Setor eletroeletrônico fecha ano com saldo de 9 mil empregos a mais
Número de trabalhadores aumentou em 4% mesmo com pandemia; as indústrias, por outro lado, faturaram pouco, produziram e exportaram menos
Economia|Marcos Rogério Lopes, do R7
Mesmo com todas as adversidades de um ano de pandemia, a indústria eletroeletrônica fecha 2020 com 9 mil trabalhadores a mais que em 2019. Segundo dados da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), houve um aumento de 4% no nível de emprego, com o total de 243 mil pessoas empregadas no setor (eram 234 mil).
O faturamento da indústria eletroeletrônica, segundo a associação, deve encerrar o ano em R$ 173,4 bilhões, crescimento nominal de 13% na comparação com 2019, quando se registrou R$ 153 bilhões.
Entre os destaques nas vendas estão computadores com custo superior a R$ 3 mil e telefones celulares mais caros, acima de R$ 2 mil.
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Nem tudo, no entanto, são dados positivos. Apesar dos 13% de alta no faturamento, há pouco o que se comemorar nesse item, afinal a inflação do setor, medida pelo IPP (Índice de Preços ao Produtor) fechou o ano em 12%. O crescimento real, portanto, foi de apenas 1%.
A produção industrial de bens eletroeletrônicos apresentou queda de 2% em 2020 em relação ao ano passado. Já a utilização da capacidade instalada caiu de 78% para 75% este ano.
Entre os fatores que explicam a fabricação de menos itens nas linhas de montagem está a dificuldade em conseguir insumos da China, país que desde janeiro reduziu a velocidade das exportações por causa das medidas anticovid.
Black Friday de 2020 teve de se adaptar a falta de insumos chineses
As exportações também ficaram abaixo de 2019, com queda de 21%, passando de US$ 5,6 bilhões para US$ 4,4 bilhões.
As importações caíram 10%, de US$ 32 bilhões, em 2019, para US$ 28,9 bilhões este ano.
O presidente executivo da Abinee, Humberto Barbato, observa que até maio todos os indicadores apontavam para um cenário drástico em 2020, em razão da pandemia, mas o dinamismo e a resiliência do setor reverteram a curva descendente dos indicadores. "As empresas conseguiram fazer uma leitura rápida do atual cenário, adequando processos e linhas de produção para a nova realidade", afirmou.
O presidente do Conselho de Administração da Abinee, Irineu Govêa, observa que, mesmo em uma situação tão extrema, o setor eletroeletrônico tem dado mostras de que consegue resistir às condições mais adversas, dando continuidade ao trabalho e mantendo a produção em suas fábricas adaptando-se à nova realidade a fim de trazer proteção aos trabalhadores.
"Programas como o auxílio emergencial, a manutenção do emprego e da renda e outras iniciativas permitiram minimizar o impacto da crise para os que não dispõem de condições econômicas para se manter na pandemia.”
Expectativa para 2021
Para 2021, os empresários do setor têm expectativas favoráveis. A mais recente Sondagem realizada com os associados da Abinee indicou que 75% das empresas projetam crescimento nas vendas/encomendas no próximo ano; 22%, estabilidade e apenas 3%, queda.
Barbato, presidente da Abinee, afirmou que o fim do auxílio emergencial dado pelo governo federal não deve ter grande impacto nas receitas. "Fechamos 2020 com mais contratações e nosso funcionário é também nosso consumidor. Se você pensar que vários outros setores também vão oferecer mais empregos, o varejo acaba sendo aquecido, sem a necessidade do benefício", analisou.
Em sua visão, o auxílio emergencial serviu para os brasileiros que ficaram sem recursos durante a pandemia comprarem itens básicos, como comida. "Não vejo essa ligação direta entre o benefício e a compra de produtos eletroeletrônicos."
Considerando a projeção de crescimento do PIB de 3,5% e inflação em torno de 3,3% ao ano em 2021, o setor eletroeletrônico espera um crescimento nominal de 12% e real (descontada a inflação) de 7% no faturamento, que deve alcançar R$ 194 bilhões.
A Abinee também projeta elevação de 6% na produção e aumento de 3% no nível de emprego, que deve passar de 243 mil para 249,5 mil trabalhadores. As exportações devem crescer 7% (US$ 4,7 bilhões) e as importações, 10% (US$ 31,6 bilhões).