Opinião: A transição de mandatos e o papel da contabilidade
Economia|Aécio Prado Dantas Júnior, presidente do CFC (Conselho Federal de Contabilidade), especial para o R7
Com o encerramento das eleições municipais, prefeitos eleitos se deparam com o desafio da transição de mandatos — uma etapa crítica para a continuidade das políticas públicas. Nesse contexto, os profissionais de contabilidade assumem um papel estratégico, assegurando que os registros deixados pelas gestões que se encerram sirvam para a orientação futura dos programas de governo e para a fundamentação das decisões administrativas.
A passagem do bastão depende, acima de tudo, de organização e responsabilidade fiscal. Não se trata apenas da entrega de relatórios ou planilhas: é preciso oferecer uma leitura clara do cenário orçamentário, financeiro e administrativo, mapeando receitas, despesas, restos a pagar, contratos vigentes e passivos que possam impactar o planejamento da nova gestão. Tal trabalho, conduzido pelos profissionais de contabilidade, é essencial para que os prefeitos eleitos abracem a missão atribuída pelas urnas com clareza sobre os recursos disponíveis e os compromissos herdados.
A LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) reforça a relevância desse processo ao exigir o cumprimento das metas fiscais e a prestação de contas detalhada. Mais do que um conjunto de normas, a legislação configura um pacto com a boa governança, que só pode ser cumprido com o apoio de profissionais tecnicamente capazes.
Para além da execução de obrigações legais, a performance do profissional de contabilidade está diretamente ligada à acurácia administrativa: dados orçamentários e financeiros bem-organizados – e devidamente analisados – propiciam a identificação de riscos, a priorização de ações e o estabelecimento de propósitos realistas. Sem essa base técnica, a tomada de posições fica sujeita a erros que comprometem a execução de obras e serviços e afetam a credibilidade do Poder Público junto à população.
Em outras palavras: a atuação contábil neste momento de mudança fortalece a administração pública. Como a sociedade exige cada vez mais accountability, cabe aos profissionais da contabilidade uma função elementar na construção dessa relação de confiança. Quando informações orçamentárias e financeiras estão dispostas de maneira objetiva e compreensível, os cidadãos conseguem acompanhar o uso do dinheiro público e avaliar a coerência entre os planos de governo e as iniciativas efetivamente executadas.
A importância do trabalho contábil na transição de mandatos não pode ser subestimada, portanto: ao oferecer um retrato fiel do quadro financeiro, contribui para a solidez dos feitos administrativos e a manutenção de políticas públicas imprescindíveis para fatias consideráveis da população. Prefeitos bem assessorados por profissionais da contabilidade capacitados mantêm os pés no chão – condição necessária para a consolidação de gestões sustentáveis e equilibradas.
O CFC (Conselho Federal de Contabilidade), mais uma vez, reafirma seu compromisso com a qualificação e valorização dos profissionais de contabilidade. A educação continuada, promovida de modo constante, é indispensável para que os profissionais da contabilidade estejam preparados para enfrentar os desafios de um ambiente administrativo em perene transformação, marcado pela necessidade de inovação e pela crescente demanda por transparência.
Com o suporte técnico dos profissionais da contabilidade, essa fase crucial, mais do que um ajuste de contas, representa uma oportunidade de alinhar táticas e estratégias, de modo que a administração pública avance com responsabilidade e eficácia. Afinal, mandatos passam, mas o legado da boa governança deve permanecer.