Alckmin aumenta repressão policial em protestos contra fechamento de escolas
Quatro pessoas foram detidas nesta manhã, entre elas dois estudantes menores de idade
Educação|Do R7*
A Polícia Militar agiu com violência, na manhã desta quarta-feira (2), em mais um protesto de estudantes contra o fechamento de escolas estaduais anunciado pela gestão do governador Geraldo Alckmin. Em ato na avenida Doutor Arnaldo, na zona oeste da capital, alunos foram retirados à força da via, com golpes de cassetete.
Quatro pessoas foram detidas, dois maiores e dois menores de idade. Um dos menores é estudante da escola Fernão Dias, em Pinheiros, e o outro de uma Etec. No 23º Distrito Policial, um dos estudantes detidos disse ao R7 que o grupo foi preso e agredido quando tentava retornar à via depois de uma liberação para ambulância. A ação teria contrariado acordo feito entre os manifestantes e a Polícia Militar.
As quatro pessoas foram liberadas por volta das 17h. De acordo com a polícia, nenhum deles foi indiciado por crime, apenas prestaram esclarecimentos e foram liberados.
Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) informou que "continuará atuando para impedir que haja dano ao patrimônio público, como o ocorrido em Osasco, ou tumultos e badernas nas ruas, que prejudicam o acesso de milhões de paulistas ao trabalho, estudo e hospitais, como ocorrido na Dr. Arnaldo".
Ainda segundo a pasta, a "Polícia Militar informa que foi chamada, na manhã de hoje, para desobstruir a avenida Dr. Arnaldo, região que abriga o maior complexo hospitalar da América Latina, interditada por um grupo de cerca 80 manifestantes. Houve uma tentativa de negociação até que foi fechado o fluxo nos dois sentidos. A PM solicitou a liberação da via, mas houve resistência. Foi necessário o uso progressivo da força para dispersar os manifestantes".
Mais cedo, um protesto também foi registrado na avenida Giovanni Gronchi, zona sul.
O fechamento de 93 escolas está previsto no projeto de reorganização anunciado pela Secretaria Estadual de Educação em setembro deste ano. Com o objetivo de unir estudantes de um único ciclo na mesma escola, mais de 300 mil alunos devem ser afetados.
Na noite desta terça-feira (1º), um protesto na avenida 9 de Julho, zona sul da cidade, terminou em bombas, bate-boca e quatro detenções. Uma imagem exclusiva da Record mostra dois policiais subindo em uma passarela e agredindo um menor com um golpe de cassetete. O adolescente caiu no chão e foi levantado na sequência. Mesmo sem reação, o policial colocou o cassetete no pescoço do menino, que é estudante da escola Fernão Dias Paes, em Pinheiros.
Autoritarismo e falta de fundamento transformam projeto de Alckmin em mobilização histórica
O pai do aluno agredido pelo policial lamentou o ocorrido: “Eu não bato no meu filho. Chego aqui e vejo meu filho agredido, ainda mais por uma autoridade. Eu acho um absurdo isso”. Segundo ele, os policiais disseram na delegacia que o filho dele e uma colega desacataram e agrediram os policiais.
Ainda ontem, policiais militares reprimiram alunos que ocupam a escola estadual Maria José, no bairro da Bela Vista, região central, após pais e professores quebrarem o cadeado e entraram no colégio na tentativa de desocupá-la. De acordo com a Polícia Militar, outra confusão envolvendo pais e alunos foi registrada na Escola Estadual Doutor Octávio Mendes, na avenida Voluntários da Pátria, em Santana, na zona norte de São Paulo. Pais e alunos que são a favor à reorganização escolar querem a normalização das aulas na escola, que está ocupada por outro grupo de estudantes.
Os protestos contra a medida em curso pelo governo começaram no dia 9 de novembro, quando cerca de 40 alunos da EE Diadema, no ABC Paulista, deixaram as salas de aula e passaram a ocupar corredores e demais dependências da escola. A reação foi seguida por outros alunos e hoje, de acordo com balanço do Apeoesp (Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo), há 207 escolas tomadas pelos estudantes. A Secretaria da Educação confirma manifestações em 191 unidades.
A principal justificativa do governo para a realização da reforma na rede é a suposta melhoria no desempenho dos alunos que passariam a conviver apenas com outros estudantes da mesma faixa etária e nível de conhecimento. Para Vitor Paro, professor da Faculdade de Educação da USP, não há nada que comprove a eficácia da proposta.
— É estapafúrdio, sem nenhum sentido. Vai contra toda a ciência e a teoria da educação, não tem cabimento. A melhor educação é a que tem convivência com jovens, adultos. É bobagem. Isso é ignorância ou má-fé.
Em nota, a secretaria de Educação disse que está aberta ao diálogo com os manifestantes que ocupam "algumas unidades escolares, para que desocupem as escolas e permitam que os estudantes concluam o ano letivo". Ainda no comunicado, a pasta diz que "considera as manifestações legítimas, mas não pactua com o impedimento da maioria dos alunos de assistirem as aulas, tampouco com o cerceamento do direito da população de ir e vir, como vem ocorrendo em algumas das principais vias da cidade. A proposta da reorganização da rede, ao ampliar o número de unidades com ciclo único, é melhorar a qualidade do ensino e aprimorar as condições de trabalho dos professores".
Em coletiva de imprensa realizada no fim de outubro, o secretário da Educação do Estado Herman Voorwald, forneceu dados sobre a reorganização. De acordo com a pasta, 311 mil alunos serão movimentados em 162 municípios. Além disso, o número de escolas com um segmento passará de 1.443 para 2.197; o de dois ciclos irá de 3.209 para 2.635 e as unidades com três segmentos passarão de 479 para 315. Entre as mudanças, o secretário destacou que 2.956 classes que estavam ociosas passarão a ser usadas pela rede.
*Colaborou Victor Labaki, estagiário do Portal R7
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