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China lidera produção de carros elétricos e painéis solares

País produz um terço dos bens manufaturados do mundo, e as exportações continuam a aumentar, alarmando seus parceiros comerciais sobre o ‘excesso de capacidade’ de produção dos asiáticos

Economia|Keith Bradsher, do The New York Times

Vendas fracas na China prepararam o cenário para um boom nas exportações Gilles Sabrie/The New York Times

Ao longo de décadas, a China avançou metodicamente para dominar cada vez mais a produção industrial, desde brinquedos e vestuário, na década de 1980, até os semicondutores e as energias renováveis, na atualidade. O país asiático produz um terço dos bens manufaturados do mundo — mais do que os Estados Unidos, a Alemanha, o Japão, a Coreia do Sul e o Reino Unido juntos. Seu superávit comercial nesses produtos é igual a um décimo de toda a economia chinesa.

E as exportações continuam a aumentar, alarmando seus maiores parceiros comerciais sobre o “excesso de capacidade” de produção da China. Os principais líderes dos Estados Unidos e da Europa apelaram para que a China reduza suas vendas ao mundo e aumente as importações. Na última terça-feira, o presidente Joe Biden aumentou drasticamente as tarifas dos EUA sobre as importações da China em itens como carros elétricos, painéis solares e produtos manufaturados de alta tecnologia.

As políticas industriais da China tiveram um objetivo consistente

Há quase uma década, a China lançou um ambicioso programa denominado Made in China 2025. O plano estabelecia que o país substituísse as principais importações em dez setores industriais de manufatura de ponta, fabricando os próprios produtos. O sistema bancário controlado pelo Estado direcionou empréstimos para esses setores-chave.


Passados quase dez anos, a economia interna da China sofre, sobretudo, em decorrência da quebra do mercado imobiliário. Os líderes em Pequim ordenaram o aumento dos empréstimos bancários para muitos setores industriais, a fim de compensar a desaceleração dos gastos dos consumidores, e intensificaram as exportações.

Para os decisores políticos e econômicos da China, a estratégia é familiar. Funciona assim: os reguladores restringem as opções de investimento das famílias chinesas, que não têm outra escolha senão depositar enormes somas de dinheiro nos bancos a taxas de juro baixas. Os bancos, então, emprestam dinheiro a taxas baixas para startups e outras empresas. De acordo com o Banco Central da China, o crédito líquido destinado à indústria subiu para US$ 670 bilhões no ano passado, contra US$ 83 bilhões liberados em 2019.


Pequim passou a instruir os governos locais a ajudar setores industriais determinados. Essa assistência inclui a entrega de terrenos baratos para o estabelecimento de fábricas, a construção de novas autoestradas para camiões de carga, a implantação de linhas de trem-bala e outras obras de infraestrutura.

Um estudo feito pelo Instituto Kiel para a Economia Mundial, em Kiel, na Alemanha, calculou que cerca de 99% das empresas chinesas, cujas ações são negociadas publicamente, receberam subsídios governamentais diretos em 2022.


A China mantém baixos salários nas fábricas, o que colabora para a competitividade de suas indústrias. Além disso, as autorizações de residência restringem a possibilidade de as famílias do campo se mudarem permanentemente para as cidades, onde poderiam se qualificar para receber melhores benefícios profissionais. Ao mesmo tempo, os sindicatos independentes são proibidos e possíveis organizadores de entidades de trabalhadores são detidos pela polícia.

Ações como essas ajudaram a China a crescer em muitos setores da manufatura industrial, alimentando nos Estados Unidos e em outros lugares o temor de que os empregos nas fábricas de seus países pudessem ser perdidos. As tarifas dos EUA visam, agora, taxar as exportações de alguns dos maiores fabricantes chineses que rapidamente se expandem.

As exportações de automóveis aumentaram depressa

A indústria automobilística é um bom exemplo de como a China conseguiu avançar tão velozmente para ganhar o domínio do setor.

Há apenas quatro anos, a China era um país fraco nas exportações de automóveis, enviando, por ano, um milhão de automóveis de baixo custo principalmente para mercados menos ricos no Oriente Médio e em outros locais. Mas, desde então, a China ultrapassou com vantagem o Japão e a Alemanha para se tornar o maior exportador mundial de automóveis. As remessas chegaram a um ritmo anual de quase seis milhões de carros, veículos utilitários esportivos, picapes e vans.

Três quartos destas exportações, especialmente para a Rússia e para os países em desenvolvimento, são automóveis com motor a gasolina, que não interessam aos compradores chineses. Carros elétricos movidos a bateria são mais baratos para comprar dentro da China, e a eletricidade para carregá-los é mais barata do que a gasolina.

Os principais líderes chineses apoiaram fortemente a pesquisa e produção de carros elétricos a bateria nos últimos 15 anos.

Funcionários em um porto de Ningbo, na China, 27 de março de 2024 Gilles Sabrié/The New York Times

As empresas chinesas aumentaram a produção de carros elétricos a bateria e construíram uma frota de navios para exportá-los para mercados distantes, especialmente na Europa. As montadoras estão lançando 71 modelos de automóveis elétricos na China este ano, muitos deles trazendo recursos avançados. São carros negociados por preços inferiores aos de veículos com equipamentos semelhantes no Ocidente.

