Banco Central acelera ritmo de alta da Selic, e juros vão a 11,25% ao ano
Elevação é a segunda seguida e a maior desde agosto de 2022; decisão veio alinhada às expectativas do mercado financeiro
Economia|Do R7
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu, por unanimidade, nesta quarta-feira (6) aumentar a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano. A alta é a segunda consecutiva desde agosto de 2022 quando o índice chegou a 13,75% ao ano. Decisão veio alinhada às expectativas do mercado financeiro, que projetava a elevação da Selic.
A taxa de 11,25% ao ano valerá ao menos pelos próximos 45 dias, quando os diretores do BC voltam a se encontrar para discutir novamente a conjuntura econômica nacional.
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O comunicado justifica a alta pelo ambiente externo permanecer desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica incerta nos Estados Unidos. “O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes", diz. Também é acrescentado que no cenário doméstico, “o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo".
A alta maior da Selic acontece menos de um mês após a aprovação do economista Gabriel Galípolo para comandar o Banco Central a partir de 2025. O novo patamar também ocorre no dia em que Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos pela segunda vez.
Com preocupações sobre o cumprimento das metas fiscais, a piora nas expectativas de inflação e o dólar nas alturas, o mercado financeiro já previa o novo patamar dos juros.
O professor César Bergo, presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, lembra que a definição sobre os juros ocorre em um “cenário instável internacional”, sobretudo em função da política monetária norte-americana. Ele também cita a alta do dólar entre os principais motivos para a possível aceleração da Selic.
“O Federal Reserve [o banco central dos Estados Unidos] está reticente em continuar a política de baixa da taxa de juros. No campo interno, temos uma inflação que teima em ficar elevada e a questão fiscal com essas idas e vindas, mas o preocupante é o dólar.”
Alta do dólar
Na última sexta-feira (1º), o dólar fechou a R$ 5,86, maior patamar registrado no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O valor também foi o maior desde maio de 2020, durante a pandemia de Covid-19.
A alta da moeda traz impacto para as expectativas de inflação, que continuam se afastando do centro da meta de 3% — com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
“Essa questão vem preocupando porque afeta diretamente os preços aqui no Brasil em função da importação, sobretudo de alimentos, como é o caso da farinha de trigo, além da questão dos combustíveis”, explica Bergo.
Histórico
De março de 2021 a agosto de 2022, o Banco Central elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo de “aperto monetário” em resposta à alta dos preços de alimentos, energia e combustíveis.
Desde agosto de 2023, começou a sequência de cortes de 0,50 ponto percentual em cada reunião, até maio, quando a redução foi de 0,25 ponto porcentual, em placar dividido, quando quatro diretores indicados pelo governo Lula votaram por corte maior, de 0,50.
Entenda a Selic
A taxa básica de juros é uma forma de piso para os demais juros cobrados no mercado. Ela serve como o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle, perto da meta estabelecida pelo governo. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam alternativas de investimento.
Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando os juros básicos são reduzidos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo.
A Selic é usada nos empréstimos entre bancos e nas aplicações que as instituições financeiras fazem em títulos públicos federais.
É a taxa Selic que os bancos pagam para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo em empréstimos ou financiamentos. Por esse motivo, os juros que os bancos cobram dos consumidores são sempre superiores à Selic.