Economistas preveem queda menor da taxa de juros nesta quarta, dia de decisão do Copom
Redução deve ser de 0,25 ponto percentual, deixando Selic a 10,50% ao ano e pondo fim ao ciclo de cortes de 0,5 ponto percentual
Economia|Clarissa Lemgruber, do R7, em Brasília
O cenário de incertezas sobre a economia mundial e local deve levar o Banco Central a reduzir o ritmo de cortes da taxa básica de juros, a Selic, na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). A avaliação é de economistas ouvidos pelo R7, que apostam em uma redução de 0,25 ponto percentual, pondo fim ao ciclo de cortes de 0,5 ponto percentual. Dessa forma, a Selic passaria de 10,75% para 10,50% ao ano. O Copom está reunido nesta semana para definir o novo patamar de juros — o encontro começou nessa terça-feira (7), mas o resultado será divulgado nesta quarta (8).
Leia mais
Para o economista Hugo Garbe, além das incertezas macroeconômicas “persistentes”, a previsão de redução de 0,25 ponto percentual considera a recente sinalização do Banco Central de desacelerar o ritmo de cortes.
“Um ajuste mais conservador na política monetária reflete uma abordagem prudente frente às incertezas fiscais e políticas internas, além de responder ao contexto externo estabilizado, especialmente considerando as decisões do Fed (Federal Reserve), o Banco Central dos Estados Unidos, de manter os juros”, afirmou.
O economista e especialista em educação financeira Newton Marques afirmou que a decisão deve dividir opiniões entre os membros do comitê, mas a redução de 0,25 ponto percentual deve prevalecer, mesmo “à custa de pressão dos membros do Copom que querem manter estável a Selic”.
“Há uma preocupação com as incertezas da economia mundial, bem como alguns indícios de que estamos atingindo o pleno emprego, o que provocaria um excesso de demanda por bens e serviços. E isso já vem sendo mostrado com a alta dos juros futuros negociados no mercado financeiro”, disse.
No encontro de março, o Copom informou que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependeria da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Na avaliação do economista Augusto Mergulhão, apesar do cenário incerto, um corte de 0,5 ponto percentual na taxa de juros não está fora de cogitação.
“O comunicado, provavelmente, enfatizará a importância do compromisso com a meta e a disciplina fiscal. O presidente Roberto Campos Neto tem sido cauteloso em sua comunicação. Então, os cortes de juros provavelmente seguirão conforme o planejado, mas com eventual ressalva para o corte das próximas reuniões.”
Impacto da manutenção dos juros norte-americanos
No último dia 1º, o Fed anunciou a manutenção dos juros norte-americanos no intervalo de 5,25% a 5,50%. Com isso, a taxa de juros permanece no mesmo patamar desde julho do ano passado.
Segundo Hugo Garbe, a manutenção das taxas pelo Fed fornece um “pano de fundo de estabilidade” que permite ao Copom manejar a política monetária com foco nas condições internas sem pressões exacerbadas por instabilidades externas.
“Assim, uma redução mais lenta da Selic pode moderar a inflação e sustentar o crescimento econômico ao equilibrar o custo do crédito e os incentivos ao investimento, enquanto administra as expectativas inflacionárias no médio prazo”, explicou.
Mergulhão ressalta ainda que a manutenção dos juros norte-americanos afeta os mercados globais, incluindo o Brasil, e pode influenciar a política monetária do Copom, sugerindo um pouco mais de cautela. Ele explica que é importante entender o dinamismo da correlação entre taxa de juros e o fluxo de capital.
“A reação não é simples. No entanto, vemos um grande movimento de fuga de capital para economias desenvolvidas, devido aos juros mais altos nos EUA e à instabilidade geopolítica. Isso causa a desvalorização do real e a volatilidade no mercado brasileiro. O capital estrangeiro busca segurança no dólar, levando à desvalorização da moeda brasileira frente à moeda americana e impactando os custos de produção, uma vez que muitos insumos são importados. Isso beneficia exportadores, mas prejudica importadores e pode pressionar a economia brasileira”, afirmou.