O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu a autonomia do órgão, nesta terça-feira (7). Ele afirmou que quer principalmente desvencilhar o ciclo de política monetária do ciclo político, porque os dois ciclos têm "diferentes lentes e diferentes interesses". A fala ocorre em meio às críticas recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à autonomia do BC, ao nível dos juros e à atual meta de inflação, que seria baixa, de acordo com o petista. O mandatário também criticou pessoalmente o presidente do Banco Central.Na segunda-feira (6), Lula chamou de "vergonha" a decisão de manter a taxa básica de juros da economia brasileira no maior patamar em seis anos, em 13,75% ao ano. Com juros maiores, fica mais caro tomar um empréstimo, por exemplo. Campos Neto também argumentou que a independência aumenta a eficiência da política monetária. Assim, reduz o custo da alta de juros para a população. "Acho que é muito importante por diferentes razões. A principal razão, no caso da autonomia do BC, é desconectar o ciclo de política monetária do ciclo político, porque eles têm diferentes lentes e diferentes interesses. Quanto mais independente você é, mais efetivo você é, e menos o País vai pagar em termos de custo-benefício da política monetária." A declaração foi feita em palestra no evento 2023 Milken South Florida Dialogues, em Miami, nos Estados Unidos, após ele ser questionado sobre os benefícios da autonomia. O presidente do BC usou o exemplo da agenda de inovação, iniciada pelo ex-presidente do órgão, Ilan Goldfajn. Segundo Campos Neto, é preciso sempre pensar em melhorar o trabalho anterior e só criticar o legado anterior é um problema. "Ilan está aqui, começou um grande trabalho, falando sobre inovação. Então cheguei lá, a pressão era muito grande, porque ele fez um trabalho maravilhoso e pensei: como posso melhorar o que foi feito. Um problema que nós temos é sempre criticar o legado. Nós precisamos entender que, quando chegamos a um trabalho, nós precisamos olhar o que pode ser melhorado. Não acho que você se parece melhor criticando o que foi feito." O presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), João Pedro Nascimento, afirmou que a autarquia tem independência desde 2002, mas não tem autonomia financeira. A CVM é responsável por fiscalizar o mercado financeiro e as empresas que operam nele no Brasil. "No fim do dia, não temos dinheiro suficiente para investir e enfrentar os desafios que temos." Campos Neto afirmou ainda que a moeda digital da instituição, chamada de CBDC, será o instrumento que une a agenda tecnológica, que tem entre os seus pilares o Pix e o Open Finance. "Os dois primeiros blocos da agenda estão bem Pix e Open Finance. Se eu tiver um trilho comum e algo que conecte tudo e seja aberto, eventualmente conseguiremos ter competição e portabilidade online, que é o que queremos", disse ele. De acordo com Campos Neto, a organização fornecida pela moeda é a chave para a próxima etapa. Ele afirmou que a agenda tecnológica almejada prevê a inclusão financeira e a redução de barreiras de entrada. "Precisamos ter mais gente bancarizada, nos serviços de pagamento. Precisamos que as pessoas se juntem ao sistema e precisamos disso de forma rápida". Campos Neto acrescentou que os bancos já começaram, por exemplo, a ver os benefícios do Pix, inclusive já começaram a conceder crédito com esse instrumento. "Os bancos estão entendendo que a plataforma é uma forma de eles fazerem produtos diferentes e reduzirem os custos", afirmou. "Sim, terão custo para desenvolver a tecnologia, mas no final poderão fazer muitas coisas que fazem hoje com menos custos."