Copom se reúne nesta terça (5) com expectativa de aceleração do ritmo de alta de juros
Encontro é o primeiro após a aprovação do economista Gabriel Galípolo para comandar o Banco Central em 2025
Economia|Clarissa Lemgruber, do R7, em Brasília
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central deve pisar no acelerador e aumentar o ritmo de alta da taxa de juros da economia brasileira na reunião que tem início nesta terça-feira (5).
Economistas ouvidos pelo R7 avaliam que a instituição monetária dá sinais de que vai elevar a Selic em 0,5 ponto percentual, passando dos atuais 10,75% para 11,25% ao ano. A rodada de discussões termina nesta quarta-feira (18).
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Na última reunião, os diretores do BC decidiram, de forma unânime, aumentar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano. A alta foi a primeira desde agosto de 2022, quando o índice chegou a 13,75% ao ano.
Com preocupações sobre o cumprimento das metas fiscais, a piora nas expectativas de inflação e o dólar nas alturas, o mercado financeiro aponta que um aumento maior dos juros é necessário para tentar levar a inflação à meta.
“Mesmo com a inflação atual sob controle, a projeção de alta pode gerar comportamentos que, de fato, aceleram a subida dos preços, como reajustes salariais e mudanças na precificação de produtos e serviços", explica o economista Hugo Garbe, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Por esse motivo, diz o especialista, o Banco Central precisa agir de forma a manter essas expectativas sob controle, evitando cortes bruscos na Selic que poderiam afrouxar demais a política monetária.
O professor César Bergo, presidente na Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, lembra que a reunião do Copom ocorre em um “cenário instável internacional”, sobretudo em função da política monetária norte-americana. Ele também cita a alta do dólar entre os principais motivos para a possível aceleração da Selic.
“O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) está reticente em continuar a política de baixa da taxa de juros. No campo interno, temos uma inflação que teima em ficar elevada e a questão fiscal com essas idas e vindas, mas o preocupante é o dólar”.
Alta do dólar
Na última sexta-feira (1º), o dólar fechou a R$ 5,86, maior patamar registrado no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O valor também é o maior desde maio de 2020, durante a pandemia de Covid-19.
A alta da moeda traz impacto para as expectativas de inflação, que continuam se afastando do centro da meta de 3% – com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
“Essa questão vem preocupando porque afeta diretamente os preços aqui no Brasil em função da importação, sobretudo de alimentos, como é o caso da farinha de trigo, além da questão dos combustíveis”, explica Bergo.
Os indicadores econômicos domésticos também apresentam um “contexto contraditório”, segundo Igor Medeiros, sócio e consultor da Andaluz Consultoria de Investimentos.
Ele lembra que a taxa de desemprego, conforme os últimos dados da Pnad, atingiu 6,4%, nível inferior aos números pré-pandemia e ao de períodos históricos como 2012.
Medeiros aponta que esse dado, embora demonstre certo aquecimento econômico, não reflete a real qualidade desse aquecimento. E isso é motivo de preocupação para o Copom.
“Além disso, o crescimento do PIB brasileiro, na perspectiva de parcela do mercado, não apresenta uma sustentação robusta, sendo insuficiente para reduzir significativamente o hiato do produto e estabilizar o câmbio”, afirma o consultor.
Aumento do ritmo não é consenso
O aumento do ritmo de alta dos juros não é consenso entre os economistas. Hugo Garbe, por exemplo, não descarta a possibilidade de um ajuste mais intenso, mas avalia que a expectativa, para ele, é de manutenção do ritmo de alta em 0,25 ponto percentual.
O que faria sentido por seguir a “postura cautelosa” adotada até o momento. O economista destacou que o aumento do ritmo de alta dos juros depende de mudanças no panorama econômico.
Ele explicou ainda que essa reunião será importante para entender até onde o Banco Central está disposto a ir para ajustar a política monetária, apoiar o crescimento econômico e, ao mesmo tempo, manter a estabilidade de preços.
“O Copom busca um equilíbrio: estimular a economia sem abrir mão do controle inflacionário. É provável que o comitê mantenha a estratégia de cortes graduais, observando de perto os desdobramentos internos e externos", considera Garbe.
O especialista aponta que uma mudança para cortes mais expressivos “só aconteceria se as condições globais melhorassem ou se a inflação interna permanecesse estável por um período prolongado, mesmo com as pressões externas”.
Eleições nos EUA
Segundo Garbe, as eleições nos EUA adicionam um “componente de incerteza”, influenciando os fluxos de capital e a percepção de risco em mercados emergentes como o Brasil.
“Se o cenário externo se tornar mais instável, é possível que os investidores busquem ativos mais seguros, o que poderia levar à saída de recursos do país e pressionar a inflação. Isso, por sua vez, limitaria a possibilidade de cortes mais agressivos na taxa de juros, para manter a atratividade da renda fixa brasileira e evitar a fuga de capital”, afirma.
As eleições presidenciais norte-americanas ocorrem nesta terça-feira (5). Ao todo, 75 milhões de pessoas já votaram. Segundo pesquisa do AtlasIntel, Donald Trump e Kamala Harris travam uma disputa acirrada, com 49% e 47% das intenções de voto, respectivamente.
Na avaliação de Medeiros, o mercado, neste momento, está voltado para as eleições norte-americanas.
“A expectativa em torno da candidatura de Kamala Harris é vista, a princípio, como mais benéfica para países emergentes. Contudo, o retorno de Donald Trump à disputa reacende a discussão sobre temas como uma possível maior proteção da economia americana, fortalecimento do dólar, aumento da dívida soberana e pressões inflacionárias nos Estados Unidos", analisa.
Ele continua o raciocínio: “A vitória de Harris sugere uma continuidade da agenda econômica atual, enquanto uma possível reeleição de Trump intensificaria um cenário de dólar forte e políticas protecionistas, o que poderia aumentar a aversão ao risco e tornar mais competitivo o fluxo de capital para mercados emergentes, como o Brasil”, explicou.