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Intenção de Consumo das Famílias cresce 0,8% em março e chega a 96,7 pontos 

Esse é o maior nível desde março de 2020; o índice está abaixo da zona de avaliação positiva, de 100 pontos, desde 2015

Economia|Agência Brasil

O indicador da Intenção de Consumo das Famílias cresceu 0,8% em março
O indicador da Intenção de Consumo das Famílias cresceu 0,8% em março

O indicador ICF (Intenção de Consumo das Famílias) cresceu 0,8% em março e atingiu 96,7 pontos, o maior nível desde março de 2020, divulgou nesta terça-feira (21) a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), que apura o índice mensalmente desde 2011. O resultado também supera os 95,7 pontos que o índice alcançou em fevereiro, mas a intenção de consumo permanece abaixo da zona de avaliação positiva, de 100 pontos, que não chega a esse patamar desde 2015. 

Para Izis Ferreira, economista da CNC, apesar de o ICF ter mantido a tendência de alta, a elevação foi menos expressiva. Ela disse que isso ocorre em razão de uma diminuição no otimismo das famílias de menor renda. No último trimestre do ano passado, o consumidor de renda média e baixa estava mais esperançoso que o mais rico, mas o panorama mudou agora, em março, explicou.

“O otimismo cresceu mais para quem tem alta renda. Em um contexto de juros altos, quem tem uma poupança financeira e quem consegue ter um equilíbrio financeiro do orçamento ou faz investimento, qualquer que seja, [eles] estão vendo a sua renda ser multiplicada. Mas essa não é a realidade do consumidor de renda média e baixa no Brasil”, comentou a economista.

Impacto da inflação

Izis acrescentou que o consumidor de renda média e baixa sofreu muito com a inflação alta de 2022. Com a desaceleração neste ano, houve um pouco de alívio para essas famílias, mas ainda há necessidades, além da questão do impacto da inflação.


“Ele [o consumidor] agora aponta o crédito caro e seleto como um problema para as compras a prazo. A gente sabe que o brasileiro tem o hábito do parcelamento, e aparentemente essa dificuldade de acesso ao crédito tem limitado a intenção de consumo. Esse é um problema que está mais latente para quem tem renda média e baixa, porque o risco de inadimplência é maior. O banco não está mais emprestando para ele, e, quando empresta, é com a taxa de juros muito maior. De forma geral, está mais caro e mais difícil fazer compras a prazo, e o consumidor tem apontado isso como um entrave ao consumo”, afirmou a especialista da CNC.

De acordo com a pesquisa da entidade, 37% das famílias relataram que o acesso ao crédito está mais difícil. O índice que mede a facilidade para fazer compras a prazo caiu 0,8% e continuou no quadrante negativo (90,5 pontos). O estudo mostrou também que três em cada quatro consumidores consideram que o momento não é favorável para a compra de bens duráveis.


Ricos e mulheres

A economista revelou que, em março, a intenção de consumo das pessoas com renda acima de dez salários mínimos, que estão na faixa dos mais ricos, superou a dos consumidores que têm renda média e baixa. O avanço no mês foi de 2,2% na intenção de consumo dos mais ricos.

Em relação ao gênero, o estudo mostrou que o otimismo feminino cresceu mais que o dos homens nos últimos meses. Embora a intenção de compra das mulheres ainda esteja em um nível mais baixo, em março ele subiu 1,5%, enquanto entre os homens o índice cresceu 0,6%.


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As mulheres também estão mais satisfeitas com o acesso ao crédito e compras a prazo. Talvez por isso estejam proporcionalmente mais endividadas do que os homens, conforme mostram os dados da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), também elaborada pela CNC.

“Vemos mais mulheres entrarem no mercado de trabalho formal, com emprego com carteira assinada. A gente tem visto um número maior de mulheres beneficiadas por políticas públicas pelo principal programa de transferência de renda. Elas estão mais endividadas, mas aparentemente estão conseguindo acessar mais crédito. Então, a gente tem fatores que têm levado essas mulheres a aumentarem mais o seu otimismo”, assinalou.

A economista estima que, em breve, as mulheres possam superar os homens nesse item. “Como o indicador vem crescendo de forma mais expressiva nos últimos meses, isso é bem possível, porque o olhar para as mulheres nas políticas públicas é mais abrangente, e a questão de gênero tem sido bem tratada pela sociedade. De certa forma, isso tem impacto na intenção de consumir”, concluiu.

Satisfação no emprego

Já o indicador relacionado à satisfação com o emprego atual teve, no primeiro trimestre, melhor desempenho entre os consumidores de rendas média e baixa, ao mesmo tempo em que recuou entre os de renda mais alta.

“A maior satisfação com o nível de emprego do consumidor de baixa renda é porque o mercado de trabalho, ao longo dos últimos meses, veio absorvendo pessoas com menor grau de instrução, menos escolaridade, e pagando menores salários. E quem está nos grupos de renda mais alta está demonstrando um certo desconforto com o seu emprego atual. Empresas de grande porte, inclusive líderes em tecnologia, demitiram muita gente. O perfil principal de trabalhador que vem sendo dispensado é o mais escolarizado, com salário maior e que está no grupo de consumo mais alto”, afirma Izis.

Ela diz que a projeção para os próximos três meses é de uma melhora do nível de compras para os consumidores de todas as faixas de renda. Segundo a economista, as pessoas estão achando que lá na frente as condições estarão melhores do que as atuais.

A perspectiva de consumo se destacou com o maior crescimento mensal pelo terceiro mês consecutivo. Dessa vez, chegou a 3,2%, tendo alcançado 103,6 pontos. Desde outubro do ano passado, o indicador vem evoluindo mais que o nível de consumo atual. As famílias pretendem ter melhores condições de consumo no futuro. A economista esclarece que, embora tenha havido crescimento nos dois grupos nesse item, o consumidor de baixa renda revelou uma perspectiva melhor que a da faixa mais alta.

“O consumidor de renda alta tem mais acesso à informação e consegue projetar um cenário com um pouco mais de informação que o de renda baixa. Costumo dizer que a pessoa de renda baixa está considerando que o sonho dela está melhor do que a realidade”, enfatizou.

Já a quantidade de pessoas com avaliação positiva da renda atual ficou estável, em 34,9%. Para o presidente da CNC, José Roberto Tadros, isso significa uma expectativa muito positiva de inflação mais controlada. Em contrapartida, mostra, também, um desafio para a renda imediata.

A pesquisa "Intenção de Consumo das Famílias" apresenta um indicador antecedente, que busca antecipar o potencial das vendas do comércio. São pesquisados com os consumidores aspectos importantes da vida das famílias, como a capacidade de consumo atual e de curto prazo, o nível de renda doméstico, as condições de crédito, a segurança no emprego e a qualidade de consumo, presente e futuro.

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