Logo R7.com
Logo do PlayPlus

Em ata, Copom diz que não hesitará em elevar taxa de juros ‘se julgar apropriado’

Afirmação foi feita de forma unânime por todos os diretores do comitê; Banco Central cita ‘cenário global desafiador’

Economia|Do R7, em Brasília


Na ata, Copom avalia que cenário é desafiador Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central informou em ata divulgada nesta terça-feira (6) que “não hesitará” em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação para a meta de 3%. No texto, o comitê, responsável pela análise e definição da Selic, reforçou que a afirmação foi feita de forma unânime por todos os diretores do colegiado.

Leia mais

No documento, o Banco Central cita um “cenário global desafiador” e avalia que o desenrolar será “particularmente importante” para definir os próximos passos de política monetária.

“O comitê, unanimemente, avalia que o momento corrente é de ainda maior cautela e de acompanhamento diligente dos condicionantes da inflação, sem se comprometer com estratégias futuras”, diz o texto.

Na última quarta-feira (31), o Copom decidiu de forma unânime manter a taxa básica de juros em 10,5% ao ano. A decisão veio alinhada às expectativas do mercado, que esperava a manutenção da Selic devido à alta do dólar, à deterioração de expectativas de inflação e a um câmbio mais desvalorizado.


No comunicado, o comitê avaliou que o cenário externo, “também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes”. O Copom também analisou o mercado interno, com medidas de inflação subjacente acima da meta nos últimos resultados e expectativas para 2024 e 2025 em 4,1% e 4%, respectivamente.

Na ata, o BC afirma que as projeções de inflação ficaram em 4,2% para 2024 e 3,4% para 2025, considerando a Selic constante em 10,5% ao longo do horizonte relevante. Segundo o texto, todos os membros concordaram que há mais riscos para cima na inflação, inclusive com “vários membros” enfatizando a “assimetria” do balanço de riscos.


“O comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional exigem ainda maior cautela na condução da política monetária. Em particular, os impactos inflacionários decorrentes dos movimentos das variáveis de mercado e das expectativas de inflação, caso esses se mostrem persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância”, informa o documento.

Sequência de queda na Selic foi interrompida em junho

Esta é a segunda vez consecutiva que a taxa de juros foi mantida em 10,5% ao ano. Na última reunião, em junho, o Banco Central interrompeu, em decisão unânime, o ciclo de cortes da taxa básica de juros iniciado em agosto do ano passado.


A velocidade dos cortes da Selic já vinha caindo. De agosto de 2023 a março de 2024, o comitê reduziu, a cada reunião, os juros básicos em 0,5 ponto percentual. Já na reunião de maio, a redução foi de 0,25 ponto percentual.

No comunicado do mês passado, o Copom reiterou que a Selic deve se manter em patamar elevado por tempo suficiente para que a inflação e suas expectativas voltem para perto da meta.

A Selic é o principal instrumento do BC para alcançar a meta de inflação. A prévia da inflação de julho ficou em 0,3%, acima da expectativa do mercado. O IPCA-15 acumulado nos últimos 12 meses teve alta de 4,45%. O resultado encosta no limite do teto da meta seguida pelo Banco Central, que é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima (4,5%).

Críticas ao presidente do Banco Central

A decisão ocorre em meio às recentes críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto. O petista chegou a afirmar no mês passado que o presidente do BC não demonstrava “autonomia”, tinha “lado político” e trabalhava para “prejudicar” o país.

“Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante: o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país. Não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, afirmou Lula, na ocasião.

Nessa sexta-feira (26), o petista voltou a criticar Campos Neto. Ele questionou se a autoridade monetária tinha respeito pela população.

“O cidadão, jovem, bem-sucedido na vida, diz o seguinte: esse negócio de aumento do salário mínimo e da massa salarial crescendo pode gerar inflação. Significa que para não ter inflação, o povo precisa ganhar pouco? É preciso? Será que essa pessoa não tem respeito? Será que as pessoas pensam que alguém ganha salário mínimo porque quer ganhar salário mínimo? Que é pobre porque quer ser pobre? Não”, argumentou.

Histórico

De março de 2021 a agosto de 2022, o Banco Central elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo de “aperto monetário” em resposta à alta dos preços de alimentos, energia e combustíveis. Por um ano, de agosto de 2022 a agosto de 2023, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.

Desde agosto de 2023, começou a sequência de cortes de 0,5 ponto percentual em cada reunião, até maio, quando a redução foi de 0,25 ponto porcentual, em placar dividido, quando quatro diretores indicados pelo governo Lula votaram por corte maior, de 0,5.

Entenda a Selic

A taxa básica de juros é uma forma de piso para os demais juros cobrados no mercado. Ela serve como o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle, perto da meta estabelecida pelo governo. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam alternativas de investimento.

Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando os juros básicos são reduzidos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo.

A Selic é usada nos empréstimos entre bancos e nas aplicações que as instituições financeiras fazem em títulos públicos federais.

É a taxa de juros que os bancos pagam para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo em empréstimos ou financiamentos. Por esse motivo, os juros que os bancos cobram dos consumidores são sempre superiores à Selic.

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.