Sete microempresárias falam sobre o efeito coronavírus nos negócios
98% das empresas do Brasil estão na categoria de micro e pequenos empreendimentos. Juntas, são responsáveis por 55% dos empregos do país
Economia|Márcia Rodrigues, do R7
A empresária Mariana Toledo fechou os três salões de beleza e o vallet que administra com o marido, desde a semana passada, seguindo a recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) para reduzir a transmissão do coronavírus no Brasil.
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Mariana ainda não sabe o tamanho do prejuízo que terá durante a quarentena, mas está preocupada com o futuro de suas empresas.
"Usaremos todas as reservas para mantermos os funcionários e seus salários em dia. Sem entradas previstas para os próximos dias, nossos caixas ficarão vazios, em breve", diz Mariana.
A empresária lamenta por seus negócios não propiciarem a prestação de serviços online, nesse período.
A mesma preocupação tem a corretora de imóveis Janaína Martho. Apesar de manter a publicação de anúncios em jornais e na internet com a oferta de imóveis para comprar e alugar, os clientes não querem agendar visitas nos empreendimentos para fechar negócio, por medo da contaminação do coronavírus.
"Sem conhecer o imóvel pessoalmente, nenhum cliente fechará negócio", destaca.
Vendas caíram 80%
Outra empresária, Adriana de Souza Santana, dona da Santa Joias, afirma que as vendas da sua empresa caíram 80%, desde a semana passada.
A loja comercializa artigos de prata, como anéis, correntes e pulseiras, e atua com revendedoras, atacado, eventos e vendas online pelo site, redes sociais e plataformas de marketplace.
"As pessoas estão deixando de comprar itens que não precisam, neste momento. Estamos registrando poucas vendas pelas redes sociais", comenta Adriana.
Ela diz que tem duas funcionárias e que combinaram de esperar passar os próximos 15 dias - que serão cruciais para a decisão do governo de manter ou não a quarentena -, para traçarem os rumos da empresa.
"Se a situação não noramlizar, pensamos em reduzir a jornada de trabalho e os salários, nesse período."
Para estimular as vendas, Adriana está oferecendo frete grátis e dando brindes para os clientes.
A empresária Gisele Bonaroski, dona da Costurices da Gi, que comercializa seus vestidos e batas infantis em lojas colaborativas e pelas redes sociais, também vem sentindo o impacto do coronavírus nas vendas.
"Ninguém vai gastar dinheiro com esse tipo de produto, agora", lamenta.
Empresária precisou demitir
Veronica Goyzueta, sócia do Tubaína Bar e Cozinha, diz que o desempenho da empresa vem diminuindo há três semanas, quando foi iniciado um treinamento com a equipe para debater os próximos passos a serem dados em meio à crise.
"Infelizmente precisamos tomar algumas decisões drásticas. Tivemos de demitir porque demoramos muito para ter informações do governo para saber o que fazer. Também demos férias para os funcionários que pudemos e estamos trabalhando com uma equipe bem pequena com foco no delivery."
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Veronica conta que o bar sempre trabalhou pouco com o delivery, com foco, apenas, nos pedidos feitos pelos apps.
"Nosso foco sempre foi o atendimento no bar. Nesta última semana, reforçamos nosso delivery próprio para mantermos a operação. Queremos investir na entrega para preservarmos a equipe e trazermos de volta os que estão em férias e aguardando tudo passar."
A empresária ressalta que o foco do delivery será para o público do entorno do bar, que fica na região da Avenida Paulista. "Estamos priorizando a entrega a pé por estarmos numa região privilegiada e cheia de hospitais. Os profissionais da saúde estão trabalhando muito e precisam comer."
Artesã e comerciante ainda não sentiram crise
A Mãe que Tricota, da artesã Érika Lima Sacheto, que faz bonecos de tricot, ainda não sentiu a queda nas vendas por causa do coronavírus.
Érika, que comercializa suas peças pelo site e pelas redes sociais, tem dois palpites sobre o movimento da empresa ser mantido. "Além de as pessoas estarem em casa e acessando mais as redes sociais, ainda não sentiram os impactos da crise na economia. Talvez, em algumas semanas, isso mude."
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A comerciante Luciana Mazivieiro também vem mantendo as vendas, mesmo após a chegada do coronavírus no país. A empresária comercializa frango assado todos os domingos na hora do almoço.
"Mantenho a clientela há bastante tempo. Ninguém deixou de comprar por causa da crise. Acredito que o ramo da alimentação deve estar sofrendo menos com a crise", ressalta.
Momento exige estratégia e criatividade
Dados divulgados pelo Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) apontam que 98% das empresas do Brasil estão classificadas na categoria de micro e pequenos empreendimentos. Juntas, elas são responsáveis por 55% dos empregos do país. Em 2019, as micro e pequenas empresas foram as que mais geraram novas vagas de empregos.
Para Bruno Shibata, gerente de gestão estratégica Sebrae-SP, ainda é cedo para falar sobre o real impacto que o coronavírus trará aos pequenos negócios.
"O objetivo do governo e das entidades de fomento ao empreendedorismo, agora, é minimizar os danos."
As primeiras medidas que os micro e pequenos empreendedores devem tomar, segundo Shibata, são:
- Fazer uma avaliação cuidadosa sobre seus gastos;
- Reduzir todos os gastos que são possíveis;
- Eliminar o desperdício;
- Tentar negociar todos os prazos;
- Negociar os preços com seus fornecedores;
- Apesar dos incentivos do governo e bancos de reduzir os juros do microcrédito, só recorrer a isso se realmente precisar e tiver condições de pagar no futuro;
- Negociar férias coletivas, redução de jornada e salário dos funcionários, caso seja necessário;
- Fazer compras mais fracionadas e manter um estoque menor;
- Buscar alternativas para manter o negócio funcionando. Seu negócio permite atendimento online? Se sim, invista.
- No ambiente online, encontrar uma plataforma segura para vender e investir na divulgação nas redes sociais;
- Pode incluir o delivery na sua operação? Se sim, intensifique a oferta de entregar o produto ou serviço em casa; e
- Divulgue para a população a importância de comprar dos pequenos negócios;