A Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada nesta quarta-feira (6) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra que o mercado de trabalho do país destina a negros e pardos empregos que, na média, pagam pouco. Eles também recebem menos mesmo quando têm nível educacional semelhante.
Segundo o IBGE, usando números de 2012 a 2018, a presença de negros ou pardos é mais acentuada nas atividades agropecuárias (60,8%), na construção (62,6%) e nos serviços domésticos (65,1%), atividades que tradicionalmente pagam menos que a média de todas as atividades.
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Por outro lado, setores com melhores rendimentos (administração pública, educação, saúde e serviços sociais) contavam com mais brancos.
Também é bem maior a participação da população ocupada com esse perfil em ocupações informais, sem carteira assinada (47,3%). Os trabalhadores brancos nessa situação são 34,6%.
Se no Brasil o número de informais alcançou 41,5% em 2018 dos brasileiros economicamente ativos, a proporção é maior em região mais pobres. Chega a 59,2% no Norte do país e 56,3%, no Nordeste. Por outro lado, Sudeste e Sul, apresentaram, respectivamente, 35,6% e 29,0%.
No balanço geral, em 2018, os brancos ganhavam 73,9% mais do que negros ou pardos.
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Pelo número de horas trabalhadas e pelo nível de instrução, a desigualdade nos rendimentos médios por cor ou raça seguem evidentes. No ano passado, em qualquer nível de instrução, a população branca recebia um rendimento-hora maior que a "preta ou parda", termos usadas na pesquisa da Pnad Contínua, que serviu de base para boa parte da análise.
A diferença maior aparecia entre os que tinham ensino superior completo: R$ 32,80 contra R$ 22,70, ou 45% mais aos brancos.
Enquanto 16,4% da população branca estava entre os 10% com maiores rendimentos no país, 5% da população negra ou parda encontrava-se nessa mesma categoria em 2018.
O inverso acontece entre os 10% com menores rendimentos, com 13,5% da população preta ou parda diante de 5,5% do outro grupo.
O rendimento médio domiciliar per capita foi de R$ 934 aos negros e pardos, e quase o dobro — R$ 1.846 — aos brancos.
Discriminação na busca por vagas
O preconceito explica porque mulheres e negros ganham menos, e também porque têm mais dificuldade de conseguir trabalho.
Ao longo de toda a série histórica analisada pelo IBGE, entre 2012 e 2018, a taxa de desocupação da população negra ou parda foi maior do que a população branca, tendo alcançado a maior diferença em 2017 e 2018, de 4,6 pontos percentuais. No Espírito Santo, a diferença chega a 6,1 pontos.
A taxa de desocupação geral, que teve como valor mínimo 6,9% em 2014, aumentou continuamente até 12,5%, em 2017. Em 2018, o aumento foi interrompido e o chegou a 12,0%.
A explicação fácil de que população branca é mais escolarizada, e por isso consegue mais facilmente os empregos, cai por terra quando se comparam pessoas com o mesmo nível de instrução: "A taxa de desocupação é sempre maior para os pretos ou pardos", afirma o estudo.
Negros brasileiros com ensino superior ficam sem trabalho em percentual maior: 7,1%, contra 5,5% dos brancos.
Entre os que não concluíram o ensino médio e têm apenas o fundamental, a diferença é maior: a desocupação de negros e pardos passa dos 18%, e não chega a 14% para os brancos.
Atividades de acordo com o sexo
Em 2018, a diferença de acordo com o perfil do contratato também era evidente em relação aos sexos. Os homens ganhavam, em média, 27,1% mais que as mulheres
Estereótipos de que os serviços domésticos cabem às mulheres são reforçados pelos dados do IBGE. Das 6,2 milhões de pessoas ocupadas com essas atividades em 2018 (6,8% dos ocupados), 5,8 milhões eram do sexo feminino.
Por outro lado, a construção ocupou 6,5 milhões de homens e somente 235 mil mulheres no ano passado.
Serviços
Na comparação entre 2012 e 2018, o SIS revelou que o setor de serviços já emprega mais de 70% da população ocupada e é o único com crescimento contínuo no período.
Agropecuária foi de 11,5% para 9,2% e Indústria foi para 20,1% em 2018.
Segundo o IBGE, o aumento de empregos nos serviços está associado à natureza de parte de seus postos de trabalho, nos quais "prevalecem menor formalização e jornadas mais flexíveis".
Embora tenha crescido 11,7% nos sete anos do estudo, os serviços domésticos registraram os menores rendimentos médios da série, equivalente a pouco mais de 40% do rendimento médio total. Ganhavam R$ 786 em 2012 e passaram a R$ 878 em 2018.
Trabalhadores dos setores de administração pública, educação, saúde e serviços sociais, na outra ponta, passaram de R$ 2.958 para 3.354 no mesmo período.
Jovens mulheres
Entre os jovens, a diferença entre os sexos é clara. Apesar de mais escolarizadas, era maior a proporção de jovens mulheres (28,4%) que não estudavam e não estavam ocupadas em 2018. Os homens eram 17,6%.
Em pior situação encontravam-se as mulheres pretas ou pardas, que tinham o dobro de chances de estarem sem estudar e sem ocupação do que os homens brancos.
A maior diferença entre os sexos se dá justamente na faixa etária mais elevada entre os jovens, de 25 a 29 anos, "apontando para a dificuldade das mulheres se inserirem e permanecerem no mercado de trabalho após concluírem os estudos".
Desigualdade social
O estudo do IBGE, que faz o cruzamento de dados de diversos levantamentos, mostra que de 2012 a 2015 o país viu uma queda na desigualdade de renda, a partir desse ano até 2018 os ricos ficaram cada vez mais ricos e os pobres, mais pobres ainda.
Os 10% da população com maior renda ganhavam 12 vezes mais que os 40% mais pobres em 2015. Em 2018, 13 vezes.
Segundo o instituto, explicações para a queda da desigualdade entre 2012 e 2015 podem ser o mercado de trabalho mais aquecido e a valorização do salário mínimo no período, que aumentou a capacidade de rendimento dos que ganham menos.
Em 2018, ano em que não houve aumento real do salário mínimo, os mais pobres tiveram uma perda de rendimento de 0,8%, enquanto os 10% mais ricos ganharam 4,1% mais.
Essa desigualdade social foi ainda mais pesada em alguns estados – do Norte e Nordeste, principalmente. Se no Brasil os 10% mais ricos ganham 13 vezes mais que os 40% mais pobres, no Piauí, nessa mesma proporção, o índice é superior a 18 vezes. Em Sergipe, 16. Santa Catarina, Goiás, Alagoas e Mato Grosso ficaram abaixo de 10.