Dólar salta 1,35% frente ao real, a R$ 5,28, e Ibovespa fica abaixo dos 110 mil pontos
Investidores temem a aprovação de gastos extrateto perto dos R$ 200 bilhões, como proposto originalmente na PEC da Transição
Economia|Do R7
O dólar saltou frente ao real nesta segunda-feira (5), com o receio de investidores de que os gastos extrateto embutidos na PEC da Transição sigam próximos dos R$ 200 bilhões, enquanto sinais de resiliência da economia dos Estados Unidos respaldaram a força de sua moeda.
Na venda, o dólar à vista avançou 1,35%, indo a R$ 5,2844. Trata-se da maior valorização percentual diária desde 25 de novembro (+1,84%) e do patamar de encerramento mais alto desde terça-feira (29), quando a moeda americana atingiu R$ 5,2883.
Lideranças do Senado e da Câmara acertaram, na manhã desta segunda, que o texto da PEC (proposta de emenda à Constituição)da Transição terá vigência por dois anos e que será mantido o valor original proposto — o que permite uma exceção no teto de gastos de até R$ 198 bilhões, para custear o Bolsa Família, entre outros pontos, afirmou Marcelo Castro (MDB-PI), relator-geral do Orçamento de 2023.
"Toda essa articulação e a possibilidade de que seja uma PEC beirando os R$ 200 bilhões ou colocando muita coisa fora do teto além do Auxílio Brasil [futuro Bolsa Família] geram essa valorização do dólar", disse Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital.
Segundo especialistas, as preocupações dos investidores sobre o aumento no limite de gastos, pleiteado pelo governo eleito, têm sido exacerbadas pela indefinição de quem será o ministro da Fazenda de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Lula disse que só deve anunciar o nome de seus ministros depois da diplomação presidencial, no dia 12 de dezembro. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad é atualmente visto como o favorito para assumir o Ministério da Fazenda.
"Justamente por ser um nome muito mais político do que técnico, [Haddad] demonstraria uma incerteza fiscal maior", avalia Izac.
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No exterior, dados do setor de serviços dos Estados Unidos, mais fortes que o esperado, desencadearam uma piora generalizada no humor dos mercados globais, alimentando a disparada do dólar frente ao real.
O ISM (sigla em inglês para o Instituto de Gestão do Fornecimento) informou nesta segunda-feira que o resultado obtido pelo setor de serviços, acima do projetado para novembro, pode reforçar temores de que o Fed (Federal Reserve) continuará agressivo no aperto da política monetária, de forma a esfriar a economia e conter a inflação.
Além disso, o índice que compara o dólar a seis moedas fortes disparava 0,85% nesta tarde.
Mercado de ações brasileiro
O Ibovespa fechou em queda nesta segunda-feira, abaixo dos 110 mil pontos, com Wall Street corroborando o rumo negativo depois de uma semana de ganhos no pregão brasileiro. O índice de referência do mercado acionário brasileiro caiu 2,3%, indo a 109.349,37 pontos, de acordo com dados preliminares.
O volume financeiro somava R$ 19,6 bilhões, tendo diminuído o ritmo à tarde, com o jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo. No ano, a média diária é de R$ 29,95 bilhões; em novembro, foi de R$ 35,35 bilhões.
Política monetária
Investidores aguardam a reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, que começará na terça-feira (6) e se encerrará na quarta (7). Embora haja consenso no mercado de que a taxa Selic será mantida nos atuais 13,75%, há atenção extra a qualquer indicação do órgão sobre como as atuais incertezas fiscais podem afetar a decisão sobre os juros.
"O Copom deve reforçar sua postura cautelosa com o processo desinflacionário em curso, talvez aumentando o tom sobre a possibilidade de alta da taxa de juros", disse o Citi, em relatório, mesmo considerando o cenário de manutenção da Selic nesta semana.
Diante da perspectiva de fortes gastos extrateto pelo governo eleito, a curva de juros brasileira chegou a precificar novos aumentos da Selic em 2023, enquanto a mais recente pesquisa semanal Focus, do Banco Central, sugere um afrouxamento monetário menos intenso ao longo do ano que vem.
Apesar das incertezas de curto prazo, "o cenário básico para o real é bom", afirmou Izac, da Nexgen. "Estamos vivendo uma onda de valorizaçao de commodities e temos uma taxa de juros real que está entre as melhores do mundo, então o cenário básico é de um real mais forte, cada vez mais perto dos 5 [por dólar]", avaliou o especialista.
"O que o mercado não gosta é do clima de indefinição. A partir do momento em que tiver uma melhor definição fiscal, seja boa ou ruim, o mercado começa a se adaptar e pode recuperar fôlego", finalizou Izac.