Como falar sobre a guerra da Ucrânia com as crianças?
Para especialistas o primeiro passo é 'levar a criança a sério', ouvir suas dúvidas e conversar sobre o assunto
Educação|Karla Dunder, do R7
O mundo acompanha em tempo real a invasão russa à Ucrânia, um conflito debatido entre os adultos e que deve ser explicado às crianças. A pergunta é: como falar de uma guerra para os pequenos? Para as especialistas ouvidas pelo R7 o primeiro passo é "levar a criança a sério", conversar e esclarecer suas dúvidas.
"As crianças sempre sabem o que está acontecendo, não podemos ignorar que elas vivem no mesmo mundo que os adultos e estão sujeitas às tensões que vivemos, temos de levar as crianças a sério", observa Ilana Katz, psicanalista e pesquisadora do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo). "É um erro tentar proteger as crianças do que está acontecendo, tudo isso faz parte da história delas, da história de sua época."
Para Ilana, as famílias não devem colocar os filhos em uma bolha, mas devem conversar sobre o conflito. "Cabe as famílias ouvir o que as crianças têm a dizer, responder perguntas e 'amortecer' a maneira de transmitir a informação para que seja possível pensar sobre o que está acontecendo e oferecer elementos para formar uma opinião."
"Vivemos uma pandemia, lidamos com as tragédias climáticas e neste momento lidamos com mais um conflito armado, tudo isso tem gerado ansiedade e angustia e por essa razão é fundamental acolher as emoções das crianças e adolescentes", avalia a psicopedagoga Ivone Scatolin. "A criança não precisa estar exposta a imagens fortes ou ao excesso de informação, mas é fundamental ouvir o que eles têm a dizer, responder as suas dúvidas e abordar uma cultura de paz."
O primeiro passo para ter uma conversa franca é entender o que está acontecendo. "Não é vergonha dizer que não sabe, na verdade, essa é uma oportunidade para pesquisar junto, estimular novas perguntas," explica Ilana. "Cuidar da informação e pensar junto é uma forma de proteger as crianças porque a ensinamos a refletir sobre os fatos."
"O passo seguinte é transmitir de forma clara toda a dimensão da guerra e toda sua complexidade, um bom exemplo é um texto do rapper Mano Brown explicando a guerra na linguagem da quebrada."
E destaca: "A globalização também está nos efeitos da guerra, portanto, todos nós estamos em guerra e por essa razão as crianças devem compreender o mundo em que vivem e devem pensar sobre ele."
Qual o papel da escola nesse debate?
"A escola deve aproveitar o momento e abrir espaço para rodas de conversa e reflexão, discutir a guerra, mas também como lidamos com o outro, como aceitar, como debater", diz Ivone. "A criança pode desenhar para expressar o que está sentindo e vai se acalmando."
Para as especialistas, o debate está ligado ao conteúdo das aulas de história e geografia. "A sala de aula é um ambiente rico, que possui uma diversidade de entendimentos que o mesmo episódio pode ter, sem cair numa discussão maniqueísta, vale trazer elementos que vão furando os preconceitos e formando uma visão crítica sobre a guerra", finaliza Ilana.