Mercado prevê crescimento menor em 2024, após economia surpreender no ano passado
Primeiro relatório do BC no ano com estimativas de agentes do mercado financeiro prevê expansão de 1,52% em 2024
Economia|Johnny Negreiros, do R7*
No primeiro relatório do BC (Banco Central) do ano com estimativas de agentes do mercado financeiro, divulgado nesta terça-feira (2), a previsão de crescimento da economia brasileira em 2024 é de 1,52%.
Isso representa quase metade da alta prevista para 2023, que é de 2,92%. O PIB (Produto Interno Bruto, que mede o tamanho de uma economia) será publicado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nos próximos meses.
Em linha com as projeções de mercado, economistas de diferentes correntes teóricas ouvidos pelo R7 têm, no mínimo, dúvidas se esse cenário positivo de 2023 se repetirá neste ano.
“Em 2024, até pelo efeito-base de comparação com 2023, o crescimento deverá ser menor”, acredita Felipe Salto, economista-chefe da Warren Renascença.
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Os especialistas consultados concordam que “todo mundo” errou nas previsões para o ano passado. Por exemplo, Leo Siqueira, doutorando em economia e deputado estadual paulista, lembra que o Focus indicava crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), que mede o tamanho da economia de um país, de 0,8%.
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O parlamentar e o economista André Roncaglia ressaltam que o indicador anual até aqui foi puxado pelo desempenho surpreendente do agronegócio no primeiro semestre de 2023, quando o setor registrou crescimento de 12,5% em relação ao mesmo período no ano anterior.
“Esse crescimento não vai se repetir neste ano, porque uma parte importante desse crescimento veio pela consequência da seca na Argentina. O Brasil acabou ocupando uma parte do mercado das exportações argentinas, que tiveram uma pancada forte. Então, eu não sei, eu imagino que no ano que vem a história do setor externo não vai ser tão pujante quanto a deste ano”, explica Roncaglia.
O consumo do governo, que turbina o cálculo do PIB, também “influenciou a alta do indicador”, destaca Leonardo Siqueira. Nos primeiros dois trimestres deste ano, esse item teve crescimento de 0,6% e 2,3%.
Nesse sentido, Roncaglia lembra da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do Estouro, aprovada no fim de 2022, que possibilitou à gestão Lula ter despesas extras de até R$ 145 bilhões em 2023.
“A gente teve um pacote muito importante com a PEC da Transição, que gerou o que eu chamo de um bônus fiscal para o governo, em termos de crescimento, que dificilmente vai se repetir no próximo ano, porque vai se iniciar, vamos dizer, a prática efetiva do novo marco fiscal”, opina André Roncaglia.
Ocorre que gastos públicos geram endividamento do governo, a ser coberto pelos pagadores de impostos. Isso faz com que especialistas, de uma maneira geral, defendam certa cautela com o uso desse artifício.
No Orçamento para 2024, aprovado pelo Congresso Nacional no dia 19 de dezembro, há a previsão de zerar a dívida pública primária. Sem contar com os pagamentos de juros de débitos passados, a atual gestão quer ter saldo nulo este ano.
Essa tem sido a principal promessa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Para fontes ouvidas pela reportagem e para outros agentes de mercado, a promessa de déficit zero não será cumprida.
Nas contas do próprio governo, cumprir esse objetivo exigiria que a arrecadação tivesse aumento de R$ 168,5 bilhões em 2024.
Para Cláudia Moreno, economista do C6 Bank, “existe uma incerteza muito grande se de fato essa expansão nas receitas vai ocorrer”. Ela prevê que, desse total, somente R$ 100 bilhões se concretizarão.
Até dezembro, a previsão do banco para 2024 é de saldo negativo de 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto). É a mesma estimativa do Warren Renascença.
Algum otimismo
Por outro lado, André Roncaglia também acha que o governo Lula caminha na direção certa ao implementar o novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que promete R$ 260 bilhões em investimentos até 2026.
“Eu compartilho da ansiedade em relação aos efeitos de uma política industrial, mas é um governo que ainda tem dez meses completos, política industrial é algo que demora bastante tempo. Os resultados devem aparecer em 2025, talvez em 2026”, afirma ele.
De forma semelhante, Felipe Salto acredita que medidas de investimentos em infraestrutura do governo federal “parecem estar acontecendo”. Isso estaria ocorrendo pela atuação de Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
* Sob a supervisão de Fabíola Glenia