Banco Central justifica estouro da meta de inflação pela 2ª vez seguida
Preços foram pressionados pela inércia do ano anterior, por commodities e por gargalos em cadeias produtivas, diz documento
Economia|Do R7
O BC (Banco Central) divulgou uma carta aberta nesta terça-feira (10), enviada pelo presidente da instituição, Roberto Campos Neto, ao presidente do CMN (Conselho Monetário Nacional), o ministro Fernando Haddad, para justificar o estouro da meta da inflação em 2022, pelo segundo ano consecutivo.
No documento, o BC afirma que os preços no país foram pressionados pela inércia do ano anterior, pela alta das commodities e pelos gargalos em cadeias produtivas globais. Também destacou que o cenário é de convergência da inflação para as metas e que as projeções do BC são de que o índice siga em queda ao longo de 2023, terminando o ano em um patamar inferior ao de 2022.
Influenciada pelo aumento no valor dos alimentos, das roupas e dos itens de saúde e cuidados pessoais, ainflação oficial de preços do Brasil encerrou 2022 com alta de 5,79%, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A meta estabelecida pelo CVM (Conselho Monetário Nacional) para a inflação do ano passado era de 3,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual (de 2% a 5%).
Segundo o documento, os principais fatores que levaram a inflação em 2022 a ultrapassar o limite superior de tolerância foram: a inércia da inflação do ano anterior; a elevação dos preços de commodities, em especial do petróleo; os desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos e gargalos nas cadeias produtivas globais; os choques em preços de alimentação, resultantes de questões climáticas; e a retomada na demanda de serviços e no emprego, impulsionada pelo acentuado declínio da quantidade de casos de Covid-19 e pelo consequente aumento da mobilidade.
No entanto, foram listados fatores que agiram no sentido contrário e diminuíram o desvio da inflação em relação à meta — como a redução na tributação sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações; o comportamento da bandeira de energia elétrica, que passou de escassez hídrica para bandeira verde; e a apreciação cambial.
O BC avalia também a importância da política monetária com a alta da taxa básica de juros, que atingiu 13,75% no ano passado e poderá ser mantida por mais tempo neste ano.
As projeções condicionais do BC são que a inflação acumulada em quatro trimestres prossiga com a trajetória de queda ao longo de 2023 e termine o ano em um patamar inferior ao de 2022. No Relatório de Inflação de dezembro de 2022, as projeções condicionais apontam para inflação de 5% em 2023 (queda de cerca de 0,8 p.p. em relação à inflação observada em 2022).
"O Comitê reforça que irá preseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado", afirma o documento.
Justificativa
Esse é o segundo ano de descumprimento da meta de inflação e, portanto, o segundo seguido em que Campos Neto divulga uma carta aberta. No ano passado, na carta enviada ao então ministro da Economia, Paulo Guedes, Campos Neto disse que a inflação seguiria alta em 2022, mas não iria estourar o teto da meta.
Em carta ao novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), o BC deve citar a guerra na Ucrânia e a reabertura econômica pós-Covid como as principais justificativas para não ter cumprido a meta de inflação pelo segundo ano seguido em 2022. O banco também deve reforçar a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, como arma para ganhar a batalha contra a alta de preços.
Toda vez que a inflação fica fora do limite de tolerância da meta, o Banco Central tem de explicar por que falhou na sua principal missão: a estabilidade dos preços. Desde a criação do sistema de metas, em 1999, o BC a descumpriu seis vezes. Com a segunda carta seguida, o atual presidente do banco, Roberto Campos Neto, se iguala a Henrique Meirelles no número de explicações oficiais à Fazenda.