Na pandemia, alunos indígenas recebem material via aplicativo
Professores das escolas indígenas recebem e traduzem todo material para a língua local, atividades são adaptadas e impressas
Educação|Do R7
Enisandra Garcia escolheu viver na pequena Feliz Natal, no Mato Grosso, uma cidade localizada na região do Parque Indígena do Xingu, que, neste 2021, completa 60 anos de existência. A professora foi uma das pioneiras no processo de implantação de escolas indígenas na região e agora conta como é a realidade dos alunos em meio a pandemia de covid-19.
Fomada em pedagogia pela UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso) e Letras na Unitins (Universidade Estadual do Tocantins), Enisandra participou em 2008 da abertura das escolas indígenas na região. "Foi um desafio muito grande abrir as escolas nas aldeias, o maior anseio era que respeitássemos a cultura local", conta. "Estudamos, pesquisamos a fundo e ouvimos o que a população indígena queria para conseguir organizar as escolas."
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O currículo das escolas indígenas conta com o estudo da língua materna como disciplina e a inserção das práticas culturais locais às matérias de história, geografia e ciências, por exemplo, o que possibilita que estudem períodos de plantio, colheita, celebrações etc. Também costumam trabalhar por projetos.
Além da dificuldade de acesso, para chegar à escola municipal indígena Maraca, por exemplo, Enisandra percorria 475 km de veículo e outros 25 km de lancha pelo rio, havia a preocupação com a formação dos professores. "Hoje já temos professores formados dentro das comunidades, importante porque esses profissionais conseguem manter o tronco linguístico e as tradições vivas."
Durante esse período de pandemia, as crianças vivem outra dificuldade: o acesso à internet. Primeiro pela dificuldade de cabeamento e também porque em alguns locais falta energia elétrica. "Os dados móveis funcionam, mas a conexão nem sempre é boa e como nem todos têm acesso a um aparelho celular, a opção foi o uso do material impresso a todos os alunos que estão acompanhando as atividades à distância", explica.
Enisandra conta que as atividades são enviadas por mensagem de Whatsapp para os professores, que traduzem o material na língua local antes de distribuir para os estudantes.
Atualmente, a educadora faz mestrado online em Tecnologias Emergentes em Educação pela universidade norte-americana Must University. "Busco outros parâmetros e ampliar o uso das novas tecnologias como ferramenta de trabalho e inclusão", encerra.