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Informalidade e trabalho autônomo batem recorde no Brasil

Para voltar ao mercado de trabalho, brasileiros optam cada vez mais por empregos informais, sem recolhimento de impostos nem benefícios

Economia|Karla Dunder, do R7

Joel vende alho e temperos nas ruas e desistiu de procurar emprego com carteira
Joel vende alho e temperos nas ruas e desistiu de procurar emprego com carteira

Joel Costa, de 51 anos, trabalhava como segurança em uma empresa privada há dois anos, quando a crise econômica lhe tirou o emprego. Para não ficar sem dinheiro no bolso no final do mês, ele decidiu 'abrir' um ponto na rua para vender alho e temperos na zona norte de São Paulo.

"Não é o ideal, mas é melhor que ficar parado, não é?", conta.

Costa e outros 35 milhões de brasileiros trabalham hoje na informalidade, com empregos sem carteira assinada (11,5 milhões) ou trabalhando por conta própria (23,5 milhões).

Enquanto cai lentamente o desemprego no país, as duas modalidades de trabalho batem recorde no Brasil, segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na semana passada.


De acordo com a pesquisa, a população com trabalho aumentou em 1,5% (1,3 milhão de pessoas a mais) entre o segundo e o terceiro trimestre deste ano, chegando a 92,6 milhões de trabalhadores. Já a taxa de desocupação caiu de 12,4% para 11,9%, queda de 3,7% (474 mil a menos), totalizando 12,5 milhões de desempregados.

Informalidade e trabalho autônomo crescem cada vez mais no Brasil
Informalidade e trabalho autônomo crescem cada vez mais no Brasil

Para Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do FGV-IBRE, “é melhor que haja um crescimento da economia informal e saber que as pessoas estão se virando por conta própria que não ter crescimento algum”, explica. “As pessoas estão se virando para gerar a própria renda”.


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“Eu pago o INSS porque quero me aposentar, mas desisti de procurar trabalho. O mercado está muito difícil”, diz Costa. Casado e pai de dois filhos, o camelô diz que ganha o suficiente para o sustento da família.

Desistiu de procurar emprego


Jerivan Martins, de 46 anos, também desistiu de procurar emprego e vive há 7 anos na economia informal. Ele vende suco de laranja em uma banca na Barra Funda.

Quando a metalúrgica onde trabalhava faliu, tentou continuar no mercado de trabalho formal, mandou currículo, mas não teve retorno. Montar uma banca foi o jeito encontrado por Martins para sustentar a mulher e os seis filhos que moram em Itanhaém, litoral de São Paulo.

Jerivan Martins sustenta mulher e seis filhos vendendo suco nas ruas de SP
Jerivan Martins sustenta mulher e seis filhos vendendo suco nas ruas de SP

“Eu fico em São Paulo durante a semana. Hoje moro em um quartinho alugado, mas passei três anos dormindo na minha perua”, conta.

Martins trabalha das 5 horas da manhã até as 16h30 todos os dias. E, como outros trabalhadores que ficam na rua, sofre com o chamado “rapa”.

“Quando os fiscais da prefeitura chegam é uma correria, eu sempre protejo o espremedor de frutas porque é com ele que eu trabalho”, conta.

Outra dificuldade está em limpar o equipamento. “Como só tenho um quarto, que é exclusivamente para dormir, preciso limpar todo o equipamento na rua, o que não é tão simples”.

O economista da FGV destaca que a informalidade tende a cair conforme a economia voltar a crescer. Também lembra que o trabalho por conta própria emprega 23,5 milhões de pessoas. "A expectativa era de um crescimento maior para este ano, o que não aconteceu, mas a tendência é que o crescimento comece no mercado informal e alcance o formal".

A quantidade de empregados no setor privado sem carteira assinada cresceu 4,7% em relação ao trimestre anterior, chegando a 11,5 milhões de pessoas (aumento de 522 mil ocupados). Em relação ao mesmo período do ano anterior, houve alta de 5,5%, crescimento estimado de 601 mil pessoas.

Já os trabalhadores por conta própria cresceram 1,9%, alcançando 23,5 milhões de pessoas (432 mil mais que no trimestre anterior). Os dois contingentes são recordes na série histórica da pesquisa, assim como o número de pessoas que trabalham menos de 40 horas semanais e gostariam de trabalhar mais (6,9 milhões de pessoas).

Bruno Everton é motorista de aplicativo
Bruno Everton é motorista de aplicativo

Tentou ser empresário

Bruno Everton, de 27 anos, hoje é motorista de aplicativo, mas há dois anos deixou o trabalho em uma metalúrgica para montar seu próprio negócio. “Eu tinha uma empresa para instalar antenas de TV a cabo, mas não deu certo”, conta. “Os instaladores não eram registrados, eu não tinha como cobrar e muitas vezes o serviço não saía, tive de fechar a firma e trabalhar como motorista”.

Mas os planos não pararam por aí. Everton continua mandando currículo e pretende montar uma academia de crossfit. “Mesmo que consiga um emprego com carteira assinada, não pretendo parar com o Uber, porque é uma forma de juntar um dinheiro a mais”.

Diante dos números da Pnad, o economista Barbosa Filho acredita que 2019 seja um ano um pouco melhor. “Se não tivermos nenhum susto, a tendência é que haja um crescimento do número de empregos formais. Para isso é importante que haja um aumento do nível da atividade econômica”.

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