Voltar ou não voltar às aulas presenciais? Assunto gera polêmica
Organizações internacionais destacam a importância do vínculo das crianças com a escola. Questão sanitária deve ser levada em consideração
Educação|Karla Dunder, do R7
Voltar ou não voltar às aulas presenciais? O assunto preocupa pais e educadores de todo mundo e a solução não é tão simples. O R7 ouviu especialistas para entender quais os caminhos possíveis.
No início da semana, organizações mundiais como a OMS (Organização Mundial de Saúde), Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura) divulgaram guias com orientações para auxiliar os governos para a retomada das atividades escolares presenciais neste período de pandemia.
Organizações alertam para os impactos do longo período de fechamento das escolas na vida de crianças e adolescentes, e pedem que sejam priorizados investimentos urgentes para reabri-las com segurança, de acordo com a situação da pandemia em cada localidade.
As organizações destacam que os governos devem garantir o direito de crianças e adolescentes à educação.
Ao mesmo tempo, o documento reforça que a reabertura das escolas deve ocorrer com segurança, preservando a saúde de crianças, adolescentes, profissionais da educação e das famílias de todos. Para isso, é fundamental investimento, por parte do governo, em materiais de higiene e estrutura das escolas.
De acordo com o censo escolar de 2018, publicado no ano passado, 50% das escolas brasileiras não estão ligadas a uma rede de esgoto e 20% não tem água encanada.
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Diante desse cenário, como mostra uma pesquisa realizada pelo Itaú Social e Fundação Lemann em agosto, 86% dos pais não se sentem seguros em mandar os filhos para a escola.
O que dizem as especialistas?
Todos as especialistas ouvidas pelo R7 destacam a importância das aulas presenciais e do direito à educação, mas a prioridade deve ser a questão sanitária.
Maria Júlia Azevedo gerente de implementação de projetos do Instituto Unibanco, o período exige muita “flexibilidade” por parte das famílias e dos gestores.
“O Brasil é um país com muitas realidades e qualquer decisão tomada unilateralmente será revista”, observa. “Há situação em que o retorno gradual será possível, mas em outras não, é preciso acompanhar cada realidade e ter consciência de que as decisões não são definitivas neste momento.”
“Para o retorno às aulas, os governos precisam apresentar um plano de segurança sanitária detalhado, políticas públicas concretas e articuladas”, avalia Pilar Lacerda, diretora da Fundação SM e ex Secretária de Educação Básica do Ministério da Educação. “Eu defendo a retomada com segurança, desde que haja condição real para isso.”
“Não adianta ter um protocolo de retorno se não tiver condições de implantar, principalmente de infraestrutura,"destaca Patrícia Mota Guedes, gerente de Pesquisa & Desenvolvimento do Itaú Social. "As pesquisas mostram que as famílias não querem voltar a qualquer custo."
Apesar da insegurança gerada pela pandemia, a pesquisa do Itaú Socail mostra que 38% das famílias tenham receio de que os filhos abandonem a escola, principalmente as famílias mais vulneráveis.
Neste sentido, as escolas e professores têm papel fundamental. O contato promovido via aplicativos de conversa e a busca ativa promovida por muitos tem dado resultado.
“Os professores têm feito a diferença neste momento de pandemia, são eles, que apesar de todas as dificuldades, conseguem manter a motivação dos alunos”, destaca Patrícia.
E para 2021, a expectativa é que o ensino híbrido permaneça. “Vamos ter de aprender com esse modelo e teremos de criar interações de mitiguem o distanciamento”, observa Maria Júlia.
Volta às aulas no Brasil e no mundo
Qual a situação dos estudantes no país? No Amazonas, primeiro estado a retornar, os alunos de escolas particulares voltaram para as salas de aula em número reduzido em julho. No mês de agosto, foi a vez da rede pública de Manaus retomar, gradualmente, as atividades.
Famílias do Rio de Janeiro acompanham um impasse entre as decisões do governo e da Justiça. A prefeitura do Rio publicou um decreto liberando o retorno das aulas no dia 3 de agosto. Três dias depois o MP-RJ (Ministério Público) e a Defensoria Pública conseguiram uma decisão judicial proibindo o retorno.
No dia 4 de setembro, o governo do Estado permitiu o retorno das aulas a partir de 14 de setembro. O Sindicato dos Professores recorreu e as atividades foram suspensas. Três dias depois, uma decisão do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) liberou as aulas. No entanto, na capital, vale a decisão que proíbe a retomada.
Em São Paulo, o governo elaborou o Plano São Paulo, que estabelece regras para a retomada das atividades econômicas no estado. A Secretaria de Estado da Educação liberou o retorno para atividades de reforço a partir do dia 8 de setembro e em 7 de outubro começa a volta às aulas gradual com estudantes do ensino médio seguindo regras sanitárias. A previsão de retorno do ensino fundamental é para o dia 3 de novembro.
Cada município tem autonomia para definir a reabertura das escolas neste período. Na capital, o prefeito Bruno Covas anunciou que a partir do dia 7 de outubro estão liberadas as aulas para universitários e atividades extracurriculares para os estudantes da educação básica, as aulas regulares devem ser definidas em novembro.
Em Belo Horizonte, Minas Gerais, ainda não há previsão de retorno das aulas tanto na rede pública como privada.
A situação em outros países não é muito diferente do Brasil. A França se viu obrigada a fechar mais de 80 escolas em 15 dias devido ao aumento dos casos de covid-19. Situação parecida ocorreu na Espanha, com o aumento de casos após a abertura das escolas.
Em Nova York, nos Estados Unidos, o governo adiou novamente, nesta semana, a retomada das aulas presenciais na rede pública.