Informais e autônomos sofrem para conseguir renda com a quarentena
Com a economia parada, profissionais que não têm carteira assinada se arriscam para conseguir sobreviver em meio ao isolamento devido à covid-19
Economia|Karla Dunder, do R7
O motorista de aplicativo Enéas José Coelho, de 69 anos, parou de trabalhar na última quinta-feira (19) em função do isolamento social para o combate à covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. Sem poder rodar, a renda de Enéas despencou.
"A quarentena traz dificuldades porque afeta diretamente o ganho diário. Não tinha feito um planejamento prévio e também não tem muito como pensar em um plano B neste momento, porque está tudo parado", avalia.
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Aposentado, seu Enéas usa as corridas com passageiros para complementar o orçamento doméstico. "Tenho gastos com saúde, alimentação e o valor recebido pela aposentadoria não é suficiente."
Essa é a situação de muitos trabalhadores informais no Brasil. Com o isolamento social, não há nem trabalho nem renda. De acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 38,6 milhões de brasileiros estão na informalidade.
Há um projeto de lei na Câmara dos Deputados que prevê o pagamento de um salário mínimo (R$ 1.045) para os trabalhadores informais em quarentena, mas enquanto não há uma definição, o jeito é seguir trabalhando, mesmo com receio de ser infectado pela doença ou transmitir para outros.
"Não podemos parar porque ganhamos por entrega e a quantidade de pedidos caiu", diz o Edgar Francisco da Silva, 37 anos, e presidente da AMA-BR (Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil). Edgar explica que houve um aumento nas entregas de delivery, no entanto, caíram as entregas administrativas, aquelas feitas pelas empresas.
"Com as empresas paradas, o volume de entregas caiu muito, o que era o carro-chefe das entregas. Mesmo o e-commerce não é tão rentável, porque existe uma insegurança sobre o que vai acontecer. Ninguém quer gastar dinheiro agora", observa. "Não tivemos nenhum apoio das empresas, nem com relação à segurança no trabalho muito menos com relação ao valor pago pelas entregas."
Rogério Botelho Kohn, 50 anos, trabalha como motorista de aplicativo em Campinas, interior de São Paulo, e também notou que o número de passageiros diminuiu. Mesmo assim, optou por continuar nas ruas. "O movimento caiu entre 50% e 60%, tenho levado pessoas aos mercados, farmácias e hospitais basicamente", conta. "Não pretendo parar, entendo que esse é um serviço essencial."
Segundo Rogério, o que facilita um pouco a vida foi o desconto dado pela locadora no valor do aluguel do carro. "Esse abatimento me permite rodar mesmo com baixo rendimento", diz.
O setor de serviços também sente diretamente o impacto da quarentena no bolso. A manicure Leci Costa de Oliveira, 59 anos, atendia de 15 a 20 mulheres por semana. Hoje, tem apenas duas clientes que decidiram manter a rotina. "Minhas clientes fazem parte da minha história, estamos juntas há 20 anos. Como a maioria é idosa, não posso atendê-las", explica.
Quem assumiu as contas da casa foi a filha de Leci, que trabalha com marketing digital e, neste momento, como tantos outros brasileiros, está em home office.