O brasileiro já sabia que 2015 seria um ano difícil, mas sentir na pele os efeitos da crise dói muito mais do que as previsões mais pessimistas. A energia subiu, comer fora de casa está mais salgado, a gasolina aumentou, a escola do filho está mais pesada no bolso, o plano de saúde teve reajuste. Para completar, o desemprego atingiu o maior nível em cinco anos.
Agora, o temor de perder o emprego já é uma realidade para milhões de brasileiros. Se as notícias são ruins para a economia, em geral, o mercado de alimentação — especialmente o segmento de panificação e confeitaria — resiste, mantém os empregos, faz negócios e se ainda apresenta como opção para gerar renda extra em casa. Como? Na sua própria cozinha.
Afinal, quem deixa de comer o pãozinho no café da manhã todos os dias mesmo com a crise? “Estamos conseguindo manter o consumo do pão e dos produtos consumidos dentro da padaria. Esses produtos são extremamente baratos e a população pode adquirir com facilidade”, explica o presidente do Sindipan (Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria), Antero José Pereira.
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O mesmo raciocínio vale para os aniversários de criança, casamentos e até eventos corporativos e os tradicionais docinhos. É aí que pinta a chance de ganhar dinheiro em casa — sem patrão, sem empregado e de acordo com a criatividade e o tempo livre. Donas de casa podem fabricar e conseguir uma média de R$ 3.000 com trufas, bombons, pães de mel e bolos.
Acostumado a treinar donas de casa para fabricar docinhos, o chef confeiteiro Márcio Lopes explica que “muita gente que não perdeu o emprego já está procurando uma alternativa, então, está se precavendo de algo que possa acontecer no futuro. [...] É uma fonte extra de renda por causa da situação do País”.
— Para quem faz docinhos como brigadeiro, bicho de pé, beijinho, trufas recheadas, é um bom segmento, porque hoje tem festas infantis para todos os lados, além de casamentos. Se a dona de casa produzir só isso, a renda mensal média pode render entre R$ 1.000 ou R$ 2.000 para começar. Isso vendendo 300 docinhos por dia.
Para isso, diz Lopes, é necessário reservar pelo menos duas horas do dia para fazer cerca de 400 docinhos. “No fim do dia, se vender tudo, você consegue R$ 150 a R$ 200”, justifica.
O mestre confeiteiro Alexandre Bispo reforça essa possibilidade de renda extra com doces em pequenas porções porque “alimento é um produto que dá muito lucro”.
— Pensando numa dona de casa que só vai fazer trufa e pão de mel, ela consegue ter uma renda mensal de R$ 3.500 ou R$ 4.000, se ela se dedicar ao negócio numa cidade grande.
Coordenador de uma equipe de 54 professores de confeitaria espalhados pelo País, Bispo alerta para as armadilhas desse tipo de negócio. O principal erro das donas de casa é diversificar demais o negócio.
— É muito comum, quando você está aprendendo, você fazer um monte de produtos e não ter o controle dos custos. Então, você faz doce, faz bombom, faz bolo, faz trufa, faz pão de mel etc. É um erro porque a matéria-prima que você comprou não foi totalmente usada, então fica encalhada, porque não chegou mais encomendas.
Além disso, o profissional adverte que “as pessoas que trabalham na área são tão apaixonadas pelo que fazem que se esquecem de fazer levantamento de custos” — outro erro, uma vez que a dona de casa precisa controlar receitas e despesas.
— Então, o primeiro passo é decidir uma linha de produto: só faz trufa, ou só pão de mel, ou só barrinha, ou só macarones, ou só sobremesa... Depois que o negócio engatar, você aumenta o seu cardápio e começa a diversificar porque já estará dominando o assunto. Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo.
Como começar?
Se você não tem — e acha que não tem — nenhum talento para criar doces e conseguir uma grana extra, oIDPC (Instituto do Desenvolvimento de Panificação e Confeitaria) pode ser o caminho para você dar os primeiros passos no seu negócio próprio. A entidade tem diversos cursos, desde como brigadeiros até novas tendências como ‘naked cake’ e decoração de bolos.
O presidente do Sindipan destaca que a escola recebe desde pessoas que não têm familiaridade nenhuma com confeitos e panificação até mestres experientes. A duração e o valor dos cursos variam, mas há opções para todos os gostos e bolsos, diz Pereira.
— Na nossa escola, passam cerca de 1.900 pessoas por ano em treinamentos nos cursos de curta duração, de uma semana e até de 30 dias. No caso dos cursos de longa duração, de cerca de 18 meses, passam 70 ou 80 pessoas.