Famílias da classe C gastam um terço da renda com alimentação
Perda do poder de compra se agravou com a pandemia; já a classe mais pobre chega a comprometer mais da metade da renda
Economia|Da Agência Brasil
As famílias da classe C, que ganham entre R$ 5,2 mil e R$ 13 mil mensais, gastam, em média, um terço, o equivalente a 33,3%, dos rendimentos com alimentação.
A informação faz parte da pesquisa divulgada nesta terça-feira (25) pelo Instituto Locomotiva.
Já as famílias mais pobres gastam mais da metade do dinheiro recebido mensalmente na compra de alimentos. Com rendimentos entre R$ 1,3 mil e R$ 5,2 mil, essas famílias, classificadas como classes D e E, usam 50,7% do que recebem no mês com comida.
Entre as famílias da classe B, com rendimento de R$ 13 mil a R$ 26 mil, o percentual da renda comprometida com alimentação cai para 13,2%.
O estudo foi encomendado pela empresa de benefícios VR.
De acordo com o estudo, para a classe C, os benefícios como vale-refeição e vale-alimentação representam, em média, entre 3% e 8,5% dos gastos com alimentação. Para as classes D e E, esses benefícios chegam a cobrir 33% dessas despesas.
A classe C, segundo a pesquisa, representa no Brasil aproximadamente 109 milhões de pessoas, a maioria negras (60%). Quase a metade dessas famílias são chefiadas por mulheres (49%), e 52% dessa população não concluiu o ensino médio. “Chefiados por mulheres porque parte é mãe solteira”, detalha o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles.
Poder de compra
Nos últimos anos, em um processo agravado pela pandemia da Covid-19, Meirelles disse que houve perda do poder de compra dessas famílias. “Há cinco anos, com 40% do valor de um salário mínimo dava para comprar uma cesta básica. Hoje, 59% do valor do salário mínimo dá para comprar uma cesta básica. Ou seja, o poder de compra de alimentos, dos itens básicos, diminuiu”, explicou.
Por isso, de acordo com ele, esses consumidores se tornaram ainda mais atentos aos produtos que consomem. “Uma radicalização do custo-benefício, que passa a ser muito mais exigente nos produtos que ele está comprando, na relação qualidade versus preço do que ele tá comprando”, ressalta.
Nessa camada da população, estratégias, como as adotadas por várias marcas, de reduzir o tamanho das embalagens ou a qualidade da composição dos produtos como forma de disfarçar aumento de preços tendem, segundo Meirelles, a ser especialmente mal vistas.
“O custo do erro na classe C é muito maior. Então, se o consumidor da classe C compra um produto que está mais barato, mas não entrega o que promete, ele vai ter que comer aquele produto o mês inteiro, porque a grana que ele tinha para aquele produto era contada”, explica, sobre o impacto da redução da qualidade nessas famílias.
“Dentro do que cabe no bolso, ele vai buscar a melhor qualidade, é esse o movimento que veio para ficar, isso não vai mudar”, acrescenta o pesquisador.
Endividamento
Segundo a pesquisa, oito em cada dez famílias da classe C têm dívidas em aberto, sendo que um em cada três está inadimplente. De acordo com Meirelles, muitas vezes as dívidas são contraídas como forma de garantir o consumo de itens básicos. “Quando o salário acaba e o mês não, a classe C que tem cartão de crédito vai ao supermercado ou à farmácia e compra com o cartão de crédito, para ganhar 20 dias para pagar”, disse.