Quadrilha de Goiás fraudava Enem e vários concursos públicos
Operação prendeu suspeitos de participar do esquema também no DF
Educação|Juca Guimarães, do R7
As polícias civis de Goiás e do Distrito Federal prenderam diversas pessoas na manhã desta segunda-feira (30) suspeitas de participar de uma organização criminosa especializada em fraudar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e outros concursos públicos em vários Estados do País.
De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Civil de Goiás, a suspeita sobre os mentores da quadrilha começou após um concurso para delegado de polícia.
Na manhã de hoje, foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão, oito pedidos de prisão preventiva e 11 mandados de condução coercitiva.
A prova do concurso para delegado, realizada em março deste ano, era muito difícil e várias candidatos "gabaritaram" (acertaram todas as respostas do exame). Investigando os candidatos aprovados com 100% de aproveitamento, a polícia descobriu parte do esquema fraudulento.
A partir daí, foi deflagrada a Operação Porta Fechada para identificar e prender todos os envolvidos no esquema. Parte da quadrilha atua em Brasília. De acordo com a polícia, há evidências que comprovam a fraude no Enem de 2016.
100 vagas fraudadas
De acordo com a Polícia Civil do DF, a quadrilha cobrava um sinal dos candidatos com valor entre R$ 10 mil e R$ 20 mil, além de um complemento correspondente a 20 vezes o salário da vaga. A operação identificou ao menos 100 candidatos aprovados em concursos públicos que compraram a vaga.
"Para pagar a organização criminosa, a pessoa fazia um empréstimo consignado", disse o delegado Adriano Valente.
Para burlar o concurso, a quadrilha usava celulares e pontos eletrônicos no momento da prova. Segundo as investigações, um ex-funcionário da Cespe (Centro de Seleção e Promoção de Eventos), ligado à UnB (Universidade de Brasília), participava do esquema.
O funcionário em questão, que já foi demitido, foi flagrado em vídeo substituindo cartões de resposta dos candidatos que compravam a vaga.
Enem 2017
Os integrantes da organização criminosa estariam se preparando também para fraudar o Enem deste ano, cuja prova está marcada para o próximo domingo (5).
Em comunicado enviado à imprensa, o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pelo Enem, informa que não foi comunicado da operação e que já solicitou informações sobre o caso à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.
O instituto diz ainda que, a partir das informações recebidas, poderá eliminar do exame pessoas que tenham eventualmente se beneficiado no ano passado.
Leia a nota completa do Inep:
"Nota de Esclarecimento
Diante da notícia sobre a prisão, pelas Policias Civis de Goiás e Distrito Federal, de quadrilhas envolvidas em fraudes praticadas contra concursos, entre os quais o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2016, e tentativas para atingir o Enem 2017, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) esclarece:
1. O Inep não foi notificado sobre essa operação, seja para ser comunicado sobre sua realização, já que é o responsável pela aplicação do Enem, seja para prestar alguma informação no sentido de colaborar com as investigações.
2. O Inep oficiou, nesta segunda feira, 30, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, para obter informações em caráter de urgência, sobre o inquérito que resultou na prisão de envolvidos no Distrito Federal e Goiás, especificamente no que diz respeito ao Enem.
3. A partir das informações obtidas e do que for constatado, o Inep tomará as providências cabíveis, delimitando as responsabilidades, eliminando eventuais beneficiários de esquemas de fraudes na edição de 2016.
4. O Inep reitera que todos as medidas para uma aplicação segura e que garanta a isonomia entre os participantes foram adotadas em 2016 com apoio da Polícia Federal, Exército e policias militares dos Estados.
5. O Inep reforçou o esquema de segurança do Enem para a edição 2017. Pela primeira vez, as provas serão personalizadas, com identificação do nome e número de inscrição do participante. Será usado, de forma inédita, um detector de ponto eletrônico. Além disso, todos os requisitos de 2016 foram garantidos, como a identificação biométrica; o detector de metal nas portas dos banheiros; e escoltas para entrega das provas, inclusive, no retorno.
6. O Enem 2017, assim como ocorreu em 2016, é realizado com uma estreita parceria com a divisão fazendária e o serviço de inteligência da Polícia Federal.
Brasília (DF), 30/10/17".