‘Nunca fiquei pedindo muita licença. Fui atrás’, diz CEO da indústria farmacêutica

Lorice Scalise foi a primeira mulher e a primeira latino-americana a ocupar o cargo de CEO da Roche Farma Brasil em quase um século. Nascida em Borborema, no interior de São Paulo, formou-se em Farmácia pela UNESP de Araraquara e chegou à capital paulista aos 24 anos.

“Fui militante do movimento estudantil e cheguei em São Paulo em 1995”, declara a executiva ao Mulheres Positivas de sexta-feira (26).

Aos 35 anos, decidiu aprender inglês para ampliar suas possibilidades profissionais. “Achava que seria impossível aprender e foi a minha primeira aula”.

Hoje, Lorice fala quatro idiomas — inglês, alemão, espanhol e português — e está aprendendo italiano. Mãe solteira de três filhos, ela conciliou a maternidade com a carreira internacional, inclusive durante os anos em que viveu na Suíça.

“A disciplina me permite conciliar tudo. Então, deixar minha casa em ordem lá antes de trabalhar, deixar as coisas dos meus filhos, os dois que moravam comigo, toda ordenada para a hora que eu chegasse. Também tive a tranquilidade de que o Miguel ficaria bem porque ele ficaria com o pai”, afirma. Para ela, a educação dos filhos deve ser responsabilidade de ambos, independentemente da relação conjugal.

A executiva lembra que nunca sonhou com o cargo que ocupa, mas sempre desejou influenciar positivamente a sociedade.

“[Em] Uma cidade pequena todo mundo cuida de tudo. Eu tenho um exemplo muito forte para mim, que é um asilo numa cidade como a minha, não é um depósito de gente idosa. É onde a gente cuida dos nossos velhos que não têm ninguém, das pessoas mais velhas que não têm quem cuide deles. E a cidade inteira é responsável por aquilo”, conta.

Segundo Lorice, esse espírito coletivo e a militância estudantil moldaram sua visão de mundo: “Eu trago para qualquer trabalho que eu faça, para qualquer posição que eu ocupe, todas essas inquietações”.

Ela falou abertamente sobre a síndrome da impostora, sentimento que, segundo ela, acompanha muitas mulheres ao longo da vida.

“A síndrome de impostor existe, claro. Tem séculos, gerações, dizendo para você que o seu lugar é em outro lugar, não é aqui. Então, eu também tenho isso. Só que eu sempre comento que o mais importante é você se amigar com essas vozes”, afirma. A executiva reforça que sempre buscou suas oportunidades com esforço próprio.

“Nunca fiquei pedindo muita licença. Fui atrás”, relata.

Lorice também compartilhou sua visão sobre o sistema de saúde brasileiro e os desafios que ainda precisam ser enfrentados.

“É inadmissível que uma mulher que nasce em Pinheiros, ela tenha 20 anos mais de expectativa de vida que uma mulher que nasce no bairro Anhanguera aqui em São Paulo, simplesmente porque o câncer de mama, por exemplo, e o câncer de colo de útero, que são problemas femininos, são cuidados de forma diferente no sistema público e no sistema privado”, aponta.

Para ela, é essencial eliminar os recortes de gênero e raça no acesso à saúde. Um dos projetos que mais a orgulha é o que levou tratamento médico ao município de Breves, no Pará, reduzindo em 14 horas o tempo de deslocamento de pacientes que antes viajavam de barco toda semana.

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