Recuperação econômica é a mais lenta da história brasileira
Expectativa de baixo crescimento em 2019 faz governo rever previsões e tendência é que país feche o terceiro ano seguido 'andando de lado'
Economia|Fernando Mellis, do R7
Os indicadores de desempenho da economia brasileira publicados nos últimos dias confirmam que o país passa pela recuperação mais lenta da história, dois anos após ter saído da pior recessão.
O Monitor do PIB (Produto Interno Bruto) da Fundação Getulio Vargas, divulgado na sexta-feira (17), mostra retração de 0,1% da economia no primeiro trimestre deste ano, quando comparado ao último trimestre do ano passado.
O indicador oficial, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), das contas nacionais no primeiro trimestre sairá no próximo dia 30.
Antes disso, o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), considerado uma prévia do PIB, mostrou crescimento modesto, de 0,68% no primeiro trimestre, na comparação com o quarto trimestre de 2018.
O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) também não fez previsões otimistas em relação ao desempenho econômico no começo deste ano, na ata de sua última reunião, em 7 e 8 de maio.
"Os indicadores disponíveis sugerem probabilidade relevante de que o PIB tenha recuado ligeiramente no primeiro trimestre do ano, na comparação com o trimestre anterior, após considerados os padrões sazonais", diz um trecho do documento.
As expectativas não são as melhores na equipe econômica. Em sessão na CMO (Comissão Mista de Orçamento) do Congresso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu que a projeção de crescimento do PIB neste ano caiu de 2,2% para 1,5%.
Quando a previsão de crescimento é calculada, estima-se também quanto o governo terá de receita (dinheiro de tributos pagos pelos contribuintes).
Se há uma redução na projeção de crescimento, significa que também entrarão menos recursos nos caixas da União. Por isso a necessidade de cortes no orçamento, como temos visto.
Também na CMO, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi além e disse que houve decepção em relação ao desempenho recente da economia.
"Ficamos também decepcionados com o resultado do crescimento. Inclusive mencionamos a palavra 'retomada', o que significa que a gente acha que ele [crescimento] foi parcialmente interrompido."
O professor e pesquisador Claudio Considera, do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), acrescenta que a decepção não é só da equipe econômica, mas da população em geral, que esperava em 2019 um ano melhor do que os anteriores.
"As pessoas estão tendo um a certa desilusão com esse resultado", diz ele que é coordenador do Monitor do PIB.
"Houve uma expectativa nas eleições de que o governo seria capaz de fazer as transformações necessárias, estávamos convencidos disso. Hoje vemos o contrário. O PIB [atual] tem muito a ver com a falta de confiança das pessoas, de que o governo pode não conseguir aprovar as mudanças necessárias nas contas públicas."
Para o economista, mesmo que o PIB cresça cerca de 1,5%, isso vai significar que o país está "andando de lado". Será o terceiro ano seguido em marcha lenta, após crescimento de 1% em 2017 e 1,1% em 2018.
"Foi a pior recessão da história e está sendo a recuperação mais lenta da história", observa.
A dificuldade para retomar o crescimento econômico afeta diretamente a geração de empregos.
Dados do IBGE divulgados na quinta-feira (16) mostram que o país terminou o primeiro trimestre com 13,3 milhões de desempregados.
Ao todo, 25% da mão de obra brasileira está subutilizada (sem emprego ou trabalhando menos horas do que deseja).
O economista Elton Eustáquio Casagrande, da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Araraquara, avalia que a queda de braço entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário tem sido um dos entraves para gerar tranquilidade no cenário econômico nacional.
"Eu colocaria aqui como ponto central um grande conflito que se arrasta há anos: o fato de o país tomar outra postura em relação a um processo de corrupção que existe e envolve os três poderes. Se isso não for extinguido, parece que a disputa entre os poderes vai continuar e acaba prejudicando a economia."