Com queda da poupança, outros investimentos ficam mais atrativos
Especialistas avaliam aplicações na poupança, Renda Fixa e Tesouro Direto
Economia|Alexandre Garcia, do R7
Com a perda da rentabilidade da poupança após a queda da taxa básica de juros ao patamar de 8,25% ao ano, outros fundos se tornam mais atrativos para os pequenos investidores. Ainda assim, aqueles com taxas de administração elevadas seguem em desvantagem na comparação com a caderneta.
Na opinião de especialistas ouvidos pelo R7, os investidores convencionais devem continuar aplicando seus recursos no Tesouro Direto, que não cobra taxa de administração, e em fundos que oferecem a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que assegura o reembolso de até R$ 250 mil em casos de falência da instituição financeira.
O economista Marcelo Billi, da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), explica que, à medida que os juros caem, é necessário prestar maior atenção ao custo de cada uma das aplicações disponíveis no mercado.
— Quando as pessoas vão comprar uma geladeira ou um carro, elas pesquisam, vão em várias lojas, veem vários modelos e comparam as características e condições do negócio. Na hora de escolher investimento, elas acabam não dedicando tanta energia e tempo para fazer essa comparação e pesquisar as melhores condições. Sempre foi importante fazer isso, mas neste cenário atual, é mais ainda.
Poupança
A queda da taxa básica de juros a um patamar inferior a 8,5% ao ano alterou a rentabilidade dos recursos aplicados na caderneta de poupança. O investimento, que pagava 0,5% ao mês, agora oferece rentabilidade equivalente a 70% da Selic. Hoje, esse valor fica na casa de 5,79% ao ano.
Antigamente, o investidor que aplicasse R$ 10 mil na caderneta durante 12 meses obtinha um ganho de R$ 617 (6,17%) ao final do período. Agora, o mesmo investimento rende R$ 579 (5,79%) ao final dos mesmos 12 meses. Ou seja, a aplicação tem uma remuneração R$ 38 menor.
Mesmo com a alteração, o diretor-executivo de pesquisas econômicas da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade), Miguel José Ribeiro de Oliveira, diz que a poupança segue vantajosa em comparação aos fundos de investimento que têm taxas de administração superiores a 1% ao ano.
O professor de estratégia financeira do Ibmec-SP (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) Paulo Azevedo destaca que as aplicações na poupança ainda vão oferecer ganho em relação à inflação.
— Por mais que a Selic esteja caindo, a meta de inflação está abaixo do centro da meta. O governo pode se dar ao luxo de diminuir a Selic e isso não vai influenciar negativamente na última linha do investidor final.
Billi, por sua vez, orienta que o investidor que optar pela poupança deve ter atenção para manter o dinheiro na aplicação por um período maior do que um mês. Ao contrário, ele avalia que a caderneta se torna uma “conta corrente”.
— A poupança não paga a rentabilidade antes do aniversário. Às vezes, as pessoas usam a poupança ao longo do mês e vão sacando os recursos. Se ela saca tudo ao longo dos 30 dias, ela não ganha rentabilidade nenhuma.
Fundos
No caso dos fundos de renda fixa, como CDB, LCI e LCA, a economista do portal de educação financeira Meu Bolso Feliz Marcela Kawauti alerta para a necessidade de calcular, além das taxas de administração, os outros custos da aplicação.
— É importante lembrar que ele vai pagar imposto de renda nesses fundos de renda fixa. Se você tem a Selic em 8,25% e vai pagar 27,5% de imposto de renda, vai pagar 6,8% e ainda sim vale a pena em relação à poupança. [...] Mas vale lembrar que, se o fundo de renda fixa tiver um rendimento um pouco abaixo da Selic, você começa a ter uma competição um pouco mais ferrenha com a poupança.
O diretor da Anefac observa que, considerando uma aplicação em CDB, o investidor teria que obter uma taxa de juros de cerca de 85% do CDI — títulos emitidos pelo banco — para atingir o mesmo ganho da poupança nova. Na avaliação de Oliveira, as aplicações em CDB’s pagam igualmente Imposto de Renda de acordo com o prazo de resgate do investimento.
Azevedo orienta que os investidores em busca de fundos atrelados ao CDI olhem para bancos "menos famosos" na tentativa de encontrar uma rentabilidade significativamente maior.
— Para a pessoa física convencional, o CDB de um banco de varejo costuma pagar 80% ou 85% do CDI. Agora, se você pegar um CDB de um banco médio, eles pagam 110% do CDI. É uma diferença relevante. [...] Por uma questão de comodidade até, os bancos maiores não oferecem taxas tão altas.
Tesouro Direto
Investir no Tesouro Direto significa emprestar seu dinheiro para o governo. Para isso, é possível escolher títulos pré-fixados, atrelados ao IPCA, e os ligados à Selic.
Kawauti recomenda que o investidor que vai escolher o Tesouro deve se perguntar antes o motivo pelo qual ele está guardando este recurso. Ela afirma que os papéis têm uma volatilidade muito grande e é possível não conquistar o rendimento desejado se fizer a escolha errada.
— O prazo do Tesouro depende daquilo que você quer fazer com aquele dinheiro. O prazo não vai mudar o rendimento anual, só o quando você vai precisar daquele dinheiro. [...] Se for investir no IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo], tem que levar até o vencimento. Se for investir no Tesouro Selic, pode tirar antes.
O professor de estratégia financeira do Ibmec-SP explica que existe uma "tendência natural" dos títulos do Tesouro pagarem uma remuneração maior conforme o maior tempo de resgate. De acordo com Azevedo, o ideal é sempre aguardar pelo vencimento do título para receber "exatamente aquilo que foi oferecido no momento da compra".
— Se a pessoa quer ter liquidez imediata ou de curto prazo, não é recomendável comprar um título público que vence em 2024. [...] Como existem efeitos do mercado que mudam o preço de compra e venda, se você passar pouco tempo com o título, pode ganhar muito ou perder muito.