Mulheres são 30,3% das pessoas que mais atrasaram dívidas em fevereiro
Pesquisa da CNC mostra que quantidade de famílias endividadas cresceu 0,3 ponto percentual no mês, alcançando 78,3% do total
Economia|Do R7, com Agência Brasil
A Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), feita pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) e divulgada nesta quarta-feira (8), aponta que 30,3% dos consumidores que atrasaram dívidas em fevereiro eram mulheres, enquanto 29,1% eram homens.
Ao mesmo tempo, são as consumidoras que tentam resolver o problema financeiro mais rapidamente: enquanto as mulheres ficaram, em média, 62 dias sem pagar dívidas, os homens permaneceram 63,5 dias com os pagamentos atrasados.
O estudo também mostra que 79,5% das mulheres do país estavam endividadas em fevereiro, alta de 1,1 ponto percentual em relação ao mês anterior. Entre os homens, o percentual caiu 0,1 ponto, representando 77,2% dos consumidores.
Izis Ferreira, economista da CNC responsável pela pesquisa, elenca alguns motivos que fazem a situação financeira das mulheres ser mais difícil que a dos homens: “Somos proporcionalmente mais numerosas na sociedade, mas menos participativas no emprego formal, por exemplo. Há predominância da mulher na informalidade, e isso traz maior vulnerabilidade para a renda”, explicou, em nota, a economista.
Cartão de crédito
As mulheres concentram suas dívidas em modalidades de crédito com prazos mais curtos, principalmente no cartão de crédito. Elas estão proporcionalmente mais endividadas do que os homens em três tipos de dívidas: cartão de crédito (86,5% das endividadas), carnês de lojas (19%) e crédito consignado (5,9%).
Nos demais tipos de dívida (cheque especial, crédito pessoal, cheque pré-datado, financiamento de casa e de carro, entre outras), os homens estão em maior proporção no total de endividados.
A economista da CNC lembra que o sustento das famílias cabe cada vez mais às mulheres. “Atualmente, temos grande número de lares brasileiros chefiados por mulheres, que têm mais compromissos para custear. Temos optado pelas modalidades mais fáceis, como o cartão de crédito, que também é a mais cara do mercado, porque ela ajuda a esticar o orçamento do mês”, avalia.
“Por isso, é tão importante qualquer iniciativa que leve às mulheres maior conscientização e capacitação para gerir melhor as finanças domésticas”, completa Izis.
Os muito endividados
As mulheres que se definem, na situação atual, como 'muito endividadas' correspondem a 18,8% das que têm alguma dívida, índice que repete o resultado de fevereiro do ano passado. Entre os homens, esse percentual é menor, de 15,5% dos endividados, queda de 0,6 ponto percentual em relação aos 16,1% de fevereiro de 2022. Isso indica, segundo a CNC, que as condições orçamentárias estão mais apertadas para o público feminino.
O percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer cresceu 0,3 ponto percentual em fevereiro, alcançando 78,3% das famílias no país. Desse total, 17,1% consideravam-se 'muito endividadas', indicador que volta a crescer após quedas seguidas, iniciadas em novembro
do ano passado.
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Essa elevação foi puxada pelo endividamento das mulheres e tem como causas os vencimentos de contas típicas do primeiro trimestre, como tributos, despesas escolares e contribuições para órgãos de classe, entre outras.
A proporção de famílias com dívidas atrasadas, embora permaneça elevada, caiu 0,1 ponto percentual no mês, representando 29,8% do total de famílias.
“O consumidor sente melhora da renda disponível, fruto da evolução positiva do mercado de trabalho e da inflação mais baixa”, afirmou, em nota, o presidente da CNC, José Roberto Tadros.
No entanto, quem tem dívidas mais antigas continua a enfrentar mais dificuldades para sair da inadimplência, por conta dos juros elevados, diz Tadros. Em fevereiro, os consumidores sem condições de pagar dívidas atrasadas de meses anteriores chegou a 11,6% do total, percentual estável em relação a janeiro, mas, ainda assim, a taxa mais alta desde outubro de 2020.
Inadimplência e renegociação de dívidas
A cada cem consumidores inadimplentes, 44 chegaram a fevereiro com dívidas atrasadas por mais de 90 dias, mesmo com diversas oportunidades de renegociações, oferecidas por diferentes entidades e empresas.
O tempo médio de atraso dos pagamentos foi de 62,7 dias, o maior desde janeiro de 2021. Os consumidores com rendimentos de três a cinco salários mínimos mensais foram o que apresentaram a maior contratação de dívidas em fevereiro.
No mesmo mês, o grupo mais pobre da população registrou diminuição do indicador de dívidas atrasadas, com queda de 0,9 ponto percentual. “Os programas de transferência de renda mais robustos têm suportado os orçamentos desses consumidores com menores rendas mensais. Na comparação anual, porém, o volume de famílias com dívidas atrasadas aumentou em todas as faixas de rendimentos”, explicou Izis.
O percentual de consumidores com dívidas atrasadas de meses anteriores caiu entre os mais pobres em janeiro e fevereiro, mas avançou 2,1 ponto percentual no ano. A alta do indicador na comparação anual foi observada apenas nas duas primeiras faixas de renda, de até três e até cinco salários mínimos.