O país asiático agora lidera na produção de baterias para carros elétricos

A China começou atrasada, em relação ao Ocidente, na produção de baterias para carros elétricos — e as autoridades chinesas sabiam disso.

Em 2011, Pequim passou a exigir que as empresas ocidentais transferissem conhecimentos tecnológicos para suas operações baseadas na China, se quisessem que os consumidores chineses recebessem os mesmos subsídios para a compra de carros elétricos importados, na proporção dos oferecidos para carros fabricados no país. Sem os subsídios, montadoras como a General Motors e a Ford Motor não poderiam competir com os carros elétricos fabricados na China.

Fabricantes multinacionais de automóveis responderam pressionando seus fornecedores sul-coreanos — que naquela altura lideravam a indústria de baterias para automóveis elétricos. Queriam que eles construíssem fábricas na China. Pequim foi mais longe em 2016 e declarou que mesmo os carros elétricos fabricados na China só receberiam subsídios para venda ao consumidor se utilizassem baterias fabricadas por empresas chinesas. Até mesmo montadoras como a Hyundai, da Coreia do Sul, abandonaram as fábricas chinesas produtoras de baterias sul-coreanas e transferiram seus contratos para empresas chinesas de baterias, como a CATL. Atualmente, as empresas chinesas produzem a maior parte das baterias de carros elétricos do mundo. E os avanços tecnológicos dos últimos anos deram aos carros maior autonomia.

De acordo com um novo relatório do Atlantic Council, grupo de pesquisas em Washington, as exportações chinesas de baterias de íons de lítio saltaram para US$ 65 bilhões no ano passado, contra US$ 13 bilhões em 2019. Quase dois terços dessas exportações foram para a Europa e a América do Norte. Grande parte do restante foi para o Leste Asiático, onde as baterias são frequentemente montadas em produtos que acabam por ser vendidos para a Europa ou a América do Norte.

A China recorreu à energia solar para reduzir sua dependência das importações de petróleo

Há muito tempo, a China faz dos painéis solares prioridade máxima para limitar sua dependência das importações de petróleo e outros combustíveis fósseis. Até porque essas importações percorrem rotas marítimas controladas pelos Estados Unidos ou pela Índia, outro rival geopolítico. Uma expansão dez vezes maior da capacidade de fabricação de painéis solares na China, entre 2008 e 2012, fez com que o preço mundial dos painéis caísse cerca de 75%. Consequentemente, muitas fábricas nos Estados Unidos e na Europa fecharam.

Três dos maiores produtores de painéis solares da China sofreram um colapso financeiro próprio à medida que os preços despencaram, sobrecarregando os bancos com perdas em empréstimos feitos para o setor. Mas rivais menores dentro da China conseguiram comprar essas fábricas por frações do custo original de construção. Assim, essa segunda geração de empresas conseguiu fabricar painéis mais baratos e investir em pesquisa de ponta.

A China mantém baixos salários nas fábricas, o que colabora para a competitividade de suas indústrias Gilles Sabrié/The New York Times

Hoje, as empresas chinesas fabricam quase todos os painéis solares do mundo. As exportações de células solares do país, sobre as quais a administração Biden quer aumentar as tarifas, mais do que duplicaram nos últimos quatro anos, tendo chegado a US$ 44 bilhões no ano passado. As exportações chinesas de pastilha solar — componente essencial na fabricação — aumentaram duas vezes mais depressa.

Os limites que os EUA impuseram aos chips geraram mudança na China

Os controles de exportação por parte dos Estados Unidos limitaram a venda à China de semicondutores mais avançados, que representam cerca de cinco por cento do mercado, e cercearam também o repasse das tecnologias para sua fabricação. Mas as empresas chinesas, que se beneficiam de enormes subsídios governamentais, tornaram-se mais competitivas nos outros 95% do mercado.

Os chips fabricados na China são usados em diversos equipamentos no Ocidente, incluindo carros. Até os motores a gasolina dos automóveis são controlados por semicondutores, muitos deles fabricados na China.

Por que o Ocidente só está agindo agora?

As eleições que serão promovidas em novembro nos Estados Unidos exerceram pressão política sobre o presidente Biden, exigindo que assuma uma posição dura em relação à China.

As questões comerciais também se misturaram com preocupações de segurança. O conflito da Rússia com a Ucrânia tem mostrado que as guerras podem ser decididas, em parte, a favor do lado que tem mais condições de fabricar drones, projéteis de artilharia e veículos.

A China afirma que seus crescentes superávits comerciais são o resultado legítimo da competitividade das empresas chinesas.

Jorge Toledo Albiñana, embaixador da União Europeia na China, discordou dessa retórica quando proferiu um discurso na semana passada: “Na Europa há uma pressão crescente para reagir ao que é visto amplamente como um crescimento da desigualdade de condições, cujas consequências recaem sobre nossas empresas e nossos investidores.”

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