Dólar mantém escalada e fecha pela quarta vez seguida com recorde de R$ 6,06
Moeda americana teve alta de 1,13% nesta segunda-feira (2) e chegou a registrar R$ 6,09 na máxima do dia
Economia|Do R7
O dólar manteve escalada e fechou pela quarta vez seguida com recorde. Nesta segunda-feira, a moeda americana teve alta de 1,13%, terminando a sessão a R$ 6,0685. Na máxima durante o dia, chegou a R$ 6,09. No acumulado dos últimos 12 meses, a divisa já registra valorização de 21%.
Entre os fatores internos para a alta da moeda estão a desconfiança do mercado em relação ao pacote fiscal apresentado pelo governo federal e a preocupação com trajetória da dívida pública no país. Analistas apontam que há dúvidas se o pacote passará pelo Congresso sem nenhum tipo de mudança.
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Já entre os fatores externos, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que vai impor tarifa de 100% ao Brics, caso os países tentem substituir o dólar em suas transações comerciais. O bloco econômico é formado por economias emergentes como o Brasil, Índia e a África do Sul, além de potências como a China. A ameaça acaba fortalecendo a moeda globalmente.
“Globalmente, a valorização do dólar também está associada à fraqueza do euro, pressionado por fatores como as declarações de Donald Trump sobre o Brics, a queda do PMI japonês abaixo do esperado e a crise política na França. Tanto o euro quanto o iene registraram perdas frente ao dólar, contribuindo para o fortalecimento do índice DXY”, destaca Diego Gardi, gerente comercial e analista da B&T Câmbio.
Para o economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, o real ainda se recente da frustração dos investidores com o pacote fiscal do governo e os “ruídos” provocados pela divulgação em conjunto da isenção de Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil mensais, embora esta medida tenda a ser apreciada pelo Congresso em 2025.
”Obviamente que a declaração de Trump sobre os Brics pesa. E o enfraquecimento do euro com o impasse no orçamento na França ajuda a fortalecer o dólar globalmente. Mas a questão fiscal ainda tem papel preponderante na depreciação do real”, afirma Costa, para quem a economia com as medidas anunciadas ficará em torno de R$ 40 bilhões e R$ 45 bilhões, muito aquém dos R$ 71,9 bilhões estimados pelo governo para 2025 e 2026.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu nesta segunda-feira no Palácio do Planalto com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e líderes do governo no Congresso para discutir a tramitação do pacote fiscal.
Na última sexta-feira (29), tanto o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quanto o do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), prometeram celeridade na apreciação do plano fiscal no Congresso. Ambos alertaram que a isenção do IR avançará apenas se não comprometer o equilíbrio das contas públicas. Também na sexta-feira, Haddad, em almoço de fim de ano da Febraban, acenou com novas medidas de contenção de gastos, amenizando parcialmente e de forma bem pontual as pressões sobre a moeda brasileira.
Para Costa, da Monte Bravo, apesar das sinalizações de Haddad, a avaliação é a de que o governo mostra uma incapacidade de gerar resultados primários para cumprir as metas do arcabouço fiscal - o que compromete os esforços para estancar o crescimento da relação entre dívida/PIB e, por tabela, aumenta os prêmios de risco embutidos nos ativos locais.
”Haddad falou em novas medidas, mas não deve ser algo para o curto prazo. Não há razão para um alívio nessa percepção de risco que possa trazer o dólar para baixo”, diz Costa, ressaltando que uma eventual aceleração do ritmo de alta da taxa Selic já está embutida nos juros futuros e não deve estimular uma recuperação do real.
“Acredito que apenas uma fala do próprio Lula de compromisso com o ajuste fiscal e a agenda de Haddad pode diminuir o estresse.”
Pela manhã, em evento da XP Investimentos, o diretor de política monetária e futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, fez novamente a defesa do regime de câmbio flutuante e reiterou que a autoridade monetária intervém no mercado de câmbio apenas em caso de “disfuncionalidade” - que, segundo operadores, pode ocorrer com problemas de liquidez e saídas atípicas de recursos.
A edição desta segunda-feira do Boletim Focus trouxe uma estabilização na projeção para o dólar ao final de 2024, que vinha em alta por seis semanas consecutivas. O mercado agora espera que a moeda americana encerre o ano em R$ 5,70; para isso, o dólar teria que cair 5% em dezembro. A estimativa para 2025 aumentou de R$ 5,55 para R$ 5,60, enquanto a de 2026 subiu de R$ 5,50 para R$ 5,60.
*Com Estadão Conteúdo