Tomate pesa no bolso e registra inflação de 28,64% em abril
Dados do IPCA, divulgados pelo IBGE, apontam que indicador havia registrado taxa de 31,84% em março, frente a dois resultados negativos anteriores
Economia|Giuliana Saringer, do R7
O tomate é um dos itens que faz parte das refeições da maior parte dos brasileiros e constantemente aparece como um dos violões da inflação. Em abril deste ano, o item registrou alta de 28,64% mesmo que o grupo de alimentos e bebidas tenha apresentado deflação de março para abril — passou de 1,37% para 0,63%.
Os dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) foram divulgados na sexta-feira (10).
Em março, o indicador acelerou para 31,84%, frente a recuo de 5,95% em fevereiro e de 19,46% em janeiro.
A gerente de modernização do mercado hortigranjeiro da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Joyce Oliveira, afirma que o clima impacta bastante nos preços no começo do ano. “Essa variação acentuada de preços do tomate e das hortaliças é característica do primeiro semestre do ano por condições climáticas, como o excesso de chuvas”.
“A tendência é que os primeiros dias de maio já demonstrem uma pequena redução no preço do tomate. Está melhorando a oferta e os preços voltaram a patamares mais baixos”, diz.
Outro fator também observado por Joyce é que os produtores de tomate não conseguiram manter a mesma área plantada de 2018 em 2019, o que impacta na produção e distribuição do alimento.
O especialista em finanças da Faculdade Arnaldo, de Belo Horizonte (MG), Alexandre Miserani explica que uma série de fatores influenciam os altos preços do tomate, como a sazonalidade, a alta procura e a distribuição.
“O tomate, como qualquer verdura, tem uma estação que floresce mais que os outros, mas a demanda do tomate acontece no ano todo”, afirma. Como a demanda pelo item é sempre grande, já que faz parte dos produtos mais consumidos pelos brasileiros, a baixa oferta aumenta os preços.
Falando a respeito da distribuição, Miserani diz que o preço do diesel influencia diretamente o valor do tomate, já que o insumo é transportado, em sua maioria, por caminhões. Quando há aumento no preço do combustível, este é repassado para o frete e para o produto.
Para ele, o “custo Brasil” tem grande papel nos preços, que considera rodovias precárias, condições de financiamento ruins para trocar a frota, preços de combustíveis caros, frete caro, entre outros fatores que mudam a rotina dos caminhoneiros.
Miserani diz que “ninguém fica sem se alimentar, então a demanda sempre existe. Você tem alugueis dos mercados, da venda, o aumento do salário mínimo em janeiro e tudo isso acaba impactando [nos preços e na inflação]”.
Famílias mais pobres são mais impactadas
“O alimento na divisão de custos das famílias mais pobres chega a atingir 45% da renda. É o grande peso na distribuição da renda das pessoas”, afirma Miserani. O especialista comenta também sobre a questão cultural por trás da alimentação dos brasileiros.
Segundo os dados da inflação das famílias de baixa renda (IPC-C1), divulgados pela FGV (Fundação Getulio Vargas) no começo de maio, a tarifa de ônibus urbano (2,12%), o tomate (28,88%), a gasolina (2,65%), a cebola (13,11%) e as refeições em bares em restaurantes (0,46%) foram os itens que mais pesaram para as famílias de baixa renda.
“O brasileiro tem que mudar os costumes. Quando o alimento está muito caro, ele tem que ser substituído. O problema é que temos uma questão cultural forte que temos que consumir os mesmos alimentos”, explica.