Unicamp quer saber quem são os cientistas que deixaram o Brasil
Pesquisa com apoio da Fapesp quer conhecer quem são e entender quais os motivos de pesquisadores brasileiros migrarem para os Estados Unidos
Educação|Karla Dunder, do R7
Dayson Friaça Moreira estudou Ciências Biológicas na Unesp (Universidade Estadual Paulista), fez mestrado e doutorado em Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (Universidade de São Paulo) e pós-doutorado no Beckman Research Institute - City of Hope em Duarte, na Califórnia. Um currículo acadêmico de dar inveja, mas não garante ao cientista trabalho em pesquisa no Brasil.
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O pesquisador brasileiro trabalha atualmente no Beckman, mesmo laboratório onde fez o pós-doc, com imunoterapia para câncer de próstata, cabeça e pescoço e glioma. “No Brasil, dificilmente teria oportunidade para continuar pesquisando, não tem mercado de trabalho e, aqui nos Estados Unidos, eles precisam de mão-de-obra qualificada”, diz.
Em 2016, a cientista brasileira Suzana Herculano-Houzel ganhou fama internacional ao mostrar ao mundo que a ciência brasileira atravessava um momento difícil. A professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), respeitada internacionalmente por sua pesquisa com o cérebro humano, deixou o Brasil e seguiu para os Estados Unidos.
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Moreira e Suzana fazem parte do grupo de brasileiros que os pesquisadores do Nepp (Núcleo de Estudos de Políticas Públicas) da Unicamp (Universidade de Campinas) chamam de Diáspora Científica Brasileira. Esta pesquisa conta com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
A demanda ao Nepp nasceu do interesse da Embaixada do Brasil em Washington em mapear a diáspora científica brasileira em terras norte-americanas. O objetivo da iniciativa é promover a aproximação entre os profissionais baseados nos EUA com seus pares no Brasil, de modo a conectá-los em rede, facilitando consequentemente a realização de cooperações e intercâmbios científicos e tecnológicos.
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Cabe a pesquisadora Ana Maria Carneiro responder a algumas perguntas como: quem são, onde trabalham e em quais atividades estão envolvidos os brasileiros que vivem nos Estados Unidos e atuam em áreas ligadas à ciência, tecnologia e inovação (CT&I)?
Segundo a pesquisadora, as ações de engajamento com a diáspora brasileira de CT&I se desdobraram em duas grandes iniciativas por parte da Embaixada. A primeira foi o interesse demonstrado junto à Fapesp em promover um estudo aprofundado sobre o tema. “Nós fomos contatados, compusemos a equipe de pesquisadores e preparamos o projeto”, relata Ana Maria. A segunda iniciativa foi a realização, em duas oportunidades (2017 e 2018), de eventos com a participação de brasileiros que trabalham em áreas ligadas à CT&I.
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“Sabemos que mais de 400 mil brasileiros vivem nos Estados Unidos e que pelo menos 30% tem nível superior”, explica Ana Maria. “Observamos que houve um grande crescimento do número de cientistas nos últimos dez anos”.
A pesquisa enfrentará alguns desafios pela frente. O primeiro é entender o histórico, do primeiro cientista até o quadro atual. E também realizar um amplo mapeamento que passa pelos principais motivos que levaram esse contingente a deixar o Brasil.
Além disso, o projeto também fará uma análise sobre as políticas públicas que possam favorecer o engajamento dos integrantes da diáspora científica. “Outra tarefa que pretendemos cumprir é olhar para a experiência de outros países, para identificar iniciativas que possam ser adequadas à realidade do Brasil. É importante lembrar que políticas de engajamento com esse propósito requerem atenção não apenas para o que ocorre externamente, mas também para o que acontece no ambiente institucional doméstico, que precisa igualmente facilitar a interação”, analisa Ana Maria.