Dólar fecha a R$ 5,29, maior patamar em um ano e meio
Valor do dólar atinge maior cotação desde janeiro de 2023 e Ibovespa recua pela sexta vez seguida, acima dos 121 mil pontos
Economia|Do R7, com Agência Estado
O dólar voltou a fechar em alta nesta quarta-feira (5) de 0,23%, a R$ 5,2977, após chegar à marca de R$ 5,30, o maior valor desde janeiro de 2023. A moeda norte-americana já havia registrado valorização de quase 1% frente ao real na terça-feira.
O movimento reflete vários motivos, como a desconfiança com mercados emergentes, após as eleições no México e na Índia, dados econômicos dos Estados Unidos, a perspectiva de aberto monetário e percepção de risco fiscal no Brasil.
Já o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, fechou em baixa nesta quarta-feira (5), na sexta queda consecutiva. Com pressão das ações da Vale (VALE3), o índice terminou o dia em desvalorização de 0,32%, aos 121.407,33 pontos, após oscilar entre máxima, a 122.170,07 pontos, e mínima, a 121.253,01 pontos.
“O peso mexicano tinha se desvalorizado muito e de forma muito rápida. Vemos hoje um a uma pequena recuperação. Tivemos volatilidade no real, mas o quadro ainda é de dólar bem firme”, afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, que não vê fatores que possam levar a um alívio no câmbio no curto prazo, embora não acredite em alta mais forte com a taxa acima de R$ 5,30.
“O real teve desempenho pior que as outras moedas nos últimos meses. Precisamos de um ‘trigger’ (gatilho) interno, algo positivo relacionado ao fiscal ou a sucessão no Banco Central. Mas isso parece difícil.”
Na terça, o Ministério da Fazenda apresentou Medida Provisória que estipula a limitação de créditos de PIS/Cofins para reverter as perdas de receita com a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores. O potencial de arrecadação seria de até R$ 29,2 bilhões.
A proposta, contudo, já começou a ser bombardeada nesta quarta por setores como indústria e agronegócio. A bancada do agro no Congresso avisou que pedirá a devolução da MP.
Para o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, a estratégia do governo de busca por ampliação de receitas para zerar déficit primário parece exaurida, como mostra “o imbróglio da Medida Provisória do PIS/Cofins”.
Sem anúncio de corte de gastos, a percepção de risco fiscal aumenta, o que afasta investidores de ativos domésticos. “Os estrangeiros já tiraram quase R$ 36 bilhões da B3 em 2024 e não dão sinais de que vão voltar”, afirma Galhardo.
“Estamos mais para ver o dólar acima de R$ 5,30 do que uma volta para perto de R$ 5,00, como se esperava até pouco tempo atrás.”
À tarde, o BC informou que o fluxo cambial total foi negativo em US$ 428 milhões em maio, com saída de US$ 6,526 bilhões pelo canal financeiro e entradas de US$ 6,098 bilhões via comércio exterior (em termos líquidos). No ano, até maio, o fluxo total é positivo em US$ 6,120 bilhões, graças à entrada de US$ 33,725 bilhões do lado comercial.
Nos EUA, saíram dados divergentes nesta quarta. Enquanto o relatório ADP mostrou geração de vagas abaixo do esperado no setor privado, o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) teve alta superior às expectativas em maio. As chances de um corte inicial de juros pelo Federal Reserve a partir de setembro já se aproxima de 70%.Na quinta-feira, sai a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), com projeção de corte de 25 pontos-base. Nos Estados Unidos, a expectativa é pela divulgação na sexta-feira, 7, do relatório oficial de emprego (payroll) de maio.