Brasileiros ganham bolsa vitalícia de fundação financiada por ex- CEO do Google
Estudantes do ensino médio criaram projetos com base em matemática para auxiliar no desenvolvimento local
Educação|Karla Dunder, do R7
Kesney Lucas Ferro de Oliveira nasceu em Alagoas, mas vive em São Paulo desde os 5 anos. Arthur Lopes Constant mora em Contagem, Minas Gerais. Dois meninos brasileiros, bolsistas de colégios particulares, estudantes do ensino médio. Cada um foi contemplado com uma bolsa vitalícia do Rise Global Challenge, programa que é o carro-chefe da Schmidt Futures, fundação criada por ex-CEO do Google, Eric Schmidt e sua mulher, Wendy.
O Rise atende adolescentes brilhantes dos 15 a 17 anos e oferece benefícios ao longo da vida, incluindo bolsas de estudos, mentoria, acesso a oportunidades de desenvolvimento de carreira, financiamento. O programa é válido enquanto os jovens estiverem empenhados em trabalhar para resolver os problemas mais urgentes da humanidade.
Os vencedores brasileiros se destacaram pelos projetos que estão desenvolvendo. Kesney Lucas estudou em escola pública até o 9º ano do ensino fundamental. Conquistou medalhas em competições de conhecimento como Olimpíada de Química e Obmep (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas).
"A Obmep abriu oportunidades reais para a minha vida, tive contato com pessoas diferentes e pude fazer parte de um projeto de iniciação científica com uma coordenadora do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) me falou sobre as bolsas do Ismart (Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos)", conta o estudante.
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O Ismart identifica jovens talentos de baixa renda e concede bolsas de estudo e foi por meio do programa que Kesney conseguiu estudar no Colégio Bandeirantes. Em meio as aulas, cursos de programação e até tutoria de um aluno de Harvard, o adolescente ainda criou o site https://www.futop.ga/, a ideia é compartilhar oportunidades reais com outros jovens, difundir e tornar as informações sobre cursos, olimpíadas e bolsas mais acessível.
"Com a bolsa da Rise, pretendo estudar fora do país em engenharia de software, trabalhar com informações, o que faço agora, mas de maneira mais ampla."
O interesse pela matemática e a Obmep mudaram a vida de Arthur. Bolsista em um colégio particular em Contagem, inspirado na irmã mais velha, o adolescente começou a participar de olimpíadas no 6º ano do ensino fundamental. "Ganhei prata, fui atrás do ouro, passei a fazer as provas por diversão, na escola, o professor me colocava para ajudar outros estudantes, como se eu fosse um monitor."
Arthur também participou do polo de treinamento da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), acordava antes das 6h da manhã e ia acompanhar as aulas aos sábados. "Assistia aula na universidade, convivia com os estudantes de lá, foi uma experiência muito rica."
Em uma das competições, conquistou o ouro, mas a família não tinha condições de arcar com o custo da viagem para Salvador. "A escola pagou a passagem, essa foi a primeira recompensa física que tive por estudar e pensei: 'puxa, eu só estudei matemática e olha onde cheguei'".
Também bolsista do Ismart, neste ano de 2022, ele foi selecionado para um curso de verão na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, a primeira experiência internacional. Mas a premiação da Rise veio por meio de um projeto social que tem a estatísca como base.
"Na UFMG eu li o livro Como Mentir com Estatística, de Darrel Huff e passei a pensar como a estatística pode ser usada para a elaboração de políticas públicas, o censo, por exemplo, pode ser usado para desenvolver programas de acordo com o perfil da população", explica. Arthur estruturou o "projeto.estatística", que promoveu cinco encontros online com cerca de 14 pessoas para discutir sob o viés de dados estatísticos, temas como: fake news, vacinação e políticas públicas.