Estudante e jovem transformadora Midria Pereira
Millena Nascimento/DivulgaçãoMidria da Silva Pereira nasceu no extremo leste de São Paulo, no bairro Recanto Verde do Sol, próximo à Cidade Tiradentes. Hoje, aos 20 anos, a jovem é poeta, estuda Ciências Sociais na USP (Universidade de São Paulo) e é uma das organizadoras do USPerifa, que leva a cultura dos slams, da disputa de poesia falada, para dentro da cidade universitária.
Como a maioria dos estudantes paulistanos, Midria frequentou uma escola pública, a Escola Estadual Recanto Verde Sol, “uma das piores de São Paulo nas avaliações realizadas pelo governo”, diz. A escola foi uma das dez selecionadas para receber um projeto do Instituto Fernando Braudel com a Fundação Itaú Social. “Eu sempre gostei de ler, mas a partir das atividades extracurriculares e dos livros clássicos, me apaixonei pela leitura e com ela passei a ter uma visão mais crítica da realidade.”
Aos 15 anos tomou consciência da negritude e decidiu não alisar os cabelos. Encrenca garantida com a mãe. “Ela ficou indignada e foram três meses de muita discussão até ela aceitar a minha decisão”. Ali também veio a percepção do racismo presente na sociedade.
Nessa fase, a menina descobriu o Sarau do Vale, uma inciativa de educadores do bairro, que tem como objetivo difundir a poesia, música e intervenções teatrais. Um contato maior com a cultura da periferia.
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A avó, sempre presente, incentivava a continuidade e dedicação aos estudos. “Minha mãe pagava o curso de inglês e eu estudava francês e espanhol por meio de um programa do governo do Estado, fazia um curso profissionalizante de artes gráficas e frequentava as aulas de um cursinho popular aos sábados”, conta.
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O resultado da dedicação foi o ingresso na faculdade de Ciências Sociais da USP. “No primeiro ano, saía da minha casa na zona leste e seguia até a universidade, na zona oeste, e cruzar São Paulo foi uma experiência interessante para observar as desigualdades e a diferença de acesso.”
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Todas essas referências transbordaram quando surgiu a ideia de fazer uma recepção especial para os calouros no primeiro ano que a USP aderiu às cotas raciais. Junto com mais três estudantes da Sociais, organizaram um slam, que reúne poetas que contam apenas com os recursos de voz e corpo para transmitir uma mensagem.
Os campeonatos de slam ou ‘batalha das letras’ tornou-se um acontecimento importante da poesia oral principalmente entre poetas da periferia. Depois da recepção aos calouros, outros convites vieram e hoje Midria integra o USPerifa, que leva essa cultura para dentro da Cidade Universitária. Sua poesia A menina que nasceu sem cor alcançou mais de 7 milhões de pessoas, entre vídeos publicados no Facebook, YouTube e Instagram.
Jovens participam de slam do USPerifa, que divulga a cultura da periferia
Millena Nascimento/DivulgaçãoMidria também é membro do grupo Sociologia em Movimento, que desenvolve oficinas de sociologia em uma escola da rede pública na periferia de Osasco. E é uma das jovens transformadoras da Ashoka, uma Organização Social que destaca a atuação de jovens que impactam positivamente a sociedade.
A jovem estará presente no do programa Escolas Transformadoras, iniciativa realizada no Brasil pela Ashoka e pelo Instituto Alana, que ocorre nesta segunda-feira (26), às 19h30, no Itaú Cultural em São Paulo.
O bate-papo “Equipes de equipes: tecer um mundo de pessoas que transformam”, será mediado por Flavio Bassi, vice-presidente da Ashoka, e terá a participação do escritor e professor Daniel Munduruku, e de Maria Vilani, filósofa, ativista cultural e criadora do CAPSArtes, do bairro do Grajaú, em São Paulo.
Esse encontro também terá relatos e intervenções artísticas de dois Jovens Transformadores da Ashoka, Luan Torres de Moraes, fundador da ONG Casa (Centro de Apoio Social e Ambiental), e de Midria, uma oportunidade para conhecer o Slam da USPerifa.