Dobra número de mulheres negras nos cursos mais nobres do Prouni, mas brancas obtêm mais bolsas
Com pior desempenho no Enem, elas foram historicamente as mais beneficiadas pelo programa: em 2012, tinham 30% das bolsas
Educação|Vivian Masutti, do R7
Um levantamento inédito realizado pela associação Gênero e Número e pela Agência Pública e divulgado recentemente mostra que as mulheres negras ampliaram a participação nos dez cursos mais procurados pelo Programa Universidade para Todos (Prouni), que concede bolsas integrais e parciais de estudo em instituições particulares de ensino superior desde sua criação, em 2004.
A pesquisa considera dados analisados entre 2006 e 2020, quando as matrículas de prounistas negras em cursos como medicina, pedagogia e direito passaram de 15.340 para 31.868.
Rodrigo Bouyer, avaliador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e sócio diretor da BrandÜ Consultoria Educacional e da Somos Young, destaca que o Prouni ainda tem desafios para promover equidade de acesso ao ensino superior privado.
“É muito importante e animador saber que o número de prounistas negras vem aumentando nos últimos anos. Porém, a julgar pelos dados de ingressantes no Prouni divulgados pelo último Censo do Ensino Superior, a proporção de mulheres brancas que conseguiram o benefício foi quatro vezes maior que a de mulheres negras em bolsas integrais. Ou seja, ainda temos um caminho longo a trilhar rumo à desejada equidade de acesso”, diz o especialista.
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Vale lembrar que um estudo divulgado no mês passado pelo núcleo de estudos raciais do Insper, que avalia a desigualdade racial no Exame Nacional do Ensino Médio de 2010 a 2019, apontou que as mulheres negras são as que têm o pior desempenho na prova. E, de todas as regiões, as elas foram pior no Norte, onde a nota média chegou a 460 pontos em 2014.
Talvez por isso elas tenham sido historicamente o grupo demográfico que mais se beneficiou com as bolsas disponibilizadas pelo Prouni. Em 2012, representavam 30% das bolsas – contra 26% de mulheres brancas, 24% de homens negros e 19% de homens brancos.
Durante o período analisado, homens brancos foram o único grupo que apresentou queda proporcional no acesso a bolsas do Prouni, passando de 20% em 2006 para 15% em 2020.
A participação de nordestinas e nortistas negras no Prouni também aumentou no período analisado. Houve um crescimento de 233% no acesso a bolsas por mulheres negras do Norte e de 216% do Nordeste, que concentra a maior população autodeclarada negra do país, de acordo com a PNAD Contínua do IBGE.
O Prouni prevê cotas para ocupação de vagas por pretos, pardos e indígenas de forma proporcional às populações desses grupos demográficos em cada estado.