Startups que promovem inclusão e igualdade social são tendência
Como aponta o SXSW, as empresas devem investir cada vez mais em soluções para os problemas reais das pessoas
Economia|Karla Dunder, do R7
Igualdade, diversidade e tolerância estão entre as tendências apontadas durante o South by Southwest — ou simplesmente SXSW, um conjunto de festivais de cinema, música e tecnologia que acontece todos os anos em Austin, Texas, nos Estados Unidos. O evento é uma bússola que aponta para novas tendências em inovação e comportamento.
Nesta edição, entre os destaques, as empresas e instituições que se dedicam a solucionar problemas reais, como apontou o príncipe Haakon da Noruega em sua conferência apresentando startups dedicadas à inserção de refugiados e de crianças doentes. E no Brasil?
Por aqui, existem diversas iniciativas de negócios sociais e startups. O Sebrae e a ONU, por meio do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) têm, por exemplo, o Projeto Incluir que tem por objetivo identificar, apoiar e estimular projetos de impacto social, que promovam a igualdade e a inclusão.
Entre os vencedores do edital de 2017 está a startup Firgun, uma fintech social que oferece financiamento para o público de baixa renda. “Tornamos o microcrédito mais acessível e promovemos a inclusão financeira, uma forma de contribuir para que as pessoas possam melhorar sua qualidade de vida”, diz o co-fundador da Firgun Lemuel Simis.
Também é uma forma de fomentar o investimento social uma vez que a fintech não tem correspondentes bancários. Todo o processo se assemelha ao financiamento coletivo. O investidor escolhe o empreendedor, o valor a ser investido, quantas parcelas vai receber e sabe quanto terá de rendimento ao ano. Os empreendedores são selecionados por uma curadoria que avalia se essas pessoas estão aptas a receber o empréstimo. “Também realizamos um questionário financeiro para identificar o perfil do empreendedor”, explica.
Outra iniciativa premiada é a Maturijobs, uma startup que começou há 3 anos a partir de uma experiência pessoal do fundador, Morris Litvak. “Minha avó era uma mulher extremamente ativa, apesar dos seus 80 anos ela trabalhava e fazia uma série de atividades, mas após uma queda na rua, teve de parar e vi o declínio rápido de sua saúde física e mental”, diz Litvak. Em 2015, quando saiu da empresa onde trabalhava, decidiu investir em pessoas acima de 50 anos.
“Com a forte crise que bateu no país, observei muitas pessoas vivendo um drama parecido com o da minha avó, mas eram pessoas mais jovens. Profissionais qualificados e que estavam fora do mercado de trabalho, sofrendo com a exclusão, muitos deprimidos.” Para fazer uma ponte entre essas pessoas mais experientes e as empresas nasceu a Maturijobs.
A startup busca a inclusão e a diversidade geracional dentro das corporações. Um desafio diário de romper as barreiras do preconceito. “Nós desenvolvemos um trabalho de capacitação dos dois lados. Para os profissionais apresentamos novas formas de trabalho porque o número de vagas ainda é restrito e para as empresas mostramos as vantagens de ter pessoas mais maduras nos quadros.” Com a longevidade da população, essas contratações se tornam uma tendência para os próximos anos.
Qualidade de vida é o foco da Moradigna, um negócio social que promove reformas em moradias de pessoas de baixa renda. Em três anos já foram realizadas mais de 400 reformas em casas da zona leste de São Paulo. “Eu cresci no Jardim Pantanal, um bairro que fica às margens do rio Tietê, que sofre com alagamentos constantes, o que resulta em casas com umidade e infiltração”, diz o fundador da startup Matheus Cardoso.
Engenheiro formado pela Universidade Mackenzie, bolsista do Prouni, Cardoso começou sua trajetória reformando a casa dos pais. “Observei que não precisamos de algo inovador. As casas são mal construídas, precisam de uma reforma eficiente e que caiba no orçamento das pessoas. Depois que reformei a casa dos meus pais, os vizinhos me chamaram e assim começou o processo de mudar as casas insalubres.”
Para isso, Cardoso buscou parceiros na área de construção civil que fornecem material para a realização das reformas. Votorantim e Coral estão nessa lista. “Forneço cursos de capacitação de mão-de-obra e contratamos pessoas da região para movimentar a economia local.”
Um exemplo de ponte entre empreendedores sociais e os financiadores é a Brazil Foundation. Mais que filantropia, a instituição busca incentivar e conectar pessoas. “Incentivamos negócios sociais com investimento semente, para ajudar a tirar as ideias do papel”, explica Maria Cecília Oswaldo Cruz diretora de programas da fundação. Todos os projetos apoiados necessariamente precisam ter como critério a inclusão de pessoas e soluções para a população de baixa renda.
Como exemplos de projetos apoiados está o programa Vivenda, que também realiza reformas abaixo do custo para a população carente com um viés sustentável: o programa usa tecnologia verde como aquecedor solar e cisternas para a captação de água de chuva.
“Exemplo de ação que busca soluções para as pessoas, para resolver problemas”, observa Cecília. “Também promovemos o intercâmbio entre instituições para que haja troca de experiências, para que todos possam caminhar e crescer juntos.”