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Direita, volver: liberais ganham espaço nas universidades brasileiras

É cada vez maior o número de centros acadêmicos e grupos universitários que se definem como conservadores e de direita

Educação|Karla Dunder, do R7

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Manifestações de 2013 e pró-impeachment foram marcos para a direita
Manifestações de 2013 e pró-impeachment foram marcos para a direita

Os movimentos de direita crescem nas universidades brasileiras? O R7 ouviu especialistas para entender o fenômeno que já conquista centros acadêmicos e ganha a simpatia de milhares de pessoas nas redes sociais.

A página do USP Livre no Facebook conta com 194 mil seguidores. O grupo é composto por estudantes de graduação a pós-doutorado e ex-alunos da universidade. Eles defendem o liberalismo econômico e se definem como conservadores.


Grupos como Unicamp Livre, Unesp Livre, Unilivres - uma associação estudantil que defende o pensamento plural dentro das instituições de ensino - se espalham pelas universidades brasileiras.

Na Universidade de Brasília, o DCE (Diretório Central dos Estudantes) está sob o comando da Aliança pela Liberdade, um grupo que defende o liberalismo clássico (menos intervenção do Estado) e o pragmatismo nas ações.


Para a professora da Universidade de São Paulo e deputada estadual pelo (PSL), Janaína Paschoal, não houve um crescimento do pensamento de direita no meio acadêmico, o que ocorre, segundo ela, “é a coragem de se manifestar. As pessoas viviam esmagadas pelo pensamento dominante de esquerda e hoje elas podem expressar sua opinião”, diz.

“Posso falar da minha experiência dentro da USP, lá todos defendem a legalização do aborto, por exemplo, se alguém questiona se existe o direito do feto, já é motivo suficiente para ser taxado como uma pessoa de direita”, avalia.


No entendimento da professora e deputada, houve uma mudança na postura. “Com a esquerda ou você concorda ou está fora e o correto é que dentro da universidade vários pensamentos possam conviver”.

Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie, concorda com a necessidade de confrontar ideias. “É importante e enriquecedor para o debate intelectual que haja um diálogo respeitoso entre diferentes correntes de pensamento”.


Jovem mostra tatuagem com slogan da ditadura militar
Jovem mostra tatuagem com slogan da ditadura militar

Mas considera que as ideias associadas à direita estão crescendo no país, não apenas nas universidades. “Esse é um movimento pendular da democracia, tivemos o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um social democrata, depois Lula e Dilma Rousseff, do PT, assumiram o país e o conduziram em uma gestão mais à esquerda, a tendência agora é que haja um movimento oposto, a rotatividade do poder faz parte da democracia”.

História e Influência

Para Prando, as manifestações que levaram pessoas às ruas de todo o Brasil em 2013 são consideradas um marco desse movimento de direita. Outro momento importante, foi “durante o movimento de impeachment da presidente Dilma Rousseff quando alguns discursos se radicalizaram até com pedidos para a volta da ditadura, observamos que houve uma mudança de comportamento”.

Nessas manifestações, muitas pessoas vestiam camisetas com a estampa: “Mais Mises, Menos Marx”. O slogan também surge em adesivos colados em carros e faz alusão ao pensamento do economista Ludwig von Mises.

Mises foi um defensor da liberdade econômica e liberdade individual. Também foi um crítico do Socialismo de Marx como sistema econômico. Outro pensador que faz a cabeça dessa moçada é Friedrich von Hayek, também defensor do liberalismo clássico.

Camiseta com slogan neo-liberal
Camiseta com slogan neo-liberal

É esse entendimento liberal de menos interferência do Estado na economia e a liberdade individual acima de tudo que está presente nos discursos desses grupos que crescem nas universidades.

Grupos

É exatamente esse pensamento que dirige as ações da Aliança pela Liberdade, grupo que está no quinto ano à frente do DCE da UnB. Jamile Sarchis, presidente da Aliança, afirma que a “liberdade individual está acima de tudo e deve ser respeitada sempre”.

O grupo surgiu em 2011 após uma série de denúncias de corrupção envolvendo o ex-reitor Timothy Mulholland. “Os estudantes começaram uma greve, mas não conseguíamos falar nas assembleias, não nos deixavam expor os nossos pensamentos”, dessa forma nasceu a Aliança.

“Antes de gritar ‘fora FMI’, temos de ter papel higiênico nos banheiros. Precisamos atender as demandas básicas e agir de forma pragmática – pesquisa está morrendo por falta de recursos, vamos até o Senado pleitear verbas”. Jamile também defende a participação feminina na política.

A Atuação USP Livre também começou após longas greves de funcionários da universidade. “Seguimos outras iniciativas que começaram em outras públicas como a Unicamp Livre e Unesp Livre, o grupo começou em junho de 2016 e ganhou proporções gigantescas”, diz o fundador João Paulo Mesquita.

“Entendemos que o Estado deve cuidar do essencial como saúde e educação e as demais áreas vão para a iniciativa privada”. Mesquita também defende a diversidade de ideias. “É importante ressaltar também que a direita tem várias caras, vários pensamentos e essa pluralidade traz pautas diferentes, o que enriquece o debate.”

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