Picanha fica mais barata em 2023, mas cerveja e gasolina encarecem
Especialistas avaliam que o governo não influenciou na inflação dos itens, que Lula prometeu baratear durante a campanha eleitoral
Economia|Johnny Negreiros, do R7*
Na campanha eleitoral de 2022, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu que a picanha, a cerveja e a gasolina ficariam mais baratas. O resultado, no entanto, não foi completamente como o desejado no primeiro ano de seu terceiro mandato. Enquanto a proteína baixou de preço, a cerveja e o combustível encareceram.
Entre janeiro e novembro deste ano, a picanha viu seu preço cair em 13,06%. Por sua vez, a cerveja ficou 5,15% mais cara e a gasolina teve alta de 12,47%. Os dados são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De acordo com especialistas ouvidos pelo R7, somente o derivado de petróleo teve interferência do governo Lula.
Para ilustrar: se essa carne no açougue custava R$ 100 em dezembro do ano passado, em novembro ela estava sendo vendida por R$ 86,94. Já a gasolina, que tinha preço médio de R$ 5,05 por litro na bomba, passou para R$ 5,63, segundo dados do levantamento da média mensal da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
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Alê Delara, diretor da Pine Agronegócios, explica que o barateamento da picanha em 2023 aconteceu devido ao aumento do abate de fêmeas. Com maior oferta, menores preços.
Segundo Fernando Iglesias, analista sênior da consultoria Safras & Mercado, esse crescimento no abate é resultado de investimentos feitos ainda em 2019, ou seja, quatro anos antes da volta de Lula ao poder.
“A bovinocultura de corte tem uma característica: esses investimentos demoram a maturar, demora para o investimento realizado lá atrás surtir efeito”, explica ele.
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Delara argumenta ainda que o custo do boi caiu em proporção maior que a queda do preço da picanha. Ou seja, essa diferença ficou no bolso dos frigoríficos.
“A queda da carne foi muito menor do que a queda da arroba do boi. Assim, os frigoríficos conseguiram recuperar parte da margem ruim dos dois últimos anos, quando o ciclo era de alta da arroba”, argumenta.
Para ele, “a queda da carne neste ano tem muito mais relação com o ciclo da pecuária do que com programas de governo”.
“Tanto que, neste fim de ano, a arroba do boi já voltou a subir, assim como os preços da carne no atacado e varejo e, dessa forma, esperam-se altas para o próximo ano”, completa.
Cerveja
Em relação à cerveja, Alê atribui o encarecimento à expansão dos valores da cevada cervejeira e do trigo ao longo deste ano.
“Foi um ciclo ruim na produção agrícola, com preços da cevada cervejeira e trigo em alta durante boa parte do ano, assim como o dólar. Já que estes são produtos que importamos, isso fez com que os preços subissem”, afirma.
Segundo a CervBrasil (Associação Brasileira da Indústria da Cerveja), a bebida alcoólica ficou mais cara por conta do "aumento dos custos acumulados nos últimos anos". Seriam eles: energia, distribuição e matérias-primas.
Para Paulo Petroni, diretor-geral do grupo, a alta nos preços ocorreu por conta de uma pressão que veio ainda na pandemia. Com a demanda reprimida, devido às pessoas não poderem sair de casa, essa forte procura estaria vindo à tona agora, segundo ele.
Volta dos impostos federais
Por sua vez, a alta na gasolina está principalmente relacionada à volta dos impostos federais cobrados sobre todos os combustíveis. Ou seja, esse foi o único encarecimento que teve ação direta do governo Lula.
Francisco Raeder, doutorando em economia na UFF, também menciona o aumento dos encargos estaduais como um fator que contribuiu para a alta do derivado do petróleo.
"No caso do ICMS, que é estadual, a modificação foi a troca de um imposto ad valorem (calculado em termos percentuais) para um valor ad rem, que é fixo em R$/litro. Nessa mudança tributária do ICMS, teve um aumento de aproximadamente uns R$ 0,13 por litro."
Segundo o último levantamento da Petrobras, da primeira semana de dezembro, com dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e da USP (Universidade de São Paulo), os tributos nacionais eram responsáveis por 12,3% do preço total do óleo nas bombas. Isso equivale a R$ 0,69 por litro.
Em 2022, às vésperas da eleição presidencial, o governo de Jair Bolsonaro implementou medidas de redução de dois tributos federais que reduziram os valores. Com essa diminuição, a gasolina encerrou o ano passado com queda de 25% no preço.
No começo deste ano, a gestão Lula conseguiu manter a ausência de cobrança tributária por 60 dias. Porém, os impostos voltaram gradualmente ao longo deste ano, em meio à tentativa do governo federal de aumentar a arredação e melhorar as contas públicas.
O retorno total desses encargos está previsto para acontecer em 1º de janeiro de 2024.
Mudança na política da Petrobras
Nesse contexto, vale citar que a política de preços dos combustíveis da Petrobras passou por mudanças em maio.
O presidente da estatal indicado por Lula da Silva, Jean Paul Prates, anunciou o fim do PPI (Preço de Paridade de Importação). A ferramenta atrelava os valores nas bombas brasileiras aos números praticados no mercado estrangeiro.
Porém, a companhia não deu detalhes de como será a nova definição de preços. A empresa se limitou a dizer, no dia do anúncio, que “os reajustes continuarão sendo feitos sem periodicidade definida, evitando o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio”.
*Sob supervisão de Ana Vinhas
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