Inep corrige gabarito de Enem após acusações de racismo em respostas
Questão sobre mulher negra que não queria alisar o cabelo tinha como resposta "demonstra postura de imaturidade"
Educação|Do R7
O gabarito oficial do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) divulgado na quarta-feira (27) foi corrigido, nesta quinta-feira (28), após erros em duas respostas. Na primeira, a alternativa apontada como correta para uma pergunta de interpretação de texto, que dizia que a mulher negra que não queria alisar os cabelos era "demonstrava uma postura de imaturidade".
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No segundo caso, a pergunta afirmava que o Google associava nomes de pessoas negras a fichas criminais por causa da "linguagem" e não pelo "preconceito".
Veja aqui os gabaritos corrigidos
O órgão do Ministério da Educação compartilhou, nesta quinta-feira (28), em suas redes sociais um aviso de que "após revisão feita" nos gabaritos da versão impressa do Enem 2020, "as versões corrigidas foram publicadas no portal da autarquia."
Questionado pela reportagem, o Inep afirmou, por meio de nota, que "após a publicação dos gabaritos oficiais da versão impressa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, foi identificada uma inconsistência no material." De acordo com a autarquia, "uma modificação feita no gabarito após o retorno das provas para o Inep não foi salva no banco de dados. Em função disso, a área técnica providenciou uma revisão no material e o instituto já disponibilizou as versões corrigidas no seu portal."
Mesmo após as correções, muitos estudantes se manifestaram nas redes sociais afirmando que os gabaritos continuam com erros. "Parabéns pela incompetência, emitem uma nota falando que corrigiram todos os 'gabaritos', porém a prova branca está com gabarito todo errado ainda! Falta competência, passando vergonha!", disse uma internauta. "Os gabaritos com divergência de um caderno para o outro. Sejam mais competentes pelo amor de Deus, eu não aguento mais essa ansiedade", publicou outra estudante.
Correções
A primeira pergunta acusada de racismo é parte da prova de inglês e traz um trecho da obra "Americanah", da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichi. No trecho selecionado, duas mulheres negras conversam em um salão de cabeleireiro. A cabeleireira, Aisha, recomenda que a cliente, Ifemelu, faça um alisamento para "ficar mais fácil de penteá-los". A jovem reprova a ideia e diz que gosta do seu cabelo natural, "como Deus o fez".
Na sequência, a cliente diz: "'Não é difícil pentear se você hidratar corretamente', disse ela, assumindo o tom persuasivo do proselitista que ela usava sempre que tentava convencer outras mulheres negras sobre os méritos de usar seu cabelo natural. Aisha bufou, ela claramente não podia entender por que alguém escolheria sofrer pentear o cabelo natural, em vez de simplesmente relaxá-lo", diz o trecho, em tradução livre para o português.
Outra questão também teve a resposta corrigida após acusações de racismo. Na prova de linguagens, a pergunta 43 afirma que, "ao digitar nomes comuns entre negros dos EUA, a chance de os anúncios automáticos oferecerem checagem de antecedentes criminais pode aumentar 25%."
Na pergunta, "o texto permite o desnudamento da sociedade ao relacionar as tecnologias de informação e comunicação com o(a)..." a resposta considerada correta inicialmente era a alternativa c, "linguagens". Mas, após a divulgação do novo gabarito pelo Inep, a resposta divulgada como correta foi a letra d: "preconceito".