantamento, os setores mais prejudicados por fenômenos relacionados ao clima nos locais analisados foram:
- Agricultura: 16,6%
- Abastecimento de água: 15,7%
- Silvicultura: 10,8%
- Esgotos, gerenciamento de resíduos e atividades de remediação: 10,3%
- Atividades de saúde humana e assistência social: 10,1%
O relatório cita alguns exemplos de riscos enfrentados pelos estados analisados, entre eles o de Alagoas, que sofre com inundações urbanas nos períodos de mais chuva.
Segundo o CDP, “nos períodos de precipitação intensa, muitas cidades do estado sofrem com alagamento pela falta de um sistema de drenagem preparado para lidar com o grande volume de chuva”.
“Com isso, aumentam os casos de transmissões de doenças infecciosas através da água, é inviabilizado o transporte nas cidades e muitas casas são afetadas”, frisou o levantamento.
Metade do país não analisa riscos e vulnerabilidades climáticas
Em outra pesquisa, publicada em fevereiro deste ano, o CDP analisou como os governos subnacionais brasileiros enfrentam os eventos climáticos extremos. A organização conseguiu observar dados de 26 estados brasileiros, com exceção de Roraima. No levantamento, a instituição constatou que 50% das unidades da Federação possuem sistemas para analisar riscos e vulnerabilidades climáticas.
Na pesquisa, também foram analisadas informações de 96 cidades do país. O CDP diz que só duas em cada cinco (41%) realizaram uma análise de riscos e vulnerabilidades ao clima. Segundo o CDP, fazer esse tipo de monitoramento é importante para que o estado ou a cidade compreendam quais são os eventos climáticos extremos mais recorrentes nos seus territórios e as principais consequências deles.
Além disso, 23 estados não apresentaram políticas que abordam diretamente o desmatamento e/ou a restauração florestal. Conforme a instituição, “a exposição dos estados e municípios às emergências climáticas ainda é desproporcional em relação ao seu preparo para combatê-las”.
“Os dados reportados pelos estados e municípios do Brasil analisados neste estudo apontam que, apesar de existir um nível de resposta governamental em relação a estes riscos através da elaboração de planos e estratégias climáticas e ações de mitigação e adaptação, os governos que fazem uso destes instrumentos ainda são a minoria”, alertou o CDP.