Educação 'Com meu salário não pago doutorado aqui', diz professora aceita em universidade de Portugal

'Com meu salário não pago doutorado aqui', diz professora aceita em universidade de Portugal

Vivian Alencar decidiu deixar a vida na Brasilândia, periferia de SP, e deve embarcar em agosto deste ano com a família para estudar linguística na Universidade de Coimbra

  • Educação | Alex Gonçalves*, do R7

Vivian, o filho (Samuel), o marido (Angelo) e o pet (Bidu) vão deixar o Brasil

Vivian, o filho (Samuel), o marido (Angelo) e o pet (Bidu) vão deixar o Brasil

Divulgação/Arquivo pessoal

"Com meu salário, eu não consigo pagar um doutorado no Brasil, e os programas de incentivo à pesquisa estão cada vez mais escassos", desabafa a professora Vivian Alencar Carvalho Cunha, que foi aceita na Universidade de Coimbra, em Portugal, para a realização de doutorado em linguística do português, ficando em segundo lugar na disputa — a instituição oferecia apenas três vagas. Vivian também se classificou na Universidade de Lisboa.

Moradora do bairro Jardim Vista Alegre, região da Brasilândia, zona norte de São Paulo, ela, o marido, o filho e o cachorro de estimação embarcam para o país europeu em agosto deste ano, uma vez que o ano letivo se inicia em setembro. "Essa oportunidade só poderia se dar por meio da educação, eu sou uma pessoa simples, professora e moradora da periferia", diz. 

Para ela, fazer um curso fora do país traz muitas vantagens que vão além da formação acadêmica. "Estamos falando de acesso a outra cultura, sobre conhecer lugares e pessoas interessantes, que trazem para nossa vida uma bagagem muito bacana. É o que digo aos meus alunos, a educação nos move e nos permite transitar por espaços jamais imaginados por nós", declara.

No entanto, o que a motivou a deixar o Brasil foi a situação financeira. "Com o que eu pagaria em três meses de mensalidade aqui no Brasil, eu quito um ano de estudo em Portugal", explica. 

Para pôr o sonho em prática, Vivian e a família tiveram de se planejar financeiramente. "No primeiro ano do mestrado, eu vendia brigadeiro aos colegas da faculdade, fazia trabalho de correção de texto e oferecia aula de reforço", conta. "Vendemos até o carro, e ouvi muitos nãos para que hoje pudéssemos ter essa oportunidade."

Professora levará o pet Bidu para Portugal

Professora levará o pet Bidu para Portugal

Divulgação/Arquivo pessoal

Outro fator importante é poder proporcionar ao filho a realização do ensino médio fora do país. 

Para ajudar com as questões burocráticas, a professora conta com o apoio da Estude em Portugal, uma empresa de mentoria internacional. "Quando estamos buscando uma oportunidade em outro país, temos muitos entraves e a distância é um grande dificultador", avalia a professora. "Por melhor que seja a nossa leitura dos editais e sites governamentais, é possível que escape algo que possa embargar todo o processo, e nesse sentido a consultoria tem me ajudado muito."

Vivian sempre batalhou muito e viu na educação um caminho para mudar de vida. "Eu terminei meus estudos no EJA [Educação de Jovens e Adultos], e durante esse tempo fui muito influenciada por uma professora, Cristiane, hoje minha colega de trabalho, e posso dizer que um bom professor pode mudar a vida de uma pessoa, e ela mudou a minha." 

"O conhecimento quebra barreiras, desconstrói conceitos estabelecidos, nos ajuda a ocupar espaços que jamais imaginávamos, e, em um país como o nosso, estudar é um ato de resistência, por isso resista e estude!", conclui.

*Estagiário do R7 sob supervisão de Karla Dunder

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