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Educação

Covid impactou a educação de 5,5 milhões de crianças no país, diz ONU

Relatório lista 55 medidas para o Brasil superar a crise sanitária e promover a recuperação em curto e longo prazo

Educação|Do R7

Ao menos 147 países fecharam escolas por causa da pandemia
Ao menos 147 países fecharam escolas por causa da pandemia

A estimativa é que 5,5 milhões de crianças e adolescentes tiveram o direito à educação negado em 2020 no Brasil por causa da crise sanitária. A infromação é de relatório divulgado nesta quarta-feira (29), por agências da ONU (Organização das Nações Unidas) e pela Opas (Organização Pan-Americana da Saúde). 

Ao menos 147 países fecharam escolas por causa da pandemia, o que representaria mais de 1,4 bilhão de alunos afetados, ou cerca de 86% da população estudantil mundial. “Se no início da pandemia não foram considerados como grupos de risco direto, são elas, de fato, as vítimas ocultas da Covid-19”, diz o relatório.

Com o título “Covid-19 e Desenvolvimento Sustentável: Avaliando a crise de olho na recuperação”, o trabalho é resultado de uma força-tarefa de especialistas e teve participação do Pnud, do Unicef e da Unesco.

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O documento lista 55 medidas para o Brasil superar a crise provocada pela Covid-19 e promover a recuperação em curto e longo prazo. Entre as sugestões estão priorizar a reabertura de escolas com segurança; garantir renda básica universal; conectar todas as crianças e adolescentes à internet até 2030; e oferecer linhas de crédito verde atrativas e investir em cidades inteligentes. 


No estudo, o grupo analisa repercussões do coronavírus em diversos setores, como saúde, educação, economia e meio ambiente. Em contrapartida, também afirma que o processo de recuperação representaria uma “oportunidade histórica para se reimaginar as sociedades” e “alcançar um futuro melhor para todas e todos”.

Os pesquisadores consideram a pandemia “a pior crise sistêmica já vivida no planeta” desde a criação da ONU. Por causa do cenário, especialistas projetam um recuo global (-0,018) no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano 2020) – a primeira tendência de queda esperada para o indicador desde 1990.


Entretanto, os impactos teriam sido “desproporcionais”, “aprofundaram desigualdades” e dificultaram o “alcance do desenvolvimento humano e sustentável estabelecido pela Agenda 2030 das Nações Unidas” no Brasil e no mundo. “Embora todos os países sejam afetados, sociedades mais desiguais são as que mais sofrem com as consequências”, diz o relatório.

“Os mais vulneráveis – países e populações – têm maior dificuldade de recuperação e o cenário, já complicado (como efeito da crise econômica de 2008), tornou-se ainda mais crítico, já que muitos recursos precisarão ser mobilizados para socorrer as vítimas diretas e indiretas da doença”, afirma.


Para o Brasil, o relatório analisa 94 indicadores de vulnerabilidade e de capacidade de resposta à pandemia, a partir dos quais estabelece as diretrizes da retomada. “Uma recuperação eficaz dependerá de esforços conjuntos para fortalecer os sistemas de saúde, reforçar a proteção social, criar oportunidades econômicas, ampliar a colaboração multilateral e promover a coesão social.”

Para parte das crianças, a suspensão das atividades escolares também repercute na segurança alimentar e acesso à infraestrutura de saúde, água, saneamento e higiene. “Os impactos para crianças e adolescentes podem perdurar por toda a vida”, afirma o estudo. “Sem deixar de lado as medidas essenciais para conter a propagação do novo coronavírus, é preciso ter clareza sobre os impactos do fechamento de escolas por um longo período na aprendizagem, na nutrição – uma vez que muitos deles dependem da merenda escolar – e na segurança de crianças e adolescentes, em especial os mais vulneráveis.”

Outro desafio é o acesso desigual à tecnologia, que pode provocar aumento de taxas de abandono escolar, trabalho infantil e gravidez na adolescência, de acordo com o relatório. “Com o fechamento massivo de estabelecimentos escolares, o ensino remoto mediado por tecnologias apresenta-se como uma alternativa para a continuidade da aprendizagem”, descreve. “No Brasil, 28% das famílias não têm acesso à internet, porcentual que aumenta conforme a renda diminui e chega a 48% em áreas rurais”.

Políticas sugeridas pelos pesquisadores passam por reabrir escolas, estabelecer parcerias para inclusão digital, manter serviços de saúde, além de criar oportunidade de trabalho para jovens entre 14 e 24 anos. “Sem ação coordenada para prevenir, mitigar e responder aos efeitos da pandemia, as consequências para este segmento agora, e para a sociedade como um todo no futuro, serão graves.”

O relatório aponta, ainda, que a pandemia expôs ainda mais a desigualdade no Brasil, com diferenças de acesso à “proteção social, serviços públicos de saúde, emprego e à renda e moradia adequada”. “A proteção social pode ser uma ferramenta crucial não apenas para ajudar as famílias a se manterem à tona no curto prazo, mas também para combater a desigualdade de forma mais ampla”, diz.

Os pesquisadores sugerem foco para eliminar desigualdades. Entre as medidas, estão políticas de transferência de renda e inclusão financeira, estímulos fiscais e investimentos em saneamento universal. “Estima-se que o pacote emergencial do governo federal some um gasto de R$ 524 bilhões, em 2020”, afirma. “Para assegurar uma recuperação resiliente e inclusiva em todos os níveis, o Brasil deve também continuar a enfrentar os desafios do desenvolvimento sistêmico.”

Em paralelo, a recuperação e a resposta ao coronavírus devem estar em consonância com questões climáticas e proteção ao meio ambiente, de acordo com os especialistas. Matriz energética limpa, incentivos à agricultura familiar e investimentos em projetos sustentáveis são iniciativas defendidas pelo relatório. “Muitas dessas soluções têm efeitos em cascata, com benefícios para a saúde e a economia, ao mesmo tempo que criam resiliência a desastres futuros”, diz.

“O Brasil precisa criar uma recuperação que ‘reconstrua melhor’, o que significa não só recuperar de imediato as economias e os meios de subsistência, mas também salvaguardar a prosperidade a longo prazo”, afirma o relatório. “Para isso é necessária uma nova geração de políticas públicas e transformações sociais que facilitem a transição para uma sociedade menos desigual, mais resiliente e com impactos controlados sobre a natureza. O futuro começa hoje, não amanhã.”

* Com Agência Estado

